Composto derivado do cogumelo pode ajudar no tratamento do alcoolismo
A pesquisa, que avaliou 93 pessoas com dependência alcoólica, mostrou que 83% dos participantes reduziram o consumo excessivo de álcool
Publicada em 05/10/2022

Por João R. Negromonte
Um estudo publicado no último dia 24 de agosto na revista Jama Psychiatry, mostrou que a ingestão de doses de psilocibina, composto derivado de alguns cogumelos, reduziu o consumo de álcool em cerca de 83% dos voluntários pesquisados. O projeto liderado por pesquisadores da Grossman School of Medicine da NYU - sigla em inglês para Universidade de Nova Iorque - observou como o organismo de 93 dependentes de álcool reagiu ao uso medicinal da substância psicodélica.
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A metodologia foi a seguinte:
- > Os pacientes foram aleatoriamente separados;
- > Um montante recebeu duas doses de psilocibina, enquanto o outro um placebo, isto é, composto que não apresenta qualquer interação com o organismo;
- > O estudo foi realizado de modo duplo-cego, quando nem o pesquisador nem o objeto de estudo tem ciência da substância que está consumindo.
Assim, depois de oito meses do início do tratamento, os cientistas perceberam que o grupo que havia recebido psilocibina apresentou uma redução de mais de 80% no consumo regular de álcool. Enquanto aqueles que não receberam a substância, atenuaram o uso em 51%. Outro ponto importante, é que quase metade do grupo que utilizou a psilocibina (48%) parou de beber completamente, em comparação aos 24% do grupo placebo.
Para um dos autores principais do estudo, o professor Michael P. Bogenschutz: “As descobertas recentes sugerem fortemente que a terapia com psilocibina é um meio promissor de tratar o transtorno por uso de álcool, doença de difícil gerenciamento”.
Terapia psicodélica
Atualmente, algumas clínicas espalhadas em todo mundo, inclusive no Brasil, oferecem a terapia psicodélica como alternativa de tratamento para algumas doenças, como transtorno depressivo, propensão ao suicído e também, dependência química, como no estudo citado anteriormente. A psilocibina, por exemplo, penetra os obstáculos emocionais e problemas de longo prazo dentro de um paciente.
Sob os cuidados de um profissional médico previamente habilitadol, as pessoas ingerem a substância psicodélica em um ambiente seguro e controlado enquanto são vigiados por terapeutas capazes de explorar traumas profundos que muitas vezes nenhum tratamento convencional é capaz de alcançar.
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As pesquisas com psicodélicos tiveram início nos anos 20, quando médicos, cientistas e historiadores tiveram um contato mais profundo com algumas substâncias. Já nos anos 70, os estudos foram proibidos, criando uma lacuna temporal nas descobertas. Contudo, voltou a florescer no final do século passado. De acordo com dados da Web of Science, a escalada iniciada no início dos anos 90 superou a marca de 700 publicações sobre os psicodélicos em 2019.
Desse modo, após a volta dos estudos os médicos vêm explorando a eficácia da psilocibina, destacando seus benefícios para patologias relacionadas com transtornos neurológicos.
“Estamos muito encorajados por essas descobertas e esperançosos sobre onde elas podem levar”, disse Bogenschutz a respeito dos resultados em uma entrevista coletiva de apresentação do estudo. “Foi muito significativo e gratificante fazer este trabalho, é inspirador testemunhar as notáveis recuperações que alguns de nossos participantes experimentaram.”
Apesar de alguns desafios em que a pesquisa esbarrou, como 90% dos pesquisados descobriram a qual grupo pertenciam (placebo ou psilocibina) e a não continuação do estudo após 32 semanas, quando há um maior índice de recaída dos pacientes, o Dr. Bogenschutz espera que estudos futuros explorem a eficácia da psilocibina no tratamento do alcoolismo. “Não estou dizendo que todo mundo gostaria ou deveria tomar psilocibina se tiver transtorno por uso de álcool”, diz o pesquisador que conclui: “Mas acho que seria uma nova opção que tem efeitos relativamente grandes, que são duradouros e não exigem que você tome medicamentos todos os dias ou regularmente.”
Conheça alguns cogumelos com psilocibina
Os cogumelos alucinógenos, também conhecidos como cogumelos mágicos, são tipos de fungos que crescem nos solos e que possuem substâncias psicoativas capazes de promover alterações em regiões do cérebro e alterar a percepção da pessoa sobre as coisas que estão à sua volta. Os principais cogumelos com efeitos psicoativos são Psilocybe cubensis e Panaeolusspp., apesar da espécie Amanita muscaria ser a mais popularmente consumida.
Entretanto, poucas pessoas sabem realmente como são e quais as fontes primárias destas substâncias. Por isso, trouxemos aqui sete espécies que contém a psilocibina, composto citado no estudo da NYU.
Confira a lista: