Psicodélicos reduzem neuroinflamação e mostram potencial terapêutico, segundo pesquisadores brasileiros

Revisão de estudos indica que substâncias como psilocibina, LSD e DMT podem modular inflamações no cérebro, oferecendo novas perspectivas para distúrbios neurodegenerativos

Publicada em 13/02/2025

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Imagem ilustrativa: Canva.

Pesquisa recente a ser publicada no periódico Progresso em Neuropsicofarmacologia e Psiquiatria Biológica apontou que psicodélicos como psilocibina, LSD e dimetiltriptamina (DMT) apresentam efeitos anti-inflamatórios no cérebro.

Esses compostos atuam principalmente na ativação do receptor de serotonina 5-HT2A, modulando vias inflamatórias críticas e promovendo neuroplasticidade. Além disso, interagem com outros sistemas neurotransmissores, como o glutamatérgico e o dopaminérgico, ampliando sua influência sobre processos neuroprotetores.

A pesquisa foi uma revisão de estudos feita pelos pesquisadores Junia Lara de Deus, Juliana Marino Maia, Renato Nery Soriano, Mateus R. Amorim e Luiz GS Brancoda, que são da Universidade de São Paulo (USP), campus Ribeirão Preto, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e da Universidade George Washington, nos Estados Unidos.

 

Como os psicodélicos reduzem a inflamação no cérebro?

 

Os estudos demonstraram que essas substâncias influenciam processos celulares importantes, incluindo as vias NF-κB, PI3K/Akt e mTOR. Essas vias desempenham papéis essenciais na regulação da resposta imune, promovendo a redução da produção de citocinas pró-inflamatórias e favorecendo um ambiente mais favorável à regeneração neuronal.

Os psicodélicos também podem modular a função da microglia, as células do sistema imunológico do cérebro, que desempenham um papel fundamental em processos inflamatórios e neurodegenerativos.

 

Potencial no tratamento de doenças neurodegenerativas

 

A neuroinflamação desempenha um papel crítico na progressão de doenças como Alzheimer, Parkinson e depressão maior. Evidências recentes indicam que os psicodélicos podem ajudar a restaurar a homeostase do sistema nervoso central ao reduzir a ativação exacerbada do sistema imune inato, um fator-chave na progressão dessas enfermidades. Pesquisas sugerem que essas substâncias podem induzir alterações epigenéticas duradouras, promovendo efeitos terapêuticos sustentados.

Além de sua atuação na neuroinflamação, os psicodélicos também têm sido associados à melhoria da saúde mental em estudos clínicos. Pesquisas recentes sobre a ayahuasca, uma bebida tradicional da bacia amazônica que contém DMT, indicam que seu uso pode reduzir significativamente sintomas de depressão e ansiedade. Essas mudanças parecem estar relacionadas a modificações na organização da cromatina em genes associados à plasticidade neuronal e ao bem-estar emocional.

Outra área de interesse é a integração de psicodélicos com outras terapias, como agentes anti-inflamatórios e abordagens psicológicas, incluindo terapia cognitivo-comportamental (TCC) e neurofeedback. Os especialistas acreditam que a combinação dessas estratégias pode maximizar os benefícios terapêuticos, reduzindo riscos e ampliando a eficácia do tratamento para distúrbios neuropsiquiátricos.

De acordo com o Ministério da Saúde, o Alzheimer é o principal tipo de demência e afeta 1,2 milhão de pessoas no Brasil. Já o Parkinson, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), atinge aproximadamente 4 milhões de pessoas no mundo e, no Brasil, estima-se que 200 mil indivíduos sofram com o problema. A depressão, por sua vez, pode atingir 15,5% dos brasileiros ao longo de suas vidas.