Cannabis medicinal acaba com crises de dor em capixaba praticante de jiu-jitsu
O caso de Tales Loss (C), que sofre com uma doença autoimune, a espondiloartrite – que causa inflamações e crises de dores intensas -, foi um dos que inspirou a fundação da primeira associação de pacientes no Espírito Santo
Publicada em 18/12/2020
Caroline Vaz (texto) e Charles Vilela (entrevista e edição)
No final de 2017 foi quando Tales Loss, hoje com 19 anos, sofreu com a primeira crise. Durante um treino de jiu-jitsu, que ele pratica desde 2015, foi surpreendido com fortes dores na coluna, que o deixaram imobilizado. “Eu não sabia o que estava acontecendo, achei que era uma lesão comum da luta, então fiquei até março de 2018 treinando e, quando eu tinha as crises, ficava uma semana parado me recuperando e depois voltava. Em março foi quando eu tive minha primeira crise que nunca mais passou. Por conta dela, sinto dor na lombar até hoje”, comentou o jovem. As crises de dor fizeram com que Tales não comparecesse a diversas aulas do curso de Engenharia Ambiental na Universidade Federal do Espírito Santo.
A partir daí, Tales decidiu procurar alguns médicos para entender melhor sua situação. Ele conta que passou por dois ortopedistas, que não souberam diagnosticar sua doença. O segundo profissional o encaminhou a uma reumatologista, com quem iniciou o acompanhamento no final de 2018. Ainda com dores, Tales continuou praticando jiu-jitsu e, no início do 2019, teve sua segunda grande crise, no esterno - osso da parte anterior da caixa torácica, e a que estão ligadas as costelas -, que o impedia de respirar e comer direito.
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O diagnóstico veio apenas em outubro de 2019, quase 2 anos depois do início das dores, depois da realização de 8 ressonâncias magnéticas: Tales sofre com uma doença autoimune, a espondiloartrite. Segundo a médica reumatologista que o indicou o medicamento convencional, as dores deveriam sumir completamente. Mas não foi isso que aconteceu: as dores diárias e, principalmente, as crises, continuaram fazendo parte da vida do rapaz.
Por conta da ineficácia do medicamento biológico, Tales decidiu procurar amparo na medicina alternativa, com a Cannabis medicinal. “Em janeiro desse ano eu decidi conversar com meu irmão sobre a cannabis. Pesquisei bastante e vi alguns casos parecidos com o meu, que a planta estava ajudando. No mês seguinte ele conseguiu um óleo via não prescritiva, de um produtor artesanal.” Em março, Tales teve uma consulta com um médico prescritor, que o indicou o óleo Full Spectrum 1:1 CBD:THC, que, desde então, ele usa três vezes ao dia.
Pelo fato das crises e dores intensas se manifestarem apenas em momentos de realização de esforço físico excessivo ou quando está repousando, ele não conseguiu observar, de forma clara e rápida, os efeitos da Cannabis medicinal, visto que, durante o período de quarentena, as atividades físicas que realizava haviam sido interrompidas. “Quando eu não estou treinando eu continuo sentindo dor todos os dias, mas o que me preocupa são as crises que me deixam imobilizado. Se eu faço exercício físico, minhas dores diminuem, mas se eu exagero neles, elas aumentam bastante”, comenta. Por isso, mesmo que as crises de dores tenham sido sanadas com a cannabis, os efeitos da planta durante a rotina normal de Tales, que conta com lutas e outros exercícios físicos, ainda não foram conclusivos.
Foi nas crises de dores, condição que mais preocupava Tales e onde via o maior sofrimento, que a Cannabis medicinal teve seu maior efeito. “Depois de quatro, cinco meses utilizando o óleo eu percebi que não havia tido mais nenhuma crise de dor. Então, hoje não tenho mais crises, que é o que realmente me atrapalhava, mas ainda sinto dores diárias, mas que também diminuiram”. Além dos efeitos positivos do óleo nas crises, ele aponta, também, que viu suas dores no esterno sumirem, a qual era extremamente forte e debilitante.
Hoje Tales enxerga que o exercício físico é necessário para sua condição de saúde, mas deve ser feito com cautela. “Há uns anos eu era um pouco inconsequente, treinava o dia inteiro e isso o corpo não aguenta, e foram aí que começaram minhas crises de dor. Hoje eu sei que devo ouvir e respeitar meu corpo”, admite.
Sobre a convivência com a dor diária, Tales comenta que, por mais estranho que seja, se acostumou com ela. “Eu acredito que se você ficar batendo de frente com a dor, ela sempre vai ganhar, então é preciso andar ao lado dela e saber como controlá-la”. Ele ainda acrescenta que espera melhorar ainda mais, e tem metas para que, em 2021, volte a treinar tomando todos os cuidados necessários.
A histórica de Tales com a Cannabis medicinal inspirou seu irmão mais velho, Jeterson Loss, a criar a Associação de Cannabis Medicinal Capixaba (ACAMC), primeira associação sobre o assunto no Espírito Santo, que iniciou suas atividades em novembro. O objetivo da associação é preencher a falta de conhecimento e auxílio no acesso à cannabis medicinal que, antes, era uma realidade do estado.
Segundo Tales, associações como a que seu irmão participa são necessárias para que o paciente possa obter um direcionamento correto que simplifique ao máximo o acesso ao atendimento e ao medicamento. “Além disso, a associação passa, também, as informações necessárias de que a Cannabis medicinal pode trazer benefícios à saúde e ajuda a acabar com o preconceito que muita gente ainda tem.”
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