A regulamentação da Cannabis e o momento político
Ano eleitoral é o melhor momento para tratar da pauta da cannabis no Brasil?
Publicada em 02/08/2022

Por Norberto Fischer
Estamos em 2022, ano de eleição presidencial, e dois questionamentos ganham destaque:
- Será que devemos pressionar os políticos para que o PL 399 volte a tramitar?
- Será esse um momento político adequado para regulamentação da cannabis no Brasil?
Relembrando do passado recente, lá no início de 2015, pouco tempo depois que tivemos autorização judicial para a importação de produtos ricos em Cannabidiol, sempre que o assunto envolvia a planta “maconha”, os debates ficavam imediatamente acalorados.
Não importava se a discussão fosse sobre o uso industrial, social, medicinal ou religioso, a divergência de opiniões era marcante, refletia em posicionamentos antagônicos e, às vezes, radicais. E quando o assunto avançava para o lado da “política sobre drogas e a descriminalização”, tornava-se ainda mais espinhoso.
Agora, voltando o olhar para o presente, percebemos que pouca coisa mudou sobre esse comportamento.
Acredito que muitos irão concordar, mas avançar hoje com o PL 399, ou alguma outra regulamentação que tenha como sustentação apenas os sentimentos e a opinião dos políticos, que pouco conhecem sobre o assunto e quase nada sobre a realidade das milhares de famílias que usam a planta como alternativa medicinal, é alto o risco de retrocesso.

Por outro lado, polêmico ou não, a atual falta de regulamentação tem deixado lacunas legais e os avanços estão ocorrendo de forma desordenada e sem um norte em comum, o que também é um risco para uma futura regulamentação.
E, qual a situação hoje, o que mudou desde 2015 até 2022 no Brasil sobre esse assunto?
- - Nunca se estudou e produziu tantos trabalhos nas universidades sobre a maconha e seus usos;
- - A importação da planta está sendo autorizada para estudos e pesquisas;
- - Famílias em todo o território nacional estão obtendo “salvo conduto” para o auto cultivo; e
- - Ampliou significativamente a quantidade de ONGs que estão produzindo coletivamente, com autorização judicial ou de forma ilegal mesmo.
Com base nesse cenário é evidente que a maconha tem conquistado cada vez mais espaço em segmentos da sociedade que nunca haviam parado para pensar sobre o assunto. E quanto maior for a maturidade e conhecimento da sociedade, maiores serão as chances de avançarmos para uma regulamentação mais justa e perfeita para todos.
Enquanto o assunto aguarda, aparentemente adormecido e os políticos se dedicam às eleições, precisamos continuar aprofundando nossos conhecimentos, ampliando as pesquisas e divulgando os resultados fundamentados e comprovados.

Pois, daqui a pouco, após as eleições, precisamos estar ainda mais maduros para enfrentar o exaustivo processo de regulamentação, precisaremos ter muito mais informações científicas para subsidiar os tomadores de decisão e garantirmos uma regulação que assegure o amplo direito em relação a todos os possíveis usos da planta.
#PenseNisso
As opiniões veiculadas nesse artigo são pessoais e de responsabilidade de seus autores.
Norberto Fischer é pai de Anny Fischer, primeira brasileira autorizada legalmente a importar o extrato da maconha para uso medicinal. Tornou-se articulador político no Brasil, com repercussão internacional, destacando-se no ativismo pelo direito ao acesso, distribuição pelo SUS, custeio dos tratamentos pelos planos de saúde, plantio e produção nacional por empresas, ONGs e autocultivo.