De Marte à cannabis: ex-engenheiro da NASA cria robôs para cannabis

Nohtal Partansky aplica tecnologia aeroespacial para automatizar a produção de pré-rolls e revolucionar a indústria nos EUA

Publicada em 25/08/2025

De Marte à cannabis: ex-engenheiro da NASA cria robôs para cannabis

A indústria da cannabis movimentou US$ 32 bilhões em 2024 nos EUA, mas apenas 27% das empresas são lucrativas. O segmento de cigarros pré-enrolados já responde por 16% das vendas, equivalente a US$ 4,1 bilhões, com crescimento anual de 12%.. Imagem: Arqui

Dentro da sede da Stiiizy, maior marca de cannabis dos Estados Unidos em vendas, em Los Angeles, uma máquina robótica executa um processo que, até pouco tempo atrás, dependia inteiramente de mãos humanas. O equipamento, chamado Stardust, pega dez cigarros pré-enrolados, mergulha-os em concentrado de THC e, em seguida, em kief — uma forma potente de cannabis semelhante a pó.

Em segundos, cada baseado sai revestido com uma dose extra da substância responsável pelo efeito psicoativo da maconha. Em apenas uma hora, a Stardust, fabricada pela Sorting Robotics, produz cerca de 1.000 cigarros prontos para consumo com o auxílio de apenas um operador humano.

Enquanto isso, em outra sala da fábrica, 140 funcionários ainda realizam manualmente processos semelhantes, mostrando que a automação ainda não substituiu completamente a mão de obra.

Fundada em 2019 por Nohtal Partansky (CEO), Cassio Santos (CTO) e Sean Lawlor, a Sorting Robotics já vendeu cerca de 30 máquinas Stardust, cada uma custando US$ 250 mil, além de equipamentos mais acessíveis.

A empresa, com 20 funcionários, deve alcançar US$ 11 milhões em receita em 2025, mantendo lucratividade desde 2021. Entre seus clientes estão gigantes como a Tilray, do Canadá, e marcas regionais nos EUA, como a Blue Fox Brands, que comercializa a linha Cali Blaze em diferentes estados.

 

Um mercado em expansão — mas cheio de obstáculos

 

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Pré-enrolados feitos com máquina da Sorting Robotics. Imagme: Divulgação 

A indústria da cannabis movimentou US$ 32 bilhões em 2024 nos EUA, mas apenas 27% das empresas são lucrativas. O segmento de cigarros pré-enrolados já responde por 16% das vendas, equivalente a US$ 4,1 bilhões, com crescimento anual de 12%.

Apesar da alta demanda, poucas empresas produzem volumes suficientes para justificar um investimento de US$ 250 mil em uma Stardust. A proibição federal ainda impede a distribuição interestadual, limitando a escala das fábricas.

Mesmo assim, na Califórnia, o segmento movimentou US$ 178,1 milhões, sendo 66,3% desse total em pré-rolls. No Canadá, entre maio e outubro, as vendas desses produtos superaram em US$ 33 milhões as de flores, indicando que podem dominar o mercado já em 2025.

Nos Estados Unidos, Delaware também segue essa tendência: no primeiro fim de semana de vendas para uso adulto, o estado arrecadou US$ 903 mil, com destaque para pré-enrolados com concentrado, que somaram US$ 16,2 mil — muito acima dos tradicionais, que registraram menos de US$ 1 mil.

O preço médio dos pré-rolls nos EUA gira em torno de US$ 6,50 para versões padrão e US$ 8,77 para os com infusão, podendo variar de US$ 5 a mais de US$ 20, dependendo da região.

 

O perfil do fundador: de Marte à maconha

 

Nohtal Partansky, CEO da Sorting Robotics, foge do estereótipo de empreendedor da cannabis. Engenheiro aeroespacial formado pela Georgia Tech, trabalhou no Laboratório de Propulsão a Jato da NASA, no projeto MOXIE, que produz oxigênio em Marte.

Após experiências com startups de tecnologia, Partansky enxergou na cannabis um setor promissor para aplicar automação. Em 2021, lançou o primeiro robô da empresa voltado ao setor, o Jiko.

A Sorting Robotics compete com empresas menores, como Action Pack, Accelerant e Roll Pros. No entanto, gigantes do setor de tabaco, como a alemã Körber, já testam máquinas capazes de enrolar milhares de cigarros de cânhamo por minuto.

A expectativa é que a legalização federal da maconha — caso a droga seja reclassificada de Lista I para Lista III pelo governo dos EUA — abra espaço para a entrada definitiva da Big Tobacco no setor.

Partansky acredita que, nesse cenário, fabricantes tradicionais de cigarros terão interesse imediato em investir na indústria da cannabis e não descarta vender a Sorting Robotics quando esse momento chegar.

 

Com informações de Forbes