Após 3 meses de tratamento com cannabis, paciente com fibromialgia que recorria à morfina vê as dores sumirem

Lorena Barreto: “O tratamento foi um divisor de águas na minha vida: não sinto mais nada. Hoje não me vejo mais sem o óleo"

Publicada em 23/11/2020

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CAROLINE VAZ (texto) e CHARLES VILELA (edição)

Há 7 anos, Lorena Barreto, de 54 anos, luta contra as fortes dores decorrentes da fibromialgia. A doença é uma síndrome de causas ainda desconhecidas e que pode provocar dores fortes por todo o corpo durante muito tempo ou sensibilidade nas articulações, nos músculos e nos tendões. Desde 2010, quando começou a sentir os primeiros sintomas, ela buscou pelo diagnóstico da doença. No entanto, por ser uma enfermidade desconhecida na época e confundida com doenças de pele populares, o diagnóstico ocorreu somente três anos depois, em 2013. 

Por conta das dores e do enorme desconforto que sentia na pele e em todo o corpo, sua vida se transformou. Por exemplo, ela não tinha mais um bom desempenho no trabalho por conta das noites em claro; suas articulações das mãos, pés e joelhos foram comprometidas, fazendo com que ela não conseguisse se movimentar. Além disso, o estresse causado pela doença passou a afetar suas relações familiares e sociais. “Eu estava me tornando uma pessoa intolerante, que estava sempre reclamando", conta. "Nem eu queria estar comigo.”

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Pelo fato de a fibromialgia não possuir nenhum tratamento paliativo ou específico, Lorena fazia uso da morfina para diminuir as dores. Contudo, isso acabava por comprometer ainda mais sua qualidade de vida. Ela ficava “grogue” por, no mínimo, 3 dias após tomar o medicamento. Assim, era um dilema difícil: ficar sem dor, porém extremamente debilitada, ou sentir aquela dor profunda que resultava em mau humor e num alto nível de estresse.

Primeiro contato com Cannabis Medicinal foi quando morava no exterior

Foi em 2013, quando morava em Boston, nos Estados Unidos, que ela descobriu a Cannabis medicinal. Já naquela época, o estado norte-americano contava com lojas, em que o produto era vendido a granel, dentro de vidros onde o próprio vendedor da loja recolhia a planta para o paciente a partir do que seu médico havia prescrito. Mas, por ser brasileira, Lorena não conseguiu acesso ao medicamento por questões legais. 

Naquele momento, sobretudo, ela viu sua doença se agravar com as doses de morfina sendo cada vez maiores e mais frequentes. Foi quando ela decidiu buscar de empresas, associações ou startups que poderiam ajudá-la a acessar a Cannabis medicinal. Através de pesquisa na internet, Lorena encontrou o CEC (Centro de Excelência Canabinoide) e marcou uma consulta com o doutor Pedro Pierro, neurocirurgião do CEC e diretor científico e sócio do Sechat.

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Autorização da Anvisa para compra do medicamento de Cannabis foi rápida

“De todas as empresas que encontrei, o CEC foi a que me fez sentir mais segura e acolhida”, comentou Lorena sobre o centro. Quanto à autorização da Anvisa para a importação do óleo de canabidiol, a paciente conta que foi mais simples e rápido do que imaginava. “Entrei com o pedido no final de maio e fui autorizada super rápido. É um procedimento simples em que você faz a solicitação no site da Anvisa de alguns documentos e após 10 a 12 dias eles entram em contato autorizando, ou não, seu pedido.”

O primeiro medicamento solicitado não surtiu efeito na fibromialgia de Lorena. Então, numa segunda consulta com o doutor Pedro, foi decidido mudar o medicamento, que agora é de origem brasileira e fornecido pela ABRACAM (Associação Brasileira de Cannabis Medicinal).

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Três meses após o início do uso do medicamento, Lorena já não sentia mais nenhuma dor, suas articulações hoje funcionam normalmente e ela recuperou os movimentos que antes eram debilitados. "O tratamento foi um divisor de águas na minha vida: não sinto mais nada. Hoje não me vejo mais sem o óleo. A dor sumiu, não sinto mais nada. Minha qualidade de vida era muito ruim e eu tinha muito medo do futuro. Se com 54 anos eu estava daquela forma, imagina com 60? Tinha medo de acabar em uma cadeira de rodas com alguém dando comida na minha boca", disse.

Em relação à compra do medicamento, Lorena conta que é ela quem arca com as despesas, mas que seu próximo passo será solicitar que o custeio se dê através do SUS, uma vez que o preço do óleo é muito elevado e ela precisará utilizá-lo pelo resto da vida. “O CEC está me dando muito apoio, estão me orientando e me dando o caminho, porque, normalmente, a gente não tem onde se informar e pedir ajuda, então o auxílio da clínica é muito necessário e eles são ótimos nisso”, comenta ela em tom de gratidão ao centro.

Para ela, são os medicamentos convencionais, que são facilmente acessados, que debilitam e viciam; e não a Cannabis Medicinal

Para Lorena, a legalização do uso é a melhor regulamentação da Cannabis medicinal e isso é essencial que venha a acontecer. Contudo, é preciso quebrar o paradigma que existe na sociedade sobre o tema, visto que muitas pessoas podem ter uma qualidade de vida melhor com algo tão simples que é a planta, mas que o acesso é muito difícil. “O que as pessoas não sabem é que perigosos são os remédios vendidos nas farmácias, que te deixam debilitada e viciada. Esse país precisa olhar para as necessidades dos pacientes e não só para o interesse financeiro da indústria farmacêutica, que não quer permitir que um tratamento com canabidiol seja propagado”, contextualiza ela.