O que a ciência revela sobre cannabis e insônia

A insônia afeta milhões de pessoas e transforma a rotina em um fardo. Nesta matéria, entenda como a cannabis medicinal pode auxiliar na qualidade do sono, o que dizem as pesquisas e os limites atuais da ciência

Publicada em 15/07/2025

O que a ciência revela sobre cannabis e insônia

A esperança da cannabis para noites em claro | Reprodução IA

Ficar sem dormir é como tentar atravessar um dia carregando um peso invisível. Os olhos pesam, a paciência se esgota, o corpo reclama e a mente tropeça em pensamentos embaralhados. Quem já virou a noite contando carneirinhos, revendo preocupações ou encarando o teto escuro do quarto sabe: a insônia não perdoa. Ela corrói o humor, compromete a saúde e deixa um rastro de exaustão que compromete toda a rotina.


É nesse cenário, cada vez mais comum, que muitas pessoas têm recorrido à cannabis medicinal em busca de alívio, especialmente na forma de óleos, gomas ou cápsulas de CBD. Mas será que a planta pode realmente ajudar a dormir melhor?


A insônia que assola nossos tempos


A insônia crônica, definida como aquela que ocorre ao menos três vezes por semana por mais de três meses, afeta cerca de 15% da população. Mas, se somarmos os casos esporádicos, os dados saltam: estima-se que metade das pessoas no mundo já teve ou terá dificuldade para dormir em algum momento da vida.


As causas variam: estresse, excesso de trabalho, problemas familiares, hábitos noturnos, uso de dispositivos eletrônicos antes de dormir. A insônia pode aparecer de diferentes formas: dificuldade para pegar no sono, despertares frequentes ao longo da noite ou acordar muito cedo e não conseguir mais voltar a dormir.


Além disso, há outros distúrbios do sono que também interferem no descanso: apneia obstrutiva, sonambulismo, pesadelos recorrentes, síndrome das pernas inquietas. Dormir, que deveria ser um processo restaurador e natural, tornou-se uma batalha diária para muitas pessoas.


O que a ciência já sabe sobre cannabis e sono


O sistema endocanabinoide, presente em todos os seres humanos, têm um papel importante na regulação do ciclo sono-vigília. Por isso, a cannabis medicinal vem sendo investigada como uma alternativa aos tratamentos convencionais para distúrbios do sono.


Muitos pacientes que fazem uso de derivados da cannabis relatam melhora na qualidade do sono e redução no uso de medicamentos tradicionais, que muitas vezes causam efeitos colaterais indesejados, como sonolência excessiva, dependência e prejuízo cognitivo.


Mas os estudos ainda não são conclusivos. Segundo o Dr. Mafer Arboleda, que tem experiência clínica com o tema, os relatos são promissores, mas as evidências científicas ainda são limitadas. Faltam pesquisas com amostras maiores, monitoramento mais rigoroso e estudos de longo prazo que permitam afirmar com mais segurança os efeitos dos canabinoides na chamada "arquitetura do sono".


THC e CBD: dois canabinoides, efeitos diferentes


O THC (tetrahidrocanabinol), conhecido por seu efeito psicoativo, tem mostrado potencial para aumentar o tempo total de sono, especialmente em casos de insônia associada à dor crônica, câncer ou transtorno de estresse pós-traumático. No entanto, doses muito altas podem reduzir o tempo de sono REM, a fase em que sonhamos, consolidamos memórias e processamos emoções.


Já o CBD (canabidiol), queridinho das redes sociais e de muitos produtos de bem-estar, ainda carece de evidência robusta no contexto da insônia. Um estudo pequeno, realizado nos anos 1980, sugeriu que altas doses de CBD (160 mg) aumentaram a duração do sono, mas sem efeito sobre a rapidez para adormecer. Curiosamente, os participantes relataram não se lembrar dos sonhos, outra pista sobre a possível redução do sono REM.


O que podemos esperar e o que ainda falta saber


Apesar da popularidade crescente da cannabis medicinal para tratar a insônia, é importante ter cautela. Nem todas as pessoas respondem da mesma forma, e os efeitos variam de acordo com a dose, a proporção entre THC e CBD, o tempo de uso e as particularidades de cada organismo.


Além disso, a regulamentação ainda é um desafio. Muitos produtos disponíveis no mercado não têm controle de qualidade rigoroso, o que pode comprometer a eficácia e a segurança do tratamento.


Para o Dr. Arboleda, o caminho é seguir com seriedade e pesquisa: “Embora existam relatos e depoimentos de que a cannabis medicinal melhora o sono, as evidências clínicas são limitadas. Precisamos continuar a desenvolver pesquisas médicas de alta qualidade para fornecer mais respostas sobre a eficácia, segurança, formulações, dosagens e efeitos a longo prazo”.


Enquanto isso, cuide da sua noite


Antes de recorrer à cannabis ou qualquer outro tratamento, uma boa dica é revisar a chamada higiene do sono, um conjunto de hábitos que favorecem o descanso natural do corpo. Entre eles:


- Evite cafeína, álcool ou nicotina antes de dormir.


- Desligue as telas pelo menos uma hora antes de ir para a cama.


- Estabeleça um horário regular para dormir e acordar.


- Use a cama apenas para dormir, não para trabalhar ou assistir TV.


- Crie um ambiente silencioso, escuro e com temperatura confortável.


- Evite discussões ou tarefas importantes à noite.


- Não vá para a cama ansioso, com raiva ou preocupado.


Dormir bem é uma necessidade, não um luxo. E, se a cannabis medicinal puder ajudar, com responsabilidade, orientação médica e evidências confiáveis, que seja mais uma ponte rumo ao alívio. Afinal, todos merecem fechar os olhos à noite com a alma em paz e acordar no dia seguinte sem o peso de mais uma batalha contra o sono.

Com informações de El Planteo.

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