Mercado de cannabis medicinal avança no Brasil, mas enfrenta entraves financeiros e regulatórios

Empresas como a WEpayments, liderada por Fernanda Zago, buscam destravar o setor com soluções em câmbio e pagamentos para operações internacionais e locais

Publicada em 16/05/2025

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Imagem: Canva Pro

O mercado de cannabis medicinal no Brasil vive uma fase de transformação. Em 2024, o setor movimentou R$ 853 milhões e atendeu 672 mil pacientes em mais de 80% dos municípios brasileiros. Desses, 315 mil utilizam produtos importados pela via da RDC 660 da Anvisa, 208 mil fazem uso de medicamentos registrados segundo a RDC 327 e 147 mil são atendidos por meio de associações.

Esse crescimento ocorre em meio a avanços regulatórios e decisões judiciais que desenham um novo cenário institucional. O Supremo Tribunal Federal (STF) definiu que o porte de até 40 gramas de maconha ou o cultivo de até seis plantas fêmeas configura uso pessoal. Já o Superior Tribunal de Justiça (STJ) estabeleceu prazo até 19 de maio de 2025 para que a Anvisa e o Ministério da Saúde regulamentem o cultivo de cannabis para fins medicinais e industriais no país.

 

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Fernanda Zago, CEO da WEpayments | Foto: Divulgação

A fintech por trás das engrenagens do câmbio

É nesse contexto que surge a contribuição de Fernanda Zago, CEO da WEpayments. A fintech atua no Brasil com soluções de pagamentos e câmbio para mercados regulados, conectando tecnologia própria, gestão de contas, e soluções de compliance — um diferencial estratégico para empresas de cannabis que dependem de importações.

“Como uma empresa que atua tanto no mercado nacional quanto no suporte a operações de câmbio para importações, vemos nossa solução como um facilitador para ambos os cenários”, explica Fernanda. Ela afirma que a WEpayments está preparada para atender tanto quem permanece no modelo importador quanto quem deseja migrar para a produção local. “Estamos prontos para apoiá-las nesse movimento, oferecendo ferramentas e expertise para tornar essa transição mais acessível e menos onerosa.”

 

Regulação, estigma e o peso da burocracia

Na visão da CEO, o Brasil está num ponto de inflexão. “A revisão da RDC 327/2019 é um passo importante para o amadurecimento do mercado de cannabis medicinal no Brasil.” Para ela, a nova regulamentação amplia o acesso e atrai novos players. “Entretanto, ainda é necessário avançar mais, especialmente na questão do cultivo nacional.”

Zago destaca quatro obstáculos que ainda travam o avanço do setor: a proibição do cultivo, a burocracia nos processos de importação e registro, o estigma cultural e os custos que inibem a entrada de pequenas e médias empresas. “Mesmo com o apoio crescente da comunidade médica e científica, enfrentamos um estigma político e cultural que atrasa os avanços.”

 

Educar o sistema financeiro é fundamental

Fernanda acredita que a resistência de bancos ao setor é comparável àquela enfrentada por outras indústrias consideradas de risco no passado. “Muitos bancos e instituições financeiras ainda têm receio de operar com empresas desse segmento, mesmo sendo regulamentadas.” Segundo ela, o caminho está na construção de pontes. “A educação do mercado financeiro sobre o potencial e as regulamentações dessa indústria será essencial.”

 

Importar ainda pesa — mas a transição deve ser equilibrada

Um dos principais entraves operacionais do setor é a dependência de importações. “Ela limita o desenvolvimento de uma cadeia produtiva local, que poderia fomentar inovação, pesquisa científica e a criação de empregos no Brasil.” Mas Zago pondera: a migração para um modelo 100% nacional deve respeitar estruturas já consolidadas.

“O ideal é fomentar a livre concorrência, permitindo que empresas escolham o modelo que melhor se adapta às suas necessidades e estratégias.”

 

Capacitação médica é a base do consumo consciente

Fernanda vê na formação dos profissionais de saúde um pilar do setor. “A capacitação médica é um pilar fundamental para o crescimento do mercado de cannabis medicinal.” Para ela, médicos bem informados aumentam a segurança do tratamento e ajudam a construir uma base científica sólida. “Educar os médicos e criar uma rede de distribuição é um dos maiores desafios para que a empresa possa começar a impor ritmo na sua geração de demanda de consumo.”

 

Potencial de R$ 1 bilhão e um polo de inovação à vista

As projeções para o mercado brasileiro seguem em curva ascendente. “As projeções de movimentar R$ 1 bilhão até o final de 2025 refletem o potencial desse mercado.” Ela aponta três vetores de crescimento: mais pacientes, avanço regulatório e interesse de investidores. “Se as regulamentações continuarem avançando, o Brasil pode se tornar um dos maiores mercados de cannabis medicinal da América Latina.”

Além da demanda interna, a executiva aposta no potencial produtivo do Brasil. “Se o setor for bem estruturado, pode se tornar um polo de inovação em cannabis medicinal, não apenas para atender ao mercado interno, mas também para exportação.”