Por Caroline Apple e Izabela Canário*
Para comemorar o Dia Internacional da Mulher, o Sechat preparou uma série de matérias especiais para contar um pouco da trajetória das mulheres que estão ajudando a revolucionar a história da Cannabis no Brasil.
Na primeira matéria do especial, contamos a história de mulheres que estão à frente das associações de pacientes, cultivo e promoção do uso da Cannabis, que trouxeram um relato sincero de como é ser mulher dentro do universo canábico e como lidam com o preconceito e o machismo presentes também nessa área.
Agora, é a hora de contar a jornada das mulheres que estão à frente de grandes empresas ligadas ao universo da Cannabis. Mulheres de negócios, como CEOs, presidentas, vice-presidentas, coordenadoras entre outros cargos de destaque.
Confira essas histórias:
Viviane Sedola – CEO & Founder da Dr. Cannabis

“Estou no mercado digital há 10 anos e fui Relações Públicas. Quando entendi que o desafio em torno da Cannabis era de comunicação e informação, mas não científico, senti que poderia contribuir muito com este movimento e lancei a Dr. Cannabis.
Nosso jargão é: A informação é o melhor remédio. Entendemos que conteúdo e orientação de qualidade são o primeiro passo para dar acesso à terapia com Cannabis.
Eu não diria que o mercado de Cannabis é mais machista do que o mercado como um todo. Eu acho lindo as mulheres terem mais protagonismo em um mercado que gira em torno de uma planta fêmea. As qualidades e efeitos que a planta gera em nosso corpo são, arquetipicamente, femininas: calma, conforto, atenuação de dores e etc.
Espero que a mulher se destaque cada vez mais na indústria e venho trabalhando com as minhas colegas neste sentido.
Camila Teixeira – CEO & Founder da Indeov

“Mulheres sofrem preconceito diariamente, o preconceito dentro do mercado de Cannabis é só mais um aspecto dessa cultura que lutamos diariamente para mudar.
Por muito tempo as únicas vozes que ouvíamos ao falar de negócios eram masculinas, mas hoje em dia esse cenário se desenha de uma forma totalmente diferente. O mercado de Cannabis no Brasil tem mulheres em cargos de liderança e tem atraído cada vez mais talentos femininos para as operações.
Porém, tenho algumas amigas empresárias no setor nos EUA que dizem sentir os efeitos na prática com a maior presença de homens no setor, como dificuldade de captação de investimento, obtenção de empréstimo, força política e até redução em vendas.
Sempre brinco que a natureza não falha: as plantas com maior potencial terapêutico são femininas! Sempre considerei as mães brasileiras como as responsáveis pela abertura do setor no Brasil.
Quanto mais desafios, mais nos fortalecemos e mais alcançamos nossos objetivos. É justamente pelas barreiras que encontramos que ganhamos mais força para conseguirmos avançar com sucesso nessa batalha (seja na perspectiva regulatória, pelos “nãos” dos profissionais que poderiam ajudar tantos pacientes (médicos), pelos tantos “nãos” que ainda recebemos do que pode e do que não pode ser feito.
Acredito tanto no destaque da mulher nesta área que 90% da equipe Indeov é composta por mulheres.
O mundo está em transformação e somos inegavelmente uma força motriz dessa movimentação. A Cannabis, como mercado que desponta para o futuro, não será diferente. De um modo geral, mulheres cuidam mais de sua saúde e são mais conscientes da saúde de seus familiares.
Vejo mães e cuidadoras que fazem tudo que podem para levar conforto para quem precisa e ainda conseguem viver suas vidas profissionais. Com maior acesso à informação, não tenho dúvida que veremos cada vez mais mulheres empreendendo no ecossistema de Cannabis brasileiro. Porém, é preciso união entre as mulheres nessa área.”
Vanessa de Araújo Martins – Coordenadora Nacional do Clube de Cannabusiness

“Vejo que há um engajamento especial e sensibilizado por parte de nós mulheres, pelo fato de percebemos o sofrimento alheio ao nosso redor, nos mobilizando na busca para amenizar essa dor. Ser testemunha participante desse momento épico de desenvolvimento do ecossistema canábico no Brasil é fantástico e me enche de orgulho.
Quando analisamos a história da origem da Cannabis medicinal no Brasil e no mundo, conseguimos enxergar a importância das mulheres no cenário central.
Essa história começou com mães que queriam manter seus filhos e parentes vivos e traçaram uma luta árdua com as conquistas a passos lentos e morosos, vendo muitas vezes seus filhos ou familiares morrendo por falta de acesso ao único meio de alívio.
Geralmente, o comportamento das mulheres é de proteção e, por isso, são mais atentas aos cuidados com sua própria saúde e de sua família. Posso falar por mim, que sempre procuro e estudo o melhor tratamento para quem amo. E a Cannabis é uma opção terapêutica interessante, porque tem resultados expressivos.”
Cristiana Prestes Taddeo – CEO da Hempcare

Sou paciente e uso o extrato há quase 20 anos. Atuo à frente da Fundação Behemp há 17 anos e também desenvolvo medicamentos, cosméticos e alimentos na Hempcare, aqui e fora do Brasil, onde é permitido atuar.
A mulher sofre preconceito 24 horas, mas no mercado de Cannabis aqui no Brasil pelo menos, sinto todos os homens muito respeitosos, envolvidos e felizes em com as participações femininas no mercado.
Mas faço reuniões com dez, onze homens. Quando chega uma mulher muda tudo, temos forças juntas.
Acredito que a mulher tem se destacado porque a mulher seja mais sensível ao ponto de entender e trabalhar a Cannabis como um tratamento para dezenas de doenças. Independente do uso terapêutico ou social, ela trata o tempo todo se usada com moderação e responsabilidade.
Espero que a mulher continue se destacando. Aqui no meu escritório, por exemplo, as mulheres são a maioria.”
Caroline Heinz – Vice-presidenta da HempMeds

“Nos Estados Unidos e em outros países, o número de mulheres trabalhando nessa indústria é muito grande, comparando com outras indústrias que têm cargos executivos dominados, majoritariamente, por homens.
A Colômbia tem um exemplo interessante: alguns produtores de Cannabis no país incentivam mulheres de comunidades locais, especialmente mães, a trabalhar nas plantações e na extração do óleo rico em CBD, para incentivar a geração de emprego.
Acredito que as mulheres estão se destacando cada vez mais na indústria da
Cannabis, embora, em geral, os cargos executivos ainda são dominados por homens. Mas já existem bons exemplos.
Eu sou uma mulher executiva no grupo Medical Marijuana Inc, do qual a HempMeds Brasil faz parte. E tenho orgulho de dizer que o
time da HempMeds Brasil é formado, majoritariamente, por mulheres.
Não identifico preconceito, especialmente porque, no Brasil, a história da Cannabis medicinal esteve diretamente atrelada à luta das mães em busca de tratamento para seus filhos. Em 2014, todo o país assistiu na imprensa como mães de crianças epilépticas – como Katielle Fisher, Margarete Brito e Camila Guedes – brigaram na Justiça pelo direito de importar óleo rico em canabidiol (CBD).
Além disso, a planta Cannabis também é feminina. O preconceito às mulheres não tem espaço nesse mercado.”
*Estagiária com supervisão