Enquanto nossos vizinhos voam, o Brasil ainda luta para engatinhar

Ainda estamos muito atrasados em relação aos nossos irmãos da América do Sul quando o assunto é o Cânhamo Industrial. Lorenzo Rolim da Silva aborda essa perspectiva e mostra alguns exemplos que já estão sendo implementados nestes países.

Publicada em 24/12/2021

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Coluna de Lorenzo Rolim da Silva

A América Latina vem apresentando muitos avanços na produção e na industrialização do Cânhamo recentemente, e no final de 2021 tivemos alguns avanços consideráveis.

Dia 15/12, na Colômbia, foi aprovado Projeto de Lei que altera a regulamentação local, separando totalmente o Cânhamo Industrial da Cannabis Medicinal, tornando o Cânhamo uma commodity de uso agrícola, com menor controle e mais liberdade de produção e processamento.

O Projeto de autoria do deputado Horacio José Serpa, do Partido Liberal (que diferença do nosso Partido Liberal aqui no Brasil, atualmente Partido oficial da família Bolsonaro), irá colocar a Colômbia em um patamar de produção de Cânhamo similar ao Paraguai e ao Uruguai, e em linha com toda a União Européia e América do Norte, permitindo um avanço mais rápido e sem tantas travas regulatórias que marcaram a indústria colombiana nos últimos anos.

Enquanto isso, no Paraguai, nosso vizinho, as empresas locais iniciaram no final deste ano um programa de produção de Cânhamo industrial com pequenas famílias de agricultores campesinos. 

O destaque é a inclusão de comunidades indígenas, que receberam sementes por doação das empresas (Healthy Grains e Irupe SA) e assistência técnica para o cultivo diretamente do Ministério da Agricultura em colaboração com com os técnicos das empresas. Podemos dizer hoje que o Paraguai é o primeiro país que se tem notícia em que o Governo está apoiando a produção de Cânhamo em comunidades indígenas locais, levando mais uma alternativa de renda para esses povos originários e promovendo a educação através dos técnicos do Ministério.

Podemos dizer que o país está dando um show de civilidade no seu atrasado vizinho Brasil, onde as comunidades indígenas são rotineiramente expulsas de suas terras, exploradas e negligenciadas pelo poder público, principalmente no último ano, onde o governo federal priorizou o garimpo e a extração de madeira, enquanto poderia estar incentivando o cultivo de uma espécie vegetal altamente sustentável e que está em um período de alta demanda globalmente.

Além disso, o país completou na semana passada uma exportação de produtos alimentícios e cosméticos do Paraguai para a Costa Rica. A carga inclui chás produzidos com folhas de cânhamo e outras ervas aromáticas locais, manteiga de amendoim com grãos de cânhamo, cosméticos como hidratantes para pele, cremes faciais e produtos para cabelo, todos produzidos com óleo de semente de cânhamo. A empresa responsável pela exportação, a Deutsch Import SRL já demonstra como é possível criar, produzir e comercializar produtos de altíssima qualidade, tudo feito internamente na América Latina.

O Uruguai também realizou importante avanços nesse sentido na última semana, onde uma empresa local, a YVY Life Sciences, recebeu do governo liberação para produção de Cânhamo e Cannabis medicinal com alto teor de THC através de suas licenças com pequenos agricultores locais, outro feito praticamente inédito a nível mundial.

O modelo de negócios da empresa gira em torno da produção com diversas famílias de pequenos agricultores em um formato similar a uma cooperativa de produção, que preza pela alta sustentabilidade dos cultivos além da qualidade e da diversidade.

Podemos observar que exemplos positivos e próximos a nós, não faltam. 

Podemos observar que a demanda pelos produtos produzidos, não falta.

Podemos observar que o risco à segurança nacional e às famílias para produzir Cânhamo, é mínimo e totalmente controlável.

Mas por outro lado podemos também observar que sobra no Brasil um pensamento retrógrado e atrasado que se recusa a reconhecer bons exemplos, vira as costas a uma oportunidade econômica ímpar, e ignora uma tendência global que vem sendo discutida à exaustão nas últimas duas décadas.

É imperativo que o país saia da inércia em relação ao tema logo, estamos correndo um risco gigantesco de ficarmos totalmente defasados até mesmo em relação a nossos vizinhos próximos.

Lorenzo Rolim da Silva é Engenheiro Agrônomo, presidente da LAIHA (Associação Latino-Americana de Cânhamo Industrial) e trabalha como Diretor de Desenvolvimento de Produção na TANGHO Green.

As opiniões veiculadas nesse artigo são pessoais e não correspondem, necessariamente, à posição do Sechat.