Defender a Cannabis medicinal é “lutar pela saúde”, diz deputada argentina

Ela também destacou que para muitos pacientes hoje é muito difícil continuar com o tratamento, porque há um mercado ilegal que abusa dessas pessoas.

Publicada em 25/08/2020

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Centenas de vizinhos se juntaram à palestra aberta sobre a Cannabis para a saúde organizada pela deputada provincial da Frente de Todos Roxana López. O evento contou com a participação de sua colega de bloco e presidente da Comissão de Saúde, María Laura Ramírez , e diversos especialistas. 

“Estamos reunidos por iniciativa de um grupo de mães, pais e familiares que, desde que as conhecemos, nos propuseram trabalhar para conseguir uma legislação abrangente para a incorporação no sistema de saúde da Cannabis medicinal e seus derivados para uso científico e terapêutico”, explicou López no início do dia que serviu de apresentação do projeto de portaria do coletivo Cultivando Esperanzas Tigre.

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“É fundamental gerar um marco legal para o autocultivo, uma legislação que permita aos usuários e familiares ter tranquilidade e a garantia de que não serão mais perseguidos por buscarem alívio que não encontram na medicina hegemônica ocidental”, contextualizou o deputado.

O primeiro palestrante foi o neurologista infantil Carlos Magdalena, chefe do departamento de Neurofisiologia e Epilepsia do Hospital Infantil Ricardo Gutiérrez e um dos pioneiros no uso da Cannabis no tratamento de doenças, patologias, síndromes e distúrbios em crianças. Depois de relembrar a resistência dos primeiros anos de seus colegas, o médico destacou que foram abertas muitas portas, graças aos produtores e famílias. 

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“A Cannabis consegue melhorar os sintomas de doenças muito cruéis”, Magdalena deixou claro e expressou: “A terapia com Cannabis não é apenas um óleo ou cultivar, é tudo o que rodeia esta planta virtuosa”.

Além disso, o especialista destacou que as autoridades nacionais têm uma posição diferente sobre esta questão. “O Estado hoje começa a ouvir. Temos um governo sensível a essa demanda que nada mais é o direito à saúde”, disse Magdalena.

No mesmo sentido, adiantou a fundadora da organização Mamá Cultiva Argentina, Valeria Salech, entidade que há anos reclama a regulamentação do autocultivo da Cannabis para a saúde e que se encarrega de difundir os benefícios do seu uso nos pacientes que profissionais do Ministério da Saúde nacional já estão trabalhando no problema.

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“Este governo, apesar da pandemia, conseguiu apresentar-nos um projeto do novo regulamento (da lei nacional 27.350 de 2017). É muito interessante como ele abre o jogo para as organizações e capacita os usuários”, disse Salech.

“Quero que o meu direito a uma melhor qualidade de vida seja respeitado como cidadã que sou, não como mãe de uma menina com epilepsia”, disse Salech. Apostamos em ter legalmente essa maravilhosa ferramenta terapêutica, que precisa de reconhecimento, pois ainda é olhada de maneira estranha em muitos lugares na Argentina.”

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Por sua vez, a deputada Ramírez, presidente da Comissão de Saúde e autora do projeto de lei provincial sobre o estudo, pesquisa, fornecimento e uso da Cannabis e seus derivados para fins terapêuticos, destacou que para muitos pacientes hoje é muito difícil continuar com o tratamento, porque há um mercado ilegal que abusa dessas pessoas. 

“Decidimos na Província fazer uma nova lei regional porque a nacional não cobre todos os setores”, destacou o legislador de La Matanza sobre o projeto que autoriza a autocultura e a produção de derivados da Cannabis e permite ao Estado acompanhar pacientes no uso medicinal. 

Enquanto isso, os membros da Cultivando Esperanzas Tigre, Laura Mieres e Ana María Schapert, além da professora Graciela Rastelli, compartilharam suas experiências e de seus familiares em relação ao uso do óleo de Cannabis.

“Aquele óleo foi como mágica”, reconheceu Mieres, que disse que permitiu estabelecer uma relação comunicativa com seu filho com autismo. "Entre o terceiro e o quinto dia após iniciarmos o uso, ele olhou para nós e aos poucos começou a falar", acrescentou emocionada.

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Além disso, o vizinho de Tigre destacou o anteprojeto de portaria para este município e explicou que “o autocultivo é muito importante, que todos possam ter sua própria planta, fazer seu remédio e perder o medo.”

Por sua vez, Schapert, também vizinha da localidade de Tigre e mãe de um adolescente com diagnóstico de síndrome de Asperger, valorizou o papel da organização Cultivando Esperanzas. “Somos um grupo de pais que encontraram esperança em um vaso de flores. E o nosso objetivo é que outras famílias também possam encontrá-la”, disse. 

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Enquanto Rastelli, que tem síndrome de tourette, relatou que com óleo de Cannabis melhorou em 80%. “Os tiques desapareceram, a funcionalidade da terapia começou dois dias depois de ter iniciado o uso”, comemorou. “Isso me encheu de alegria, tornei-me sociável; agora eu posso rir, tenho muitos amigos, posso trocar com as pessoas.”

No encerramento da atividade, López fez uso da palavra novamente para enfatizar que é o Estado, em todos os níveis, que tem a responsabilidade de enfrentar esta situação. Devemos pagar a dívida e discutir se a Cannabis é boa ou má, se é viciante ou não; já existem muitas experiências, testemunhos claros. A família e o usuário têm o direito de decidir sobre sua saúde e a de seus entes queridos.”

“Tem que haver um Estado que deixe de persegui-los e de gerar medo. Temos que trabalhar junto com as organizações para termos um Estado que preste proteção e acesso à saúde em todas as suas possibilidades”, acrescentou o deputado provincial.

Na mesma linha, o legislador da Tigre destacou que o Estado deve investir na pesquisa, produção e divulgação de todas as capacidades terapêuticas que a Cannabis possui. “A desinformação é muito perigosa”, opinou. “É necessária a implantação de treinamentos obrigatórios para membros do sistema de saúde, do judiciário e das forças de segurança provinciais e locais.

“A regulamentação do autocultivo é muito importante. Não podemos ter mais presas pelo autocultivo em nosso país, apenas por terem uma planta nas suas casas”, destacou Lopes.

“Temos a convicção de que o Estado mais seguro é aquele que não reprime e que legisla para garantir os direitos de todos os cidadãos. Vamos continuar trabalhando porque, além das leis, continuemos conscientizando que lutamos pelo direito à saúde”, concluiu o deputado provincial.

Fonte: informações do site Ambito