Relatório Europeu destaca avanço da cannabis medicinal no continente
10ª edição do estudo revela mercado em rápida expansão e aponta mudança cultural em torno do uso terapêutico da planta; destaque para Alemanha, Reino Unido e Dinamarca
Publicada em 31/07/2025

A 10ª edição do Relatório Europeu sobre Cannabis revela crescimento sem precedentes no mercado medicinal, impulsionado por reformas regulatórias e aumento no acesso dos pacientes | CanvaPro
Enquanto o mundo gira, a Europa se realinha. Em meio a uma década de intensas transformações, o continente começa a colher os frutos de uma semente plantada com coragem e persistência: o cuidado com o outro através da cannabis medicinal.
A 10ª edição do Relatório Europeu sobre Cannabis, lançado nesta terça-feira (29), desenha um panorama pulsante e em rápida expansão, sinalizando não apenas crescimento econômico, mas uma mudança de mentalidade.
A Alemanha como bússola
De todos os mapas desenhados no relatório, um ponto brilha com mais intensidade: a Alemanha. Com um mercado avaliado em mais de € 670 milhões, o país se tornou o grande catalisador da virada europeia. A nova lei MedCanG, em vigor desde outubro de 2024, retirou a cannabis da lista de narcóticos e desatou os nós burocráticos que antes sufocavam pacientes e médicos.
Com isso, o país viu nascer mais de 20 clínicas de telemedicina, uma rede de importação e distribuição robusta e preços mais acessíveis para as flores, principal formato de consumo. O que antes era labirinto, hoje se torna caminho.
Exportar alento: o papel da Dinamarca e da República Tcheca
Se a Alemanha aponta o norte, Dinamarca e República Tcheca trilham com entusiasmo essa nova rota. A decisão dos dinamarqueses de tornar seu programa piloto permanente consolidou o país como grande exportador: mais de 7 toneladas de cannabis medicinal enviadas para a Alemanha apenas em 2024.
Já os tchecos ampliaram o cultivo comercial e superaram 1.300 kg em exportações no mesmo período. Em tempos de crises, entregam não só plantas, mas esperança embalada em protocolos sanitários e segurança terapêutica.
Reino Unido: entre o impulso digital e os desafios do bolso
No Reino Unido, o cenário é vibrante e complexo. Com projeções que ultrapassam € 300 milhões para 2025, o mercado, totalmente privado, é abastecido por mais de 30 plataformas de telessaúde. Mas o acesso ainda encontra obstáculos: os preços elevados e a falta de reembolso público afastam muitos dos que mais precisam.
“O mercado do Reino Unido está entrando em uma nova fase, definida por escala, sofisticação e fortes sinais de viabilidade a longo prazo”, avalia o analista Lawrence Purkiss, da Prohibition Partners. A expansão do cultivo doméstico e a integração digital mostram que o país caminha para deixar de ser exceção e passar a ser referência.
Polônia cresce, mas tropeça
Com previsão de movimentar € 72 milhões já em 2025, a Polônia desponta como o quarto maior mercado da Europa. Avanços regulatórios e a adesão à telemedicina deram fôlego ao setor, mas a proibição de consultas online decretada em 2024 impôs um freio. O crescimento segue, mas não sem arranhões.
Itália: pioneira travada pelo próprio modelo
Contraste forte ao movimento continental, a Itália permanece rígida em sua regulação. Embora tenha sido uma das pioneiras na Europa, seu modelo centralizado de cultivo e aquisição, controlado pelo Estado, mantém o mercado limitado e dependente de poucos fornecedores, como a Bedrocan. A inovação ali anda de mãos dadas com a contenção.
Um novo tempo para os dados
A publicação do relatório também marca o lançamento do Insights Hub, uma plataforma digital da Prohibition Partners que transforma os tradicionais relatórios em experiências ao vivo e dinâmicas. “Desde 2017, acompanhamos a evolução dos mercados de cannabis pela Europa e sabíamos que era hora de algo novo que acompanhasse o ritmo e a complexidade do que está acontecendo na prática”, afirma Stephen Murphy, CEO da empresa.
Segundo ele, o Insights Hub é mais do que uma vitrine de dados: “É uma ferramenta para que empresas, reguladores e pacientes tomem decisões informadas, num setor que não muda mais ano a ano, mas semana a semana”.
Flores, óleos e um futuro em expansão
Apesar de as flores ainda dominarem o consumo, óleos, extratos e cartuchos para vaporizadores vêm ganhando espaço, especialmente em mercados mais maduros como o alemão e o britânico. E embora a produção local esteja em ascensão, o continente ainda depende das exportações de países como Canadá, Portugal e Dinamarca.
A projeção é clara: até o fim da década, os principais mercados europeus devem ultrapassar € 1,5 bilhão em valor combinado. Mas por trás desses números há algo ainda mais valioso: uma Europa que começa a tratar seus pacientes com menos medo, mais ciência e uma escuta mais atenta ao que a natureza, e o tempo, têm a oferecer.
Com informações de Cannabis Health News.
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