A medicina veterinária como oportunidade de crescimento econômico
A trajetória desse setor depende da integração entre ciência, legislação e mercado
Publicada em 23/05/2024
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A abertura do terceiro Congresso Brasileiro de Cannabis Medicinal, que deu início nessa quinta-feira, 23 de maio, no Expo Center Norte em São Paulo, trouxe como tema a medicina veterinária e o desenvolvimento da economia canábica brasileira.
Nos últimos anos, a cannabis medicinal tem emergido como um setor promissor no campo da saúde no Brasil, com potenciais aplicações também para o bem-estar animal.
Pesquisas conduzidas por especialistas como Rodrigo Montezuma, técnico em agropecuária, médico veterinário e advogado, e Erick Amazonas, médico veterinário e pesquisador sobre cannabis na UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), destacam o papel crucial da aplicação da cannabis na medicina veterinária para expansão desse cenário econômico.
Para Rodrigo Montezuma, a atividade veterinária não pode parar, e existe um mercado pet gigantesco e também de animais de produção. São exemplos de mercado onde a cannabis tem espaço de atuação, seja para saúde animal, alimentação, entre outros.
“Do ponto de vista jurídico estamos avançando na prescrição pelo bem estar animal e isso é o que argumenta o uso dos produtos de cannabis, uma vez que a Anvisa não regulamenta o uso veterinário. Dentro do conselho de veterinária já temos um grupo de trabalho, e estamos plantando esse debate de forma sólida. Continuamos na pauta no conselho, na Anvisa e no Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento). Com certeza, a veterinária está entre os maiores mercados do mundo em termos farmacêuticos”, complementa Rodrigo.
Esse novo ramo da economia canábica promete revolucionar o tratamento de animais de estimação, de produção e silvestres, trazendo benefícios econômicos e sociais significativos para o país.
Uso veterinário da Cannabis: avanços e aplicações
A utilização de cannabis para fins veterinários ainda é um campo recente, mas os resultados são promissores. Incentivar pesquisas e startups é essencial para o avanço do setor.
Estudos realizados por pesquisadores brasileiros indicam que o canabidiol (CBD), um dos compostos não psicoativos da planta, pode ser eficaz no tratamento de diversas condições em animais, incluindo ansiedade, dores crônicas, artrite e epilepsia.
“Os veterinários já têm acesso a medicamentos muito mais lesivos para tratar diversas patologias, a cannabis é segura, efetiva e conseguimos alcançar o efeito terapêutico que se espera”, pontua Dr. Rodrigo Montezuma.
Desafios regulatórios e oportunidades econômicas
Erick Amazonas, médico veterinário e pesquisador sobre cannabis na UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) enfatiza sobre a importância de uma regulamentação adequada para o desenvolvimento desse mercado.
“Estamos falando de uma planta completa e segura, que traz muita qualidade de vida para pessoas e animais. Se fossemos esperar a regulamentação não estaríamos hoje tendo tantos pacientes beneficiados pela medicina canábica. É muita ignorância estarmos vivendo esse modelo proibicionista que dificulta o acesso, às pesquisas e à informação. O que o Brasil está esperando? É preciso cumprir a lei que já prevê o plantio e a produção de cannabis no país”, reforça Erick Amazonas.
A regulamentação não apenas assegura a qualidade e a segurança dos produtos, mas também abre caminho para um mercado promissor.
Estima-se que a economia canábica veterinária pode gerar milhares de empregos e incrementar significativamente a arrecadação de impostos.
O professor Gaston entende que o Brasil, ainda que esteja caminhando lentamente para estruturar o setor, está fazendo de forma ordenada utilizando os grupos de poder e a informação/educação.
“O primeiro passo é criar uma estrutura de base, pensando no plantio através da agricultura familiar, para produzir insumo até o beneficiamento. Incluir nesse processo as universidades e startups como alicerces da pesquisa. Esses modelos foram aplicados tanto no Paraguai como Uruguai e os resultados foram satisfatórios”, pontua Gaston Gaston Lepera, consultor internacional em assuntos regulatórios, mercado, produção e industrialização da cannabis.
A medicina veterinária está posicionada para ser um pilar importante no desenvolvimento da economia canábica brasileira. Com a regulamentação adequada, investimentos em pesquisa e a mudança cultural necessária, o Brasil pode se tornar um líder global nesse mercado emergente.
“É preciso entender que estamos falando de vida, por isso deveríamos estar investindo em todos os setores que incluírem a cannabis, industrial e medicinal”, reforça Montezuma.
Apesar das promessas, o preconceito cultural e a desinformação sobre o uso de cannabis, tanto para humanos quanto para animais, ainda são barreiras a serem enfrentadas. Investir em educação de profissionais e na divulgação científica são essenciais para desmistificar o uso da planta e assim, vencer os estigmas sobre o uso da cannabis.
Este novo campo não apenas promete melhorar a qualidade de vida dos animais de estimação, mas também impulsionar a economia, gerar empregos e posicionar o país na vanguarda de uma indústria global em expansão.
“O que falta para nós é a segurança para prescrever. Falta bom senso nas áreas regulatórias, ou seja, lei. Falta a Anvisa entender que somos médicos e por isso, temos o direito de prescrever como qualquer outro médico. Falta a classe se movimentar ainda mais massivamente com consciência de classe. Existe um consenso de que a cannabis é eficiente, mas falta vontade política de regulamentar esse mercado”, defende Dr. Erick Amazonas.