Atriz e cantora brasileira conta porque decidiu investir em cannabis

“Tudo que vem da terra, vem para algum motivo. Toda planta, se não é para curar, é pra enfeitar, é pra dar qualidade de vida”, afirma Leilah Moreno

Publicada em 04/01/2023

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Por Leandro Maia

Os investidores mais visionários estão apostando na indústria da cannabis. E a resposta é bem óbvia e não deveria causar nenhum espanto: a cannabis sativa é uma espécie de planta utilizada em diversos países para uso medicinal e recreativo. Além disso, a maconha contém propriedades importantes para a indústria da beleza.

O canabidiol (CBD) é eficiente para retardar o envelhecimento da pele e controlar enfermidades cutâneas, como psoríase, acne e rosácea. O mercado de produtos à base de cannabis é amplo e lucrativo, por isso, grandes estrelas do cinema e da música em todo o mundo estão apostando em investir no setor.

No Brasil, a atriz e cantora Leilah Moreno investe em produtos de beleza à base de canabidiol e em pesquisas para descobrir os benefícios do derivado de cannabis para a saúde. “Eu achei interessante entrar nesse mercado [não só pelas propriedades medicinais da planta] mas também por conta de uma pesquisa que a gente fez em relação a parte financeira”.

Ainda segundo a atriz, é um mercado muito promissor que abre portas para novos profissionais e ajuda pacientes a melhorarem a qualidade de vida com a volta da socialização através de um produto natural que não prejudica a saúde e não causa dependência química seguindo a prescrição médica.

Apesar de ser um mercado de encher os olhos de muitos investidores, a atriz contou que não se pode esperar um retorno de curto prazo no mercado de cannabis. Os investimentos começaram oito meses atrás e ainda não foi possível conseguir autorização para comercializar os produtos. Enquanto isso, a empresa está focada no desenvolvimento e pesquisas sobre os benefícios da planta. 

“Eu estou testando os produtos de seis meses para cá, dos testes que eu fiz. Não deixa nada a desejar das grandes marcas de cosméticos. Eu já usei produtos à base de canabidiol para tirar manchas, acalmar, fechar poros, esfoliar e hidratar a pele. Além disso, é um produto vegano e eu só tenho saldo positivo para falar. Todos os benefícios que os outros produtos me entregaram, os produtos à base da cannabis me entregam tão bom quanto ou superior em relação à durabilidade, eficiência e resultado.”

Leilah Moreno

 Ao revelar que tinha muito preconceito em relação a cannabis, Leilah disse que passou a investir na indústria da cannabis após atuar na série Pico da Neblina, da HBO, que mostra um cenário imaginário em que a maconha é legalizada para uso recreativo no Brasil. A atriz interpreta Kelly, que faz parte de uma família em que o irmão trabalha com o cultivo de maconha para a venda de baseados e outros produtos para uso recreativo.

Para estrelar a série, a atriz precisou fazer um laboratório para conhecer o mercado da cannabis que não tinha conhecimento algum antes da série do canal de TV por assinatura. Ela conta que, diferente da personagem que interpreta, não faz uso recreativo da cannabis, por isso, revelou que quando não se tem o conhecimento, a visão sobre a planta é marginalizada. Após a oportunidade de dar vida a Kelly na série, a atriz revela que expandido a consciência sobre o universo da planta natural e da terra.

“Eu fiquei muito interessada, não só pela série, mas por tudo que eu descobri em relação à planta. Eu tenho a ideia até de que ela tenha sido criminalizada porque, talvez, ela fosse um tratamento eficaz contra muitas doenças [que hoje são tratadas com medicamentos convencionais da indústria farmacêutica]. Eu tenho em mente que até soubessem antes dos benefícios que a cannabis poderia trazer para a qualidade de vida de algumas pessoas que precisam desse tratamento. Então, eu me interessei a partir do momento em que eu comecei a estudar os efeitos em pessoas com Alzheimer, Autismo... e também trazendo qualidade de vida para pacientes terminais e até mesmo o câncer”, disse.

Leilah Moreno também levantou um questionamento: “Por que a cannabis não foi exposta dessa forma positiva para a população? Talvez tivesse algum interesse por trás disso, de que esse conhecimento não fosse difundido. Nossos ancestrais, não só os indígenas, mas os povos originários de quase todos os continentes já usavam a cannabis, a planta, como forma de curativo e qualidade de vida.”

