Cânhamo pode proporcionar momento histórico para o agronegócio brasileiro

Marcelo De Vita Grecco defende que o cânhamo industrial pode ser uma nova commodity para o Brasil, podendo ser comparada a outras como soja, cana de açúcar, milho, café e algodão, que atualmente são responsáveis por ganhos de dezenas de bilhões de re

Publicada em 26/11/2020

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Coluna de Marcelo De Vita Grecco*

Quantas vezes na vida podemos ver o nascimento de algo tão especial que pode marcar um setor e representar a chance de dar novo fôlego à economia e aumentar a prosperidade de um país? Definitivamente, isso não acontece sempre. Porém, essa oportunidade bate à porta do Brasil neste exato momento, com o potencial que temos a partir do cultivo do cânhamo, previsto pelo Projeto de Lei 399/2015, que contempla o plantio da planta para uso industrial em seu texto.

Para chegar a esse marco para o País, penso além do cultivo e imagino a criação de uma nova commodity com a produção de cânhamo. Apenas para ficar na agricultura, o Brasil ganha por ano mais de R$ 40 bilhões com a soja; supera os R$ 7 bilhões por meio da cana de açúcar; fatura acima de R$ 4 bilhões, tanto com milho quanto café; e ultrapassa R$ 1,5 bilhão com o algodão.

Essa oportunidade bate à porta do Brasil neste exato momento, com o potencial que temos a partir do cultivo do cânhamo, previsto pelo Projeto de Lei 399/2015, que contempla o plantio da planta para uso industrial em seu texto

Acredito fortemente que o cânhamo pode seguir o mesmo caminho e o Brasil só tem a ganhar com isso. Esse entendimento é baseado em fatos concretos, pois temos áreas agricultáveis disponíveis e a posição geográfica do Brasil é muito favorável em relação às condições climáticas para a cultura. Se considerarmos potencial econômico, o Brasil já deveria estar se preparando. Levantamento do Bank of Montreal aponta que a movimentação gerada pelo mercado global da planta passará de US$ 18 bilhões, aferido em 2018, para US$ 194 bilhões em 2026, crescimento de aproximadamente 1.000% em oito anos. Já o banco britânico multinacional Barclays sinaliza que o valor desse mercado global pode chegar a US$ 272 bilhões em 2028.

O Brasil ganha por ano mais de R$ 40 bilhões com a soja; supera os R$ 7 bilhões por meio da cana de açúcar; fatura acima de R$ 4 bilhões, tanto com milho quanto café; e ultrapassa R$ 1,5 bilhão com o algodão. Para Grecco, o mesmo poderá acontecer em relação ao cânhamo industrial (Foto: Harrison Haines/Pexels)

Acredito fortemente que o cânhamo pode seguir o mesmo caminho e o Brasil só tem a ganhar com isso. Esse entendimento é baseado em fatos concretos, pois temos áreas agricultáveis disponíveis e a posição geográfica do Brasil é muito favorável em relação às condições climáticas para a cultura

Contudo, o Brasil somente conseguirá explorar todas as oportunidades em torno do cânhamo industrial se o primeiro elo da cadeia, ou seja, o produtor agrícola se engajar no cultivo. Por este motivo, o País precisa criar uma estratégia para explorar essa nova commodity o quanto antes.

Isso significa fomentar a formação de infraestrutura para o mercado e para o produtor. A Embrapa pode, mais uma vez, exercer papel transformador, indicando melhores técnicas e práticas de cultivo, além de proporcionar inovação com avanços genéticos.

Para o empreendedor do campo, trabalhar uma commodity também significa um pouco mais de segurança. Os produtores rurais lidam com muitos riscos, além de uma logística de escoamento da produção bastante complicada no País.

Nesse sentido, uma commodity com regulamentação federal oferece maior estabilidade e minimiza volatilidades, considerando melhores condições para precificar e pagar, negociação na forma de derivativos, além da possibilidade de contratos futuros para produções das safras seguintes. Esse conjunto pode ser determinante para os agricultores. Adicionalmente, pensar o cânhamo como commodity encurta a distância para o amadurecimento do mercado, com relacionamento mais aprofundado entre vendedores e compradores e profissionalização das transações por meio de plataformas específicas. Trata-se de uma mudança de status não só para produtores, mas para todo o mercado, incluindo agentes financeiros, investidores e seguradores.

Adicionalmente, pensar o cânhamo como commodity encurta a distância para o amadurecimento do mercado, com relacionamento mais aprofundado entre vendedores e compradores e profissionalização das transações por meio de plataformas específicas. Trata-se de uma mudança de status não só para produtores, mas para todo o mercado, incluindo agentes financeiros, investidores e seguradores

Paralelamente, a commodity também impulsiona a padronização da produção e aumenta a qualidade, beneficiando toda a cadeia de processamento, desde laboratórios farmacêuticos, interessados no canabidiol, as outras vertentes de aproveitamento industrial do cânhamo. Em última análise, ganha também o consumidor final dos produtos.

Planejar o cânhamo como nova commodity brasileira seria um movimento inteligente. Claro que esse é só o primeiro passo. Uma estratégia vencedora para explorar todo o potencial da planta envolve saber o que fazer com a commodity, mas isso é assunto para outro artigo.

*Marcelo De Vita Grecco é cofundador, head de Negócios da The Green Hub e colunista do Sechat

As opiniões veiculadas nesse artigo são pessoais e não correspondem, necessariamente, à posição do Sechat.

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