Cannabis nos cuidados paliativos: alívio da dor, sono e bem-estar em pacientes oncológicos

Descubra os benefícios da cannabis nos cuidados paliativos e como ela ajuda a aliviar dor, náuseas e ansiedade em pacientes com câncer neste Outubro Rosa

Publicada em 16/10/2025

Cannabis nos cuidados paliativos: alívio da dor, sono e bem-estar em pacientes oncológicos

Outubro é o mês dos cuidados paliativos: a cannabis medicinal como aliada nos tratamentos oncológicos | CanvaPro

Outubro é um mês que costuma despertar a atenção para o “Outubro Rosa” e a importância da prevenção do câncer de mama. Mas também é um convite à reflexão sobre algo igualmente essencial: o cuidado com quem já está na linha de frente da luta contra a doença. Nos cuidados paliativos oncológicos, o foco vai além da cura, é sobre qualidade de vida, alívio do sofrimento e dignidade.


E nesse contexto, a cannabis medicinal tem se mostrado uma ferramenta complementar importante, especialmente no controle de sintomas que o tratamento convencional nem sempre consegue amenizar.


O que são cuidados paliativos e por que falar disso em outubro


Os cuidados paliativos têm como objetivo aliviar sintomas físicos, emocionais e espirituais de pessoas com doenças graves, buscando conforto e autonomia. Não se trata de desistência, mas de respeito à vida em todas as suas fases.


Segundo a médica paliativista Silvia Seligmann Soares, de Salvador/BA, “nos cuidados paliativos oncológicos, a cannabis medicinal pode ser uma ferramenta complementar valiosa. Não substitui os tratamentos convencionais, mas pode potencializar o controle de sintomas difíceis, especialmente quando a resposta às terapias habituais não é satisfatória".

 

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Ela explica também que os canabinoides, especialmente o THC e o CBD, atuam em receptores do sistema endocanabinoide, que modulam dor, náusea, apetite, sono e humor, sintomas que frequentemente impactam de forma significativa a qualidade de vida dos pacientes.

“Além disso, o uso racional da cannabis medicinal pode reduzir a necessidade de opioides e antieméticos, diminuindo efeitos colaterais cumulativos. Tudo isso se traduz em algo essencial nos cuidados paliativos: alívio do sofrimento global e preservação da autonomia e da dignidade do paciente”, reforça.


Benefícios da cannabis nos cuidados paliativos oncológicos


Estudos nacionais e internacionais têm apontado que os benefícios da cannabis medicinal nos cuidados paliativos vão desde o controle da dor até a melhora do apetite, do sono e do bem-estar emocional.


Entre os principais efeitos observados:

  • Controle de náuseas e vômitos causados pela quimioterapia;
  • Aumento do apetite e melhora do estado nutricional;
  • Redução da dor crônica e da necessidade de opioides;
  • Melhora da ansiedade, do sono e do humor;
  • Maior sensação de bem-estar e disposição.


A médica ressalta ainda que, quando utilizada com acompanhamento profissional, a cannabis medicinal pode representar uma mudança significativa na experiência do paciente oncológico. “É um recurso que ajuda a resgatar o conforto, o sono, o apetite, e até a vontade de conversar, de se conectar. Tudo isso tem impacto direto na forma como a pessoa encara o tratamento e a própria vida", afirma.


Desafios e resistência ainda enfrentados


 

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“Cuidar é aliviar o sofrimento e preservar a dignidade", diz a médica paliativista Silvia Seligmann Soares | Foto: Arquivo Pessoal

 

Apesar do crescente número de estudos e resultados clínicos promissores, o uso da cannabis medicinal ainda enfrenta resistência dentro da comunidade médica. Silvia explica que essa resistência tem várias causas. “Do ponto de vista científico, ainda carecemos de ensaios clínicos robustos e padronizados, pois a cannabis é uma substância complexa, que tem mais de cem fitocanabinoides e múltiplos mecanismos de ação no organismo. Além disso, as variações de formulação, dose e vias de administração dificultam a produção de evidências comparáveis".


Ela também aponta fatores éticos e formativos. “Existe um preconceito histórico. Por muito tempo, a cannabis foi associada ao uso recreativo e a um estigma negativo. E, mesmo depois da descoberta do sistema endocanabinoide na década de 1990, ele ainda não foi incluído de forma estruturada na formação médica. Isso dificulta muito a quebra de barreiras", reflete.


No Brasil, o acesso à cannabis medicinal pode ser feito através das associações de pacientes, importação por pessoa física e compra diretamente nas farmácias, mas o acesso ainda é limitado para grande parte da população, principalmente devido ao custo e à ausência de produtos no SUS.


“Acredito que a incorporação mais ampla passa por educação médica continuada, políticas públicas inclusivas e estímulo à pesquisa”, completa Silvia.


A dimensão emocional e espiritual do cuidado


Cuidar de quem enfrenta o câncer é também acolher o invisível: o medo, a ansiedade, a solidão. A medicina paliativa entende que o sofrimento humano é multifacetado, e o alívio só é pleno quando considera corpo, mente e espírito.


Ainda segundo Silvia, o cuidado paliativo é, antes de tudo, uma prática centrada na pessoa e não apenas na doença.“A cannabis medicinal pode atuar de maneira significativa nessa dimensão mais subjetiva do sofrimento. Se trouxermos o conceito de Dor Total, criado por Cicely Saunders, entenderemos que o alívio adequado requer abordar dimensões psíquicas, espirituais e sociais”.


Silvia resume o papel da cannabis nesse contexto com sensibilidade: “A cannabis não é apenas uma molécula, é uma ferramenta dentro de um contexto de cuidado compassivo. Se usada com discernimento e empatia, pode ser uma aliada formidável no resgate da integralidade e da dignidade”, finaliza.