Apesar dos inúmeros estudos com comprovações científicas sobre os benefícios da erva, ainda existem muitos tabus que criam barreiras para a legalização e o crescimento do mercado de cannabis no Brasil.


A visão do mercado

Para Marcelo De Vita Grecco, cofundador The Green Hub – plataforma de tecnologia e inovação para negócios voltados para a cannabis medicinal e industrial – o setor ainda não conseguiu atingir todo o seu potencial de mercado porque se esbarra em uma legislação um tanto quanto antiquada.

Na opinião dele, a portaria nº 344, Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), de 1998, que não faz distinção de classificação dos variados tipos de cannabis, é uma das barreiras que a indústria da planta enfrenta no Brasil.

“Quando você tem uma portaria dessa que coloca desde uma semente, como uma flor ou uma fibra de cânhamo em um mesmo balaio com uma cannabis com altos teores de THC em uma mesma portaria, representa o aprisionamento das oportunidades", criticou.

Segundo Grecco, é preciso fazer com que o Brasil inicie um processo de organização dessa portaria. Assim, seria possível "tirar algumas coisas de uma portaria antiga que não permite que o país avance, principalmente, no que diz respeito à saúde e bem estar.”

Considerando que a indústria de cosméticos brasileira é a 4ª maior do mundo, a legalização ajudaria a fazer com que esse setor crescesse ainda mais com os derivados da planta.

“Quando você fala de uma semente de cânhamo, por exemplo, ela é proteína pura, não tem nem efeito psicoativo algum e nem canabinoide. Como a semente está na mesma portaria, acaba travando o mercado de cosmético, alimentos e suplemento alimentares. O que interfere na produção de milhares de produtos porque a semente está na mesma resolução que o Canabidiol que depende de prescrição médica”, explica Grecco ao afirmar que não faz sentido a obrigatoriedade de receita para ter acesso à produtos de proteína puros.

Ele entende que se a semente de cânhamo saísse dessa portaria da Anvisa já seria um grande avanço para os setores de cannabis de uso medicinal e industrial.  Assim, novos investimentos seriam atraídos para o país.


Lá fora é bem diferente

Nos Estados Unidos, o mercado de cannabis cresce com mais entusiasmo. Além da capital Washington, o uso recreativo da maconha é liberado em 18 estados. Apesar da morosidade da legalização ainda ser uma pedra no sapato da indústria no Brasil, aos poucos a mentalidade está mudando e as pessoas estão cada vez mais com a mente aberta para entender que o Canabidiol se trata de uma substância retirada da Cannabis e não tem nenhum efeito entorpecente.

Para a indústria crescer em solo brasileiro, a regulamentação do cultivo é um passo importante para o fornecimento de matéria prima para os meios de produção. É por isso que nos EUA existe a promessa de crescimento nas próximas décadas que tem atraído famosos que estão com suas próprias fazendas, além das lojas com produtos à base de cannabis.

O rapper americano Snoop Dog lançou em 2015 a marca Leafs By Snoop com um portifólio de produtos relacionados à maconha medicinal e recreativa. A marca desenvolveu embalagem personalizada.


O ator Jim Belushi é outro famoso nesse mercado

A estrela de Hollywood lançou a marca Belushi’s Farm em 2015. No entanto, a motivação para Jim acompanhar de perto o cultivo de cannabis orgânica em sua fazenda com grande capacidade de produção está além dos lucros. O irmão mais velho dele morreu de overdose de drogas e, por isso, um dos seus compromissos é promover a distribuição segura e responsável da maconha com o objetivo de ajudar as pessoas a se afastar do vício.

De acordo com a Associação Brasileira das Indústrias de Cannabis (Abicann), com base em dados da Euromonitor, a indústria da cannabis deve terminar este ano com faturamento de US$ 22 bilhões no mercado global de cannabis medicinal. No Brasil, o seguimento deve atrair cerca de US$ 30 bilhões e gerar 300 mil empregos nos próximos dez anos.

Assim, a regulamentação da cannabis no país é um assunto ainda que precisa ser debatido sem preconceitos e com os olhos focados no desenvolvimento econômico.