Primeiro ensaio clínico com CBD em meninos autistas aponta melhora e segurança no tratamento
Estudo reforça a necessidade de novas pesquisas com mais abrangência e rigoras
Publicada em 07/07/2025

Estudo inédito traz esperança e aponta caminhos para o futuro
Para muitas famílias que convivem com o autismo, cada dia é uma travessia, feita de amor, dedicação e busca incansável por qualidade de vida. Afinal, antes mesmo da fala, vem os gestos e, como todos sabem, o corpo fala e grita. Foi com esse pano de fundo humano que pesquisadores da Universidade da Califórnia em San Diego lançaram luz sobre uma possibilidade que há tempos vinha sendo sussurrada por pais e terapeutas: o canabidiol pode ajudar.
Em um estudo inédito e rigorosamente controlado, cientistas do Centro de Pesquisa de Cannabis Medicinal da universidade testaram o uso do CBD em meninos autistas entre 7 e 14 anos com quadros graves de comportamento problemático. O resultado? Dois terços dos participantes mostraram sinais de melhora clínica, principalmente na redução de comportamentos agressivos, hiperatividade e, em alguns casos, avanços na comunicação.
A pesquisa, embora pequena (com 30 participantes), é um marco. É o primeiro ensaio clínico randomizado duplo-cego com placebo controlado que avalia a segurança, tolerabilidade e eficácia do canabidiol em crianças com autismo. E traz não apenas dados, mas sensibilidade: a compreensão de que nenhuma resposta é definitiva, mas toda melhora é significativa quando se fala de infância e sofrimento.
“Apesar das limitações, este estudo fornece novas informações valiosas sobre o potencial papel do CBD na melhora do comportamento em um subconjunto de crianças com autismo”, destacam os autores. Eles também chamam a atenção para o forte impacto do efeito placebo, que afetou ambos os grupos, mostrando o quanto o cuidado em si, a atenção, o afeto e o acompanhamento, também tem poder terapêutico.
Durante o estudo, os meninos foram divididos em dois grupos. Um recebeu o CBD (na dose de 20 mg/kg/dia) por oito semanas, seguido de quatro semanas sem nenhum tratamento e, depois, placebo por outras oito semanas. O outro grupo seguiu a ordem inversa. Ao final, os médicos perceberam que, mesmo com a força do placebo, os efeitos positivos do CBD foram mais consistentes, especialmente na percepção clínica de melhora comportamental.
E, talvez mais importante: o CBD foi bem tolerado e considerado seguro. