Por que os atletas estão trocando ibuprofeno por canabidiol?

A Agência Mundial Antidopagem (WADA) removeu a CBD de sua lista de substâncias proibidas em janeiro, o que levou muitos atletas profissionais a buscarem a substância, vista como mais segura

Publicada em 05/12/2019

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Andrew Talansky está quase sempre dolorido. O atleta de 29 anos passou 7 anos como ciclista profissional na Slipstream Sports. Ele recentemente mudou para o triatlo e agora passa horas treinando corrida, natação e ciclismo.

“Estou usando músculos que não uso há anos”, diz Talansky: “meu corpo está constantemente inflamado”.

Muitos atletas em sua situação confiam no alívio da dor com o uso de ibuprofeno (anti-inflamatório). Mas quando Talansky começou a ter dores por conta de uma lesão no quadril no último outono, ele pegou um frasco de canabidiol (CBD), um extrato da planta de cannabis.

“Tomei isso por algumas semanas, e houve uma diferença notável imediatamente”, diz Talansky. “E não foi só o meu quadril que estava se sentindo melhor. Eu estava menos ansioso e estava dormindo melhor.”

A maconha tem sido considerada uma medicação alternativa para a dor, com o THC, o principal composto psicoativo da planta, recebendo a maior parte da atenção. O canabidiol é outro componente ativo e poderia oferecer alguns dos mesmos benefícios médicos (anti-inflamatório, anti-ansiedade, analgésico), mas sem o efeito colateral de ficar ‘chapado’.

A Agência Mundial Antidopagem (WADA) removeu a CBD de sua lista de substâncias proibidas em janeiro, o que levou muitos atletas profissionais, incluindo o ultracorredor Avery Collins e o mountain biker Teal Stetson-Lee, a trocar o ibuprofeno para o canabidiol. Alguns acreditam que é uma alternativa mais segura para analgésicos e anti-inflamatórios.

A pesquisa sobre a CDB demorou a se aprofundar, em grande parte porque o governo federal dos Estados Unidos considera a maconha como uma droga da Classe I – a mesma classificação dada à heroína e ao LSD – dificultando o acesso dos pesquisadores a ela para o estudo. E como muitos estados já legalizaram o medicamento para uso médico, as empresas farmacêuticas têm pouco incentivo para realizar ensaios clínicos dispendiosos que demonstrem sua eficácia.

Ainda assim, o mercado para a CBD está crescendo. De acordo com um estudo do Brightfield Group, uma empresa de pesquisa de mercado com sede em Tampa, Flórida, o cânhamo CBD gerou US$ 170 milhões em receita em 2016. Com vendas anuais crescendo a uma taxa de 55%, está prestes a ser uma indústria de US$ 1 bilhão em 2020. Charlotte’s Web, que engarrafa o extrato no Colorado, é uma das maiores produtoras do setor. 

O CBD da marca Talansky vem do Floyd’s de Leadville, também no Colorado, que foi lançado em 2016 pelo ex-ciclista profissional Floyd Landis. A Floyd’s de Leadville comercializa seus produtos diretamente para atletas que procuram um suplemento de recuperação natural. “Pense em seu atleta de 40 anos que quer se sentir bem quando acordar de manhã”, diz Landis. “Esse é o nosso alvo.”

Landis usa o CBD para controlar a dor de uma artroplastia do quadril que ele tinha em 2006. Ele confiou em analgésicos com base em opiáceos aprovados pela WADA por anos, tanto antes quanto depois de sua vitória na Tour de France de 2006 por usar testosterona sintética. Em 2015 um amigo sugeriu que Landis experimentasse a CBD.

“É a única coisa que eu uso agora”, diz Landis. “Eu tento não exagerar, porque não quero parecer radical. Mas se você puder parar de tomar outros analgésicos, se tiver uma solução natural, essa é provavelmente a melhor opção”.

Há pesquisas para respaldar seu entusiasmo. Uma revisão de 2008 pela GW Pharmaceuticals examinou duas décadas de estudos pré-clínicos e testes em animais antes de concluir que o CBD pode ser uma ferramenta de sucesso para o controle da dor sem muitos efeitos colaterais adversos.

Um estudo de 2016 da Universidade de Kentucky examinou os efeitos do CBD em ratos com artrite e descobriu que o composto reduzia a inflamação e a dor em geral. Alguns estudos também o rotularam de neuroprotetor, sugerindo que ele tem a capacidade de reforçar o cérebro contra os efeitos prejudiciais da concussão.

Os possíveis usuários da CBD devem ter em mente que a comunidade científica ainda tem muito a aprender sobre a cannabis. Por exemplo, não houve estudos sobre dosagem recomendada para uma determinada doença. Também não há consenso científico sobre como o CBD é comparado com anti-inflamatórios como ibuprofeno ou naproxeno.

Isso pode mudar em breve: pelo menos 20 ensaios clínicos examinando os benefícios médicos da CBD estão atualmente em curso nos EUA, incluindo um esforço de US$ 16 milhões da Universidade de Miami, que está analisando os efeitos da CBD no trauma cerebral.

Além dessas questões, há também uma crescente preocupação com a qualidade dos produtos atualmente à venda. Como o governo federal dos EUA considera a CBD uma droga ilegal, a indústria é subestimada pela FDA, com pouca supervisão de terceiros.

Um estudo de 2017 publicado no Jornal da Associação Médica Americana descobriu que 69% dos produtos CBD testados não continham a quantidade de canabidiol indicada no rótulo. A maioria das empresas da CBD não vende através de lojas de varejo; eles chegam aos consumidores online.

Fonte: Go Outside