"Cuidar da saúde bucal é também cuidar do equilíbrio de todo o organismo", afirma a cirurgiã-dentista Monique Xavier

Dentistas discutem uso terapêutico da planta em módulo exclusivo no 4º Congresso Brasileiro da Cannabis Medicinal

Publicada em 10/05/2025

"Cuidar da saúde bucal é também cuidar do equilíbrio de todo o organismo", afirma a cirurgiã-dentista Monique Xavier

Imagem Ilustrativa: Canva Pro

Aos poucos, a cannabis medicinal começa a ganhar espaço também nos consultórios odontológicos. Além do uso tradicional para o alívio da dor e inflamação, estudos e experiências clínicas mostram que a planta pode atuar no controle da ansiedade, estímulo à regeneração óssea e até no combate ao biofilme bacteriano.

Essa nova fronteira terapêutica será o tema do módulo "Odonto Cannabis" no 4º Congresso Brasileiro da Cannabis Medicinal, que acontece de 22 a 24 de maio, em São Paulo.

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Cirurgiã-dentista, Monique Xavier de Sousa. Imagem: Arquivo pessoal

A cirurgiã-dentista Monique Xavier de Sousa, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Odontologia Canabinoide (SBOCAN) e palestrante confirmada no evento, explica que a cannabis pode ser usada desde o preparo do paciente até o pós-operatório.

“Pode ser utilizada de forma preventiva e como primeira escolha terapêutica, desde que haja consenso entre paciente e profissional. O objetivo é um atendimento mais tranquilo, com menos efeitos colaterais, especialmente em comparação com os medicamentos convencionais”, afirma.

Segundo Monique, os fitocanabinoides interagem com o sistema endocanabinoide, que regula funções como dor, humor e inflamação, influenciando também outros sistemas. “Equilibrar a saúde bucal pode significar, também, equilibrar o organismo como um todo”, pontua.

 

Domínio da farmacologia é a chave

 

Apesar do potencial terapêutico, o uso de cannabis na odontologia exige conhecimento técnico e responsabilidade. Monique destaca que os canabinoides podem interagir com diversos medicamentos:

“Eles têm ação retrógrada, ou seja, modulam a comunicação entre neurônios. Isso pode interferir na ação de outras substâncias, o que torna indispensável o domínio da farmacologia por parte do cirurgião-dentista”.

Ela reforça ainda a necessidade de atuação multidisciplinar, principalmente quando o paciente já está sob outros tratamentos médicos. Como situações de risco, cita a sedação multimodal e procedimentos fora da competência odontológica.

 

Formação contínua e baseada em evidências

 

Outro ponto de grande importância para o prescritor de cannabis é a constante evolução dos seus conhecimentos. Atualmente, não há protocolos clínicos oficiais consolidados sobre o uso da cannabis em consultórios odontológicos, o que denota ainda mais responsabilidade ao dentista.

Para Monique, esse cenário reforça a necessidade de estudo contínuo e prática responsável. “É preciso avaliar caso a caso e entender se a cannabis pode potencializar ou inibir outros fármacos em uso. Felizmente, temos hoje uma quantidade significativa de literatura científica que apoia a tomada de decisão clínica”.

 

Evento reunirá especialistas em cannabis medicinal no Brasil


 

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Congresso Brasileiro da Cannabis Medicinal 2024. Imagem: Arquivo Sechat

Considerado o maior evento da América Latina sobre uso terapêutico da planta, o 4º Congresso Brasileiro da Cannabis Medicinal reunirá em 2025 mais de 100 palestrantes nacionais e internacionais e espera receber cerca de 1.200 profissionais da saúde.

O último dia do evento (24 de maio) será dedicado exclusivamente aos profissionais da área, com destaque para o módulo Odonto Cannabis, que mostrará como a cannabis vem sendo aplicada na prática odontológica — desde o controle da dor e ansiedade até terapias com foco em regeneração tecidual. A programação acontece no Expo Center Norte, em São Paulo, com atividades presenciais e transmissão online.

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O ingresso do Congresso também garante entrada na Medical Cannabis Fair, evento paralelo que se consolida como o mais relevante do país para profissionais da saúde, pesquisadores e empresas do setor.

O papel do dentista no uso da cannabis medicinal

 

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Palestra durante o Congresso Brasileiro da Cannabis Medicinal. Imagem: Arquivo Sechat


Para os cirurgiões-dentistas, trata-se de uma oportunidade única para compreender os caminhos regulatórios, acompanhar os avanços científicos e se destacar em um mercado que começa a se consolidar com inovação e responsabilidade.

“Ainda existe desconhecimento dentro da nossa classe. Muitos colegas não compreendem que o dentista atua em um sistema conectado ao sistema nervoso periférico e central. Não cuidamos só de dentes”, enfatiza Monique.

Ela reconhece a existência de receio em prescrever cannabis, mas afirma que esse cenário está mudando:

“Produzimos pesquisas, disseminamos conhecimento e mostramos que é possível transformar a qualidade de vida dos pacientes com responsabilidade e embasamento científico”, conclui.