Cânhamo supera resistência do algodão em até 55% em testes realizados no Brasil
Análises do Senai Cetiqt mostram que tecidos com fibra de cânhamo da empresa Ayraa têm maior resistência e inibem a proliferação de bactérias
Publicada em 23/10/2025

Foram realizados três diferentes ensaios com duas composições distintas: uma com 30% de cânhamo e outra com 15% tecidos da empresa Ayraa. Imagem: Canva Pro
Testes técnicos realizados em tecidos de cânhamo no Brasil revelaram um desempenho significativamente superior em comparação ao algodão. Conduzidas pelo Instituto Senai Cetiqt, as análises apontaram que a fibra pode aumentar a resistência de um tecido em até 55% e ainda inibe a proliferação de bactérias.
Foram realizados três diferentes ensaios com duas composições distintas: uma com 30% de cânhamo e outra com 15% tecidos da empresa Ayraa. No teste de tração - obtidos com exclusividade pelo Sechat - a amostra com 30% de cânhamo alcançou uma resistência de 440 N (Newtons), enquanto a de 15% registrou 330 N.

"Quando comparamos com um algodão tradicional, o tecido com 15% de cânhamo foi 28% mais resistente, enquanto a composição com 30% foi 55% superior", explica Marcelo Sertório Fernandes, empresário à frente da Ayraa. "Isso significa que um uniforme que duraria um ano poderia ter sua vida útil estendida para mais de um ano e meio."
As superioridades se mantem no estudo que investigou as propriedades antimicrobianas de um tecido com 15% de cânhamo. O ensaio demonstrou uma eficácia de 55,35% na redução da proliferação da bactéria E. coli --uma infecção causada por certas bactérias.
"O que o teste mostrou é que o cânhamo cria um ambiente onde as bactérias não se proliferam na mesma velocidade", esclarece Fernandes. Essa característica abre um leque de aplicações funcionais para peças de vestuário, como bonés e roupas esportivas.
Uma vantagem incontestável

A superioridade do cânhamo vai além, destacando-se também nos ganhos ambientais. Para produzir 1 kg de fibra, a cultura do cânhamo exige cerca de 2.900 litros de água, enquanto o algodão pode consumir até 10.000 litros.
Além da economia de água, o cânhamo é naturalmente resistente a pragas, eliminando a necessidade de pesticidas. Suas raízes profundas melhoram a saúde do solo e, com um ciclo de crescimento rápido, a planta também se mostra uma eficiente "sequestradora" de CO2 da atmosfera.
Estratégia para conquistar o mercado brasileiro

Segundo Marcelo, os laudos técnicos são parte de uma estratégia para dar respaldo a confecções e grandes varejistas, quebrando barreiras de preço e preconceito. "Existem só duas barreiras que impedem o cânhamo de crescer: preço e preconceito. Acreditamos que, ao vencer o preconceito com dados, a demanda aumentará abrindo caminho para a regulamentação", afirma o empresário, que destaca ainda a maior produção das fibras como chave para diminuição do preço.
O objetivo é posicionar o tecido de cânhamo em grandes magazines no Brasil, seguindo o exemplo de marcas internacionais. Com o apelo de sustentabilidade e durabilidade, a aposta é que o consumidor final valorize produtos com maior longevidade e menor impacto ambiental.
Para testar a percepção do público, a marca Hint.eco comercializa produtos feitos com a fibra. A resposta, segundo Fernandes, tem sido surpreendente. "A adesão tem sido grande, pois o consumidor hoje tem um viés forte de sustentabilidade. Ele não quer ter 50 camisetas, mas sim 10 que ele goste e que durem", conclui.



