A vulnerabilidade econômica da Colômbia: algumas implicações para a indústria de cannabis da crise evitada com os Estados Unidos

Dois dos principais mercados para a indústria de cannabis enfrentam mudanças que não podem ser ignoradas

Publicada em 19/02/2025

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Foto de domínio público publicada na página Trump White House Archived


Em janeiro, o mundo foi surpreendido pela emissão de uma série de ordens presidenciais dos Estados Unidos que, entre outras medidas, suspendiam a assistência internacional oferecida pelo governo norte-americano a diversos países, incluindo a Colômbia. Além disso, até menos de 72 horas atrás, a Colômbia esteve prestes a sofrer a imposição de uma tarifa alfandegária de 25% sobre toda sua produção exportável para os Estados Unidos, com a perspectiva de que essa taxa aumentasse para 50% em apenas uma semana. Também estavam previstas sanções no âmbito migratório e financeiro, o que poderia ter desencadeado uma crise sem precedentes na história recente do país.

Embora, até a data de publicação deste artigo, tenha sido informado que a situação foi resolvida por meio de canais diplomáticos, o ocorrido evidencia a fragilidade de indústrias como a de cannabis na Colômbia.

De acordo com dados do Ministério do Comércio, Indústria e Turismo, os Estados Unidos (junto com Brasil, Austrália e Alemanha) estão entre os principais destinos das exportações colombianas de cannabis. Em 2023, foram exportados USD 1.095.027 – quase o dobro do total exportado em 2022, que foi de USD 556.524. Embora os números consolidados para 2024 ainda não tenham sido divulgados, até setembro do ano passado, as exportações já somavam USD 1.080.293.

Além dos dados de exportação, esse “incidente” também ilustra outros desafios políticos e econômicos que a indústria de cannabis e cânhamo enfrenta no país.

Aumento da incerteza para empresas que desejam entrar no mercado norte-americano (Estados Unidos e Canadá)

 

Dois dos principais mercados para a indústria de cannabis enfrentam mudanças que não podem ser ignoradas.

Por um lado, o Canadá terá eleições e mudança de governo este ano. Alguns veículos especializados sugerem que um governo de tendência conservadora pode reduzir os gastos federais, afetando instituições como a Health Canada. Empresários canadenses, cientes da incerteza interna, têm buscado oportunidades em outros mercados – e a Colômbia não é exceção.

Embora ainda não haja clareza sobre as importações de cannabis devido a diferenças na modalidade e classificação alfandegária, recentemente foi divulgado um projeto de Resolução do Instituto Colombiano Agropecuário (ICA), estabelecendo requisitos fitossanitários para a importação de flores secas do Canadá:

  • - O certificado fitossanitário do país de origem deve declarar expressamente que a carga está livre das pragas Cryptolestes pusillus e Trogoderma variable.
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  • - O envio deve estar livre de sementes inteiras.
  • - Devem ser utilizados embalagens ou recipientes novos que permitam a inspeção fitossanitária. 

    - Haverá inspeção fitossanitária no ponto de entrada das mercadorias.

     

Esse projeto de Resolução abre caminho para que a Colômbia importe flores secas do Canadá, algo viável em um ambiente de livre comércio e concorrência. No entanto, também reforça a necessidade de apoio à indústria nacional, que há anos reivindica atenção para seu desenvolvimento. O que acontecerá, por exemplo, com as comunidades que participaram da construção da Política Nacional sobre Drogas com o objetivo de criar modelos empresariais alternativos? E com as empresas que ainda apostam no mercado local?

Por outro lado, nos Estados Unidos, a reclassificação da cannabis da Lista I para a Lista III da Lei de Substâncias Controladas (CSA) ainda não ocorreu, apesar da ordem presidencial de 2023. Além disso, devido ao American Relief Act, a Lei Agrícola de 2018 permanecerá em vigor até setembro de 2025, prolongando a incerteza sobre o futuro da indústria de cannabis e cânhamo. Entre as possíveis mudanças em debate estão a proibição federal de produtos comestíveis de cânhamo contendo qualquer nível de THC, a redefinição do limite de THC e a permissão apenas para compostos naturais não intoxicantes.

O longo caminho para diversificar a oferta exportável colombiana

 

Apesar das oportunidades de diversificação da pauta exportadora colombiana com a cannabis, as exportações agrícolas ainda são dominadas por produtos tradicionais como café, banana, flores e cacau.

A crise que quase se configurou no último domingo revelou a forte dependência comercial da Colômbia – 29% do total das exportações, segundo dados de novembro de 2024 da Associação Nacional de Comércio Exterior (ANALDEX). No entanto, pouco tem sido feito para apoiar as empresas de cannabis e cânhamo na Colômbia a ingressar em mercados bilionários como o dos Estados Unidos, tanto no setor medicinal quanto no recreativo.

Além disso, não há avanços na regulamentação do uso adulto de cannabis, que poderia impulsionar significativamente a indústria. Pelo contrário, o foco tem migrado para a atenção a outras substâncias, possivelmente devido ao interesse político do governo em lidar com a violência e a substituição de economias ilícitas em regiões como Cauca e Catatumbo.

A relação com a nova administração dos Estados Unidos será essencial

 

Este incidente reforça a necessidade de fortalecer a diplomacia para resolver questões que impactam milhões de pessoas. Também destacou a importância da união para buscar soluções sensatas.

A indústria de cannabis e cânhamo deve seguir esse exemplo e se manter unida para defender as conquistas já alcançadas. Mais do que nunca, é essencial que o setor permaneça ativo e atento às mudanças que estão por vir.