Com foco em eficiência e meio ambiente, Portugal investe em nova geração de extração de cannabis

CannValue é o novo projeto português que investe €2,33 milhões em soluções sustentáveis para a cannabis medicinal, valorizando a biomassa e promovendo uma economia circular no setor

Publicada em 29/05/2025

Com foco em eficiência e meio ambiente, Portugal investe em nova geração de extração de cannabis

Portugal aposta em economia circular na cannabis medicinal com projeto de €2,33 milhões | Imagem: CanvaPro

Na pequena cidade de Cantanhede, em Portugal, onde a tradição caminha lado a lado com a inovação, nasce um projeto que pode transformar a forma como a cannabis medicinal é cultivada, processada e, principalmente, aproveitada. O nome é CannValue e o seu propósito vai além da ciência: é sobre responsabilidade ambiental, eficiência e respeito ao potencial integral da planta.


Liderado pela PortoCanna S.A., em parceria com instituições de excelência como o ISQ (Instituto de Soldadura e Qualidade), a Universidade de Aveiro, o IPMA (Instituto Português do Mar e da Atmosfera) e o iBET, o projeto representa um investimento de 2,33 milhões de euros, sendo 73% cofinanciado por fundos públicos do programa COMPETE 2030. O CannValue nasce com o desafio de desenvolver processos de extração mais sustentáveis e, ao mesmo tempo, criar novos caminhos para a valorização da biomassa remanescente.


Além da extração: um novo olhar para o “resto” da planta


Na prática, a iniciativa pretende romper com uma lógica ainda dominante na indústria: a de que apenas os extratos ricos em canabinoides têm valor. Para a Chief Scientific Officer da PortoCanna, Maria Paulo, é hora de mudar essa perspectiva. “Acreditamos que este projeto marcará um ponto de viragem na forma como a biomassa da cannabis é encarada e aproveitada”, afirma. “Queremos mostrar que é possível, e necessário,  construir uma indústria mais eficiente, circular e ambientalmente responsável". 


Isso significa encontrar utilidades reais para aquilo que antes era descartado. Uma das apostas do CannValue é o desenvolvimento de aplicações para a saúde animal, com destaque para a suplementação alimentar de peixes em sistemas de aquacultura. Uma proposta que une inovação e cuidado, tanto com o meio ambiente quanto com a cadeia alimentar.


Ciência, indústria e meio ambiente de mãos dadas


O projeto CannValue também quer melhorar o que já existe. Isso inclui aprimorar os métodos de extração, estabilização e preservação do óleo de cannabis, com foco em qualidade e eficiência. Ao todo, a equipe pretende desenvolver seis novos processos e cinco produtos inovadores, todos com potencial de aplicação industrial.


Cristina Ascenço, gestora de programas de I&D no ISQ, vê no CannValue um modelo exemplar de como ciência e indústria podem caminhar juntas. “O projeto representa um caminho claro e estruturado para alcançar resultados de inovação tangíveis e mensuráveis, sempre alinhados com os princípios do desenvolvimento sustentável”, destaca.


Além disso, a participação da Bluestabil, empresa do Grupo ISQ, oferece uma estrutura de apoio vital para o controle de qualidade: ambientes com condições climáticas controladas e certificadas pelo Infarmed, o órgão regulador de medicamentos e produtos de saúde em Portugal.


Universidade e pesquisa como base


A Universidade de Aveiro, por meio do CICECO - Instituto de Materiais de Aveiro, traz para o consórcio o conhecimento em química sustentável e valorização de biomassa. Já o IPMA, com sua ampla experiência em ecossistemas e recursos naturais, reforça o compromisso do projeto com o cuidado ambiental.


Essa articulação entre universidades, centros de pesquisa, indústria e órgãos públicos mostra que o CannValue não é apenas um projeto científico. É também um exemplo de política pública bem executada, uma ação concreta que coloca Portugal na vanguarda da cannabis medicinal.


Enquanto os primeiros ensaios laboratoriais são conduzidos, o CannValue se consolida como um convite a pensar diferente. Um chamado à indústria para olhar com mais atenção para o que antes era descartado. Um gesto de respeito à planta, à natureza e à inteligência coletiva que só a ciência colaborativa é capaz de proporcionar.


Portugal já é referência mundial no cultivo regulado de cannabis medicinal. Com projetos como o CannValue, dá agora um passo firme na direção de uma indústria que não só cura, mas também cuida.

Com informações do CannaReporter.