O caminho da cannabis no bem-estar animal é feito de ciência, empatia e novas esperanças

O uso da cannabis medicinal em pets vem crescendo no Brasil desde a autorização da Anvisa em 2024, trazendo alívio para dores crônicas, epilepsia e ansiedade em animais, e esperança renovada para tutores

Publicada em 09/10/2025

O caminho da cannabis no bem-estar animal é feito de ciência, empatia e novas esperanças

Cannabis medicinal já é alternativa em casos de dor crônica e epilepsia em pets | CanvaPro

A liberação da prescrição de cannabis para uso animal no Brasil, em outubro de 2024, trouxe essa chance de esperança clínica e de qualidade de vida para muitos tutores e seus pets.


Mas esse avanço ainda esbarra em barreiras regulatórias: um ano após a autorização da Anvisa, o Ministério da Agricultura (MAPA) ainda não apresentou uma regulamentação para produtos de uso exclusivo veterinário. Sem regras definidas, veterinários enfrentam incerteza jurídica e tutores têm acesso limitado a tratamentos.
 

Segundo especialistas, já há evidências fortes de que a cannabis pode ajudar no tratamento de epilepsia refratária, dor crônica, inflamações, ansiedade, apetite seletivo e até em cuidados paliativos. O uso se integra a protocolos já existentes, sem substituir os medicamentos tradicionais, mas oferecendo sinergia e reduzindo efeitos colaterais.

Esse panorama reforça temas abordados pelo Sechat há tempos, como em “Como a cannabis transforma a medicina animal”, que mapeia esse movimento de incorporação da planta nos tratamentos veterinários, trazendo depoimentos de pesquisadores, veterinários e tutores sobre transformações reais em saúde animal.


Alívio real, desafios persistentes


Relatos de tutores apontam para mudanças visíveis e não como promessa vaga, mas como efeito cotidiano. Contudo, os desafios continuam. O custo elevado de produtos regulamentados, a burocracia para importação, a falta de manipulação veterinária, e o preconceito ainda reforçado por desconhecimento são barreiras que impedem acesso amplo.


Essa discussão ressoa diretamente com a matéria que fizemos em fevereiro deste ano sobre: “O alívio eficaz da dor em animais com a cannabis é possível”, que aprofunda a dor crônica, sua manifestação nos pets, e como ela pode ser tratada com alternativas mais seguras, menos agressivas, e muitas vezes mais alinhadas ao bem-estar, desde que acompanhadas de orientação, pesquisa e regulamentação apoiada.

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“Quando os veterinários estão bem capacitados, o uso da cannabis se torna mais seguro e personalizado. Isso ajuda a ampliar o acesso e a normalizar o tratamento de forma responsável”, explica a médica veterinária Carolina Lomovtov. | Foto: Arquivo Pessoal

Em entrevista ao Sechat, a médica veterinária Carolina Lomovtov destacou que ampliar o acesso à cannabis medicinal para pets depende de políticas públicas eficazes e de uma maior conscientização da sociedade. Segundo ela, ainda há muito preconceito e dificuldades para tutores e veterinários obterem informações claras, o que reforça a necessidade de regulamentação conjunta entre ANVISA e MAPA, além de programas que possibilitem acesso gratuito a tratamentos animais. 

Carolina também ressalta a importância da capacitação profissional e da pesquisa nacional, especialmente em universidades públicas, para garantir que o uso da cannabis seja seguro, personalizado e respaldado por dados sólidos. “A soma de políticas, educação e pesquisa ajudaria a normalizar o uso e ampliar o acesso e prescrição com responsabilidade”, afirma.


Vale ressaltar que a medicina canábica animal é mais do que uma pauta recente: é uma porta aberta para reconsiderar como cuidamos dos nossos animais de estimação e de que forma as relações de cuidado também reverberam no ambiente familiar.