A nova fronteira das drogas sintéticas

Explorando os mistérios e perigos da substância equivocadamente chamada de “super maconha”

Publicada em 21/02/2024

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Nos recônditos das ruas urbanas e nas sombras da internet, uma nova substância tem surgido como uma força desafiadora para as autoridades e profissionais de saúde. Conhecida como "Spice", essa substância tem despertado preocupações devido à sua natureza imprevisível e ao impacto devastador que pode ter sobre o corpo e a mente. Mas o que exatamente é o Spice, como ele age no organismo e qual é sua relação com a cannabis?

O Spice, também chamado de "super maconha" ou "drogas K", é uma mistura de substâncias químicas que são pulverizadas em ervas secas para serem fumadas ou vaporizadas. Essas substâncias, conhecidas como canabinoides sintéticos, imitam os efeitos do THC, o principal componente psicoativo da cannabis. No entanto, o Spice é muito mais potente e imprevisível do que a maconha natural, o que o torna extremamente perigoso para os usuários.

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As chamadas "drogas K", conhecidas nas ruas como K2, K4, K9 e spice, pertencem ao grupo de Novas Substâncias Psicoativas.

“As drogas sintéticas são diferentes dos compostos encontrados na planta in natura, contudo, agem no mesmo receptor canabinoides. O que difere essas duas substâncias é a potência, por ser algo criado em laboratório, os canabinoides sintéticos tem a capacidade de superestimular este receptor”, explica o médico psiquiatra, Wilson Lessa.    

A ação do Spice no organismo, destaca Lessa, é rápida e intensa. Quando inalado, os canabinoides sintéticos se ligam aos receptores do sistema endocanabinoide no cérebro, desencadeando uma série de efeitos que podem variar de euforia e relaxamento a paranoia extrema, alucinações e até convulsões. Além disso, o uso prolongado do Spice tem sido associado a uma série de problemas de saúde, incluindo danos nos rins, no fígado e no sistema cardiovascular, bem como distúrbios psiquiátricos graves, como psicose e depressão.

“É como se fosse um interruptor de luz. Se ligarmos no baixo, a luz fica suave e amena. Mas se ligarmos no máximo, a luz fica forte e intensa. O que acontece com o Spice, é que esta luz está sempre no máximo”, afirma o médico.

Lessa, que tem estudado os efeitos das drogas sintéticas há anos, adverte ainda que o Spice é uma ameaça crescente à saúde pública, principalmente entre os jovens. Sua potência e imprevisibilidade o tornam um dos desafios mais urgentes enfrentados no campo da toxicologia. Embora algumas pessoas possam ser atraídas pela ideia de uma alternativa à maconha, é importante entender que o Spice não é apenas mais forte, mas também muito mais perigoso.  

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O médico Wilson Lessa em entrevista ao repórter João Negromonte do Portal Sechat | Imagem: Leandro Maia

“Os canabinoides sintéticos não provem da cannabis, é um erro chamá-los de ‘super maconha’. Mesmo agindo no mesmo receptor, a ação deles é completamente diferente no organismo. Utilizar esse nome pode criar um pânico nas pessoas”, ressalta o psiquiatra que continua:  

“Os fitocanabinoides (derivados da planta), quando utilizados de maneira correta e com embasamento clínico e científico, demonstram propriedades medicinais contra diversas doenças. Já os sintéticos, aqueles criados em laboratório, foram criados para testes em ratos, e acabaram ‘escapando’ dos laboratórios”, explica.  

Diante das advertências do Dr. Lessa, é evidente que o Spice representa uma séria ameaça à saúde e ao bem-estar daqueles que o utilizam. Como sociedade, é fundamental estarmos informados e alertas sobre os perigos das drogas sintéticas, e trabalharmos juntos para prevenir seu uso e fornecer apoio às pessoas que lutam contra a dependência.