Estudo revela alívio com cannabis em casos graves de epilepsia

19 pacientes canadenses com epilepsia resistente tiveram alívio significativo das convulsões com o uso de cannabis medicinal, incluindo casos com mais de um ano sem crises

Publicada em 05/05/2025

Estudo revela alívio com cannabis em casos graves de epilepsia

Quando a medicina tradicional não basta, a cannabis entra em cena | Imagem: CanvaPro

Imagine viver sob a ameaça constante de convulsões. Para quem convive com a epilepsia resistente a medicamentos (ERM), essa é uma realidade exaustiva e, muitas vezes, desesperadora. 

Uma nova luz começa a brilhar no horizonte: uma série de casos realizada em uma clínica de neurologia no Canadá mostra que a cannabis medicinal pode ser uma aliada poderosa para mudar essa história.

O estudo acompanhou 19 pacientes diagnosticados com ERM, 15 deles crianças e adolescentes, e 4 adultos, que começaram a usar produtos à base de cannabis com canabidiol (CBD) e tetraidrocanabinol (THC). 

Os resultados impressionam: todos apresentaram alívio significativo das crises convulsivas (CC), com duração média de 245 dias livres de convulsões.


O impacto real na vida de pacientes


Essa liberdade, conhecida como "seizure freedom" (SF), é o grande objetivo de qualquer tratamento para epilepsia. E não se trata de um alívio momentâneo: cinco pacientes conseguiram passar mais de um ano sem apresentar convulsões, algo quase impensável antes da introdução da cannabis medicinal.

Além disso, três pacientes conseguiram parar completamente o uso de medicamentos anticonvulsivantes tradicionais. Para muitos, isso significou não só menos efeitos colaterais, mas uma melhora considerável na qualidade de vida, para si e, também, para suas famílias.


CBD e THC juntos: uma combinação que faz diferença


A maioria dos participantes utilizou uma combinação de CBD com THC, seguindo um protocolo gradual adotado pela clínica canadense. A ideia é encontrar, com cuidado e acompanhamento, a dosagem ideal para cada paciente. 

Os resultados indicam que o THC, tantas vezes visto com desconfiança, pode ter um papel importante na redução das convulsões quando bem administrado.

Apesar dos avanços, metade dos pacientes relatou efeitos adversos, o que reforça a importância do acompanhamento médico próximo e individualizado, além da necessidade de mais estudos sobre o perfil de segurança a longo prazo desses produtos.

Os autores do estudo destacam que, embora os resultados sejam promissores, ainda há uma carência significativa de dados clínicos de mundo real, especialmente em pediatria. Por isso, essa série de casos representa um passo importante na construção de evidências que possam orientar políticas públicas, pesquisas futuras e decisões médicas.

Outro ponto levantado pelos pesquisadores é a necessidade de investir na identificação de biomarcadores que ajudem a prever quais pacientes têm mais chances de alcançar a tão sonhada liberdade de crises com o uso de cannabis medicinal.


Caminhos abertos: acesso, pesquisa e esperança


Este estudo também reforça uma pauta urgente: a ampliação do acesso aos produtos de cannabis medicinal. No Brasil, muitas famílias ainda enfrentam barreiras econômicas e burocráticas para conseguir os tratamentos, mesmo quando já existe prescrição e indicação médica.