Pesquisadores buscam voluntários para estudo sobre o uso de cannabis no tratamento da fibromialgia
A Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA), em parceria com uma associação de pacientes, vai avaliar a eficácia e a segurança do óleo full spectrum em mulheres diagnosticadas com a doença
Publicada em 20/08/2025

Podem participar mulheres entre 18 e 60 anos, com diagnóstico confirmado de fibromialgia, que tenham disponibilidade para consultas presenciais mensais em Foz do Iguaçu ou Cascavel. Imagem: Canva Pro
Paciente com fibromialgia há mais de quatro anos, Catarina Araújo chegou a ter uma rotina semanal de idas ao hospital em busca de morfina para aliviar a dor. Professora de educação infantil, ela precisou se afastar do trabalho por 60 dias devido à depressão, fadiga, desânimo e dores intensas.
A situação mudou drasticamente no fim de 2023, quando Catarina conheceu a cannabis medicinal. Além de retomar sua rotina de trabalho, cozinhar — um de seus hobbies preferidos — e realizar tarefas simples, como tomar banho sozinha, ela conseguiu deixar de lado três remédios de receita controlada e outros dois medicamentos de tarja preta.
“Minha memória está muito melhor, as dores ósseas passaram. O canabidiol me deu ‘vida’ de novo”, contou Catarina em entrevista ao Portal Sechat em julho de 2024.
Com o objetivo de transformar a vida de outras pacientes como Catarina, pesquisadores do Paraná estão recrutando voluntárias para um estudo clínico que investiga o uso da cannabis medicinal no tratamento da fibromialgia.
O estudo inclui consultas mensais, aplicação de questionários clínicos e exames laboratoriais antes e após a intervenção. Segundo os responsáveis, o foco é avaliar a eficácia e a segurança do óleo full spectrum na modulação dos principais sintomas da doença.
Previsto para começar em outubro, o estudo do tipo Open Label — batizado de “Fridinha” — será realizado em Foz do Iguaçu e Cascavel. Ao longo de seis meses, 36 mulheres diagnosticadas com fibromialgia serão acompanhadas pela equipe científica.
Objetivos e critérios de participação
A pesquisa é conduzida pelo Laboratório de Cannabis Medicinal e Ciências Psicodélicas (LCP) da Unila, em parceria com a associação Santa Cannabis, de Santa Catarina.
“Nosso principal objetivo é compreender como o uso equilibrado de CBD e THC pode atuar no controle da dor e na melhora da qualidade de vida das pacientes. Também vamos analisar indicadores relacionados à depressão, sono e bem-estar geral”, explicou o coordenador do estudo, professor Ney Nascimento.
Podem participar mulheres entre 18 e 60 anos, com diagnóstico confirmado de fibromialgia, que tenham disponibilidade para consultas presenciais mensais em Foz do Iguaçu ou Cascavel. As voluntárias não terão custos com exames, consultas ou medicamentos.
As inscrições já estão abertas e podem ser feitas pelo formulário online da Unila.
Fibromialgia: uma doença invisível que atinge milhões
Pouco debatida, a fibromialgia é a terceira doença reumatológica mais comum no mundo, afetando cerca de 7% da população, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). O perfil mais frequente é de mulheres entre 50 e 60 anos.
A falta de tratamentos eficazes faz com que muitos pacientes enfrentem sofrimento crônico e perda significativa na qualidade de vida.
“Grande parte dessas pacientes é afastada do trabalho poucos anos após o diagnóstico. O índice de suicídio é até 10 vezes maior que o da população saudável. Além disso, o custo com medicamentos, consultas e exames pode ser 300% superior ao de um cidadão comum. Diante dessa realidade, é impossível manter a inércia. Estudos como o da Unila são essenciais para garantir o direito à saúde e à dignidade dessas mulheres”, destacou Maria Eduarda Carraro, aluna de Medicina e autora do projeto.
O papel da cannabis e da Santa Cannabis
A cannabis medicinal tem se mostrado uma alternativa promissora no controle da dor crônica e de distúrbios do sono, especialmente em casos de difícil tratamento, como a fibromialgia.
No estudo da Unila, o óleo será fornecido gratuitamente pela Santa Cannabis, associação que atua no cultivo e na produção legal de derivados da planta para fins medicinais.
“Acreditamos na ciência como ferramenta de transformação social. Apoiar esse estudo é, para nós, um dever ético com as milhares de pessoas que dependem da cannabis medicinal para viver com dignidade. Além disso, é uma forma de mostrar que é possível produzir com qualidade, segurança e compromisso social no Brasil”, afirmou Pedro Sabaciauskis, presidente da entidade.