Estudo aponta possível efeito protetor da cannabis sobre o fígado em usuários de álcool
Estudo indica que a cannabis pode estar associada a menor risco de danos hepáticos em pessoas com transtorno por uso de álcool
Publicada em 03/11/2025

Uso frequente de cannabis pode reduzir risco de doença hepática alcoólica | CanvaPro
Um estudo recente publicado na revista científica Liver International trouxe um dado curioso: pessoas que fazem uso frequente de cannabis parecem ter menor risco de desenvolver doença hepática associada ao álcool (ALD). A pesquisa analisou informações de mais de 60 mil pacientes diagnosticados com transtorno por uso de álcool (AUD) e observou que aqueles com transtorno por uso de cannabis (CUD) apresentaram cerca de 40% menos chances de desenvolver complicações no fígado.
De acordo com a reportagem do site Marijuana Moment, além de reduzir o risco de ALD, o uso frequente de cannabis também esteve relacionado a taxas menores de descompensação hepática e mortalidade geral, um dado que chama atenção da comunidade médica.
O que a pesquisa observou
Os cientistas utilizaram o banco de dados TriNetX US Collaborative Network, reunindo informações clínicas de pacientes entre 2010 e 2022. Para tornar a análise mais precisa, os participantes foram divididos em três grupos: usuários frequentes (diagnosticados com CUD), usuários ocasionais e não usuários de cannabis.
Após o pareamento estatístico para equilibrar fatores como idade, sexo e condições de saúde, os resultados mostraram que o grupo de uso frequente teve:
- Menor risco de doença hepática alcoólica (HR 0,60)
- Menor risco de descompensação hepática (HR 0,83)
- Menor mortalidade por todas as causas (HR 0,86)
Entre os usuários ocasionais, a diferença foi significativa apenas em relação ao risco de ALD.
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O que diz a medicina
Para a médica Marianna Coimbra, Clínica Geral em Campo Grande/MS, as descobertas reforçam um campo de pesquisa que vem ganhando destaque: o papel do sistema endocanabinoide na saúde do fígado.
“Pesquisas recentes têm mostrado que o sistema canabinóide, também desempenha um papel importante na saúde hepática. Estudos indicam que ele pode se tornar um novo alvo para o tratamento de doenças hepáticas causadas pelo consumo excessivo de álcool”, explica a médica.
Segundo ela, o fígado possui dois tipos principais de receptores canabinóides: o CB1 e o CB2. O primeiro, quando ativado em excesso pelo álcool, tende a favorecer o acúmulo de gordura e a inflamação. Já o CB2 parece exercer uma função protetora, ajudando a reduzir os danos e a fibrose hepática.
“Substâncias como o canabidiol (CBD) mostraram, em estudos com animais, capacidade de diminuir o estresse oxidativo e a inflamação no fígado. Esses resultados sugerem que a modulação do sistema canabinóide pode, no futuro, oferecer novas possibilidades de tratamento para doenças hepáticas relacionadas ao álcool”, complementa Marianna.
Mesmo com os resultados animadores, a médica ressalta que ainda faltam estudos clínicos em humanos para confirmar esses efeitos e definir o uso seguro dessas substâncias.
Associação, não recomendação
Apesar dos resultados promissores, os autores reforçam que o estudo não estabelece uma relação de causa e efeito, ou seja, não é possível afirmar que a cannabis protege o fígado. O levantamento também não detalha o tipo, a dose ou a forma de consumo da planta.
Mesmo assim, o trabalho reacende o interesse no sistema endocanabinoide como possível alvo terapêutico para doenças hepáticas. Pesquisadores acreditam que compostos como o canabidiol (CBD) podem ter efeito anti-inflamatório e protetor, embora ainda faltem estudos clínicos para comprovar isso.
Com informações de Marijuana Moment.



