Potencial bilionário da cannabis no agro brasileiro: Carlos Cogo analisa nova commodity que pode tornar o Brasil líder global

Com aplicações que vão da indústria farmacêutica à construção civil, setor se estrutura com maquinário, pesquisas e investimentos, e deve crescer mesmo antes da regulamentação definitiva do cultivo no Brasil; o consultor falou sobre o tema durante entrevista no Andav 2025

Publicada em 06/08/2025

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Carlos Cogo durante palestra no Andav 2025. Imagem reprodução Instagram

O cultivo de cannabis desponta como uma das grandes apostas para diversificação e inovação do agronegócio brasileiro. Com aplicações que vão além do uso medicinal, a planta também é usada na construção civil, produção de biocombustíveis, bioplásticos, tecidos, nutrição animal e humana — uma cadeia produtiva robusta que vem atraindo investimentos e mobilizando universidades, startups e grandes indústrias dentro e fora do país.

Segundo levantamento da Kaya Mind, o mercado da cannabis no Brasil pode movimentar até R$ 1 bilhão já em 2025, mesmo antes da regulamentação definitiva do cultivo. Atualmente, mais de 672 mil pacientes utilizam medicamentos à base da planta no país, o que impulsiona a indústria através da importação de produtos à base da planta via RDC 660, a venda nas farmácias via RDC 327 e o acesso por meio de associações de pacientes e auto cultivo, verticais que mostram a força do setor. Mas os avanços não param por aí.

Empresas do agronegócio já se preparam para atender essa nova demanda. No mercado, jé possível encontrar fabricantes especializados em estufas automatizadas, empresa voltada para bioinsumos, com o foco no desenvolvido tecnologias específicas para o cultivo de cannabis medicinal. No exterior, players do setor já oferecem maquinário de processamento adaptado para o mercado brasileiro.

A Embrapa, em parceria com outras 31 instituições de pesquisa — incluindo 29 universidades e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) — está elaborando uma Nota Técnica que será entregue ao Governo Federal até 15 de agosto. O documento visa apresentar um panorama dos desafios técnicos e processuais enfrentados pelas instituições que realizam pesquisas com cannabis no Brasil, com o objetivo de fortalecer e avançar o processo de regulamentação científica da planta no país.

Além disso, o setor acadêmico também se movimenta. A Universidade Federal de Lavras (UFLA) lançou um projeto voltado à capacitação e difusão de conhecimento técnico sobre controle de pragas no cultivo de cannabis, oferecendo suporte a produtores e profissionais da área rural que buscam se preparar para a futura abertura do mercado legal.

Esse cenário promissor foi reforçado pelo consultor em agronegócios Carlos Cogo, durante o Congresso Andav 2025, realizado de 5 a 7 de agosto em São Paulo. Com 30 anos de experiência no setor e passagem pelo Ministério da Agricultura, Cogo destacou que o Brasil tem condições agronômicas, estrutura de safra e mercado para liderar a produção mundial da planta.

“Mais uma oportunidade. Nós temos áreas para isso. O Brasil já tem uma tradição de plantar em segundas e terceiras safras — ou seja, em áreas que ele já ocupa no verão. Pode ocupar essas áreas com diversos cultivos, entre eles a cannabis.”

De acordo coma análise de Cogo, potencial também reflete a inserção internacional:

“Pode se tornar um player global interessantíssimo, importantíssimo e destacado, como vem acontecendo com a maior parte das commodities. Então, aqui eu acho que a vertente é crescer, aproveitar as oportunidades — todas elas — seja de mercado interno, mas principalmente de mercado externo.”

A fala do especialista ocorre em um momento estratégico. No dia 1º de agosto, a ministra Regina Helena Costa, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), intimou a União e a Anvisa a informarem o andamento da regulamentação do cultivo da cannabis com baixo teor de THC para fins medicinais, com prazo até 30 de setembro. A decisão integra um plano de ação iniciado em novembro de 2024, quando o STJ ordenou a criação de um cronograma oficial por parte do governo federal, Anvisa e Ministério da Agricultura.

Mesmo assim, o setor privado segue avançando, impulsionado pela demanda e pela perspectiva de crescimento global. Para Carlos Cogo, a transformação cultural em torno da cannabis é essencial para o Brasil aproveitar esse potencial:

“Esse preconceito vai caindo à medida que a gente informa bem a sociedade e entende o grande proveito que pode se tirar disso, como um país portador de medicamentos, de soluções — e não de problemas.”, disse o especialista que reforçou: “É preciso tirar isso de um ambiente tóxico, de uma discussão denegrida por questões de tráfico internacional, e levá-lo para um horizonte medicinal — um horizonte que existe de fato, e que é o melhor de todos.”

 

Veja a entrevista: