Brasil se prepara para avançar no mercado de cannabis; erros e acertos dos EUA podem indicar o caminho
Especialistas apontam que experiência dos EUA pode acelerar desenvolvimento nacional
Publicada em 01/09/2025

Imagem ilustrativa: Canva Pro
O Brasil está prestes a inaugurar uma nova fase no mercado de cannabis. A definição das regras para o cultivo de cânhamo de baixo teor de THC, que será entregue pelo Governo até 30 de setembro de 2025, abre caminho para que o país se torne um protagonista global na produção e no desenvolvimento da planta.
Enquanto os Estados Unidos consolidam sua posição como pioneiros na indústria, especialistas avaliam que a experiência norte-americana pode servir de guia para evitar erros e acelerar o avanço brasileiro.
Aprendizado internacional

Para Rafael Redwood, fundador da USA Hemp e especialista em cânhamo medicinal e desenvolvimento de produtos, o pioneirismo dos EUA trouxe tanto vantagens quanto desafios. “Fomos os primeiros a levar esta indústria a sério em larga escala. Mas ser o primeiro também significa pavimentar o caminho com erros e acertos. O Brasil pode aprender com as nossas falhas”, afirma.
Redwood avalia que o Brasil vive um momento estratégico com a chegada da regulamentação. “O país tem potencial para ser líder desta indústria. A participação do governo federal, o incentivo à pesquisa e a aceitação pública são fatores que podem impulsionar essa nova fase do mercado”, destacou.
Segundo ele, há uma diferença relevante de perspectiva entre os dois países. “Nos Estados Unidos, o olhar é voltado para o dinheiro. No Brasil, vejo mais atenção à pesquisa e ao entendimento da planta. Isso mostra amor e potencial. Aqui a paixão é maior que o dinheiro”, complementou.
Acompanhe trecho da fala de Redwood:
Mercado global e norte-americano
O setor mundial mostra bons "ares" para o Brasil. Nos Estados Unidos, a produção alcançou US$ 445 milhões em 2024, com alta de 40% em relação ao ano anterior, segundo dados oficiais. A safra registrou 45 mil acres plantados e 32 mil colhidos, crescimento de 55%.
No cenário internacional, o mercado global de fibras de cânhamo movimentou cerca de US$ 11 bilhões em 2024 e deve atingir US$ 36 bilhões até 2030, com taxa de crescimento anual de 22%, segundo a consultoria MarkNtel Advisors.
Já o relatório Cânhamo: a Commodity do Futuro, publicado em 2024 pelo Instituto Ficus, aponta que o setor movimentou US$ 7 bilhões em 2023 e pode alcançar US$ 25 bilhões até 2033, com avanço anual de até 24,5%.
Entre os usos estão materiais de construção, bioplásticos, fibras têxteis e alimentos funcionais. A Europa, por exemplo, ampliou em 32% suas importações de fibras de cânhamo entre 2014 e 2023. Atualmente, 21 países produzem a cultura em escala comercial, com destaque para China e França.
Oportunidade estratégica para o Brasil
As condições climáticas e de solo colocam o Brasil em posição privilegiada para desenvolver a cadeia produtiva do cânhamo. O relatório do Instituto Ficus estima que a planta pode regenerar até 28 milhões de hectares de pastagens degradadas, consumindo 75% menos água que o algodão e capturando até 16 toneladas de CO₂ por hectare ao ano.
A demanda nacional também cresce rapidamente. Entre 2023 e 2024, o consumo de produtos à base de cânhamo, como o CBD, avançou 124%. O estudo recomenda a autorização do cultivo com limite de 0,3% de THC — alinhado aos padrões internacionais — além de investimentos em pesquisa, infraestrutura de beneficiamento e campanhas de conscientização para superar o estigma cultural.
O movimento já atrai empresas internacionais. A USA Hemp Pharmaceuticals inaugurou recentemente sua sede latino-americana em Goiânia (GO), após investimento de R$ 5 milhões.
A unidade reúne diretoria, equipe de vendas, salas de treinamento, espaço para educação médica e centro logístico. Atualmente, conta com cerca de 40 colaboradores, com novas contratações previstas para os próximos meses.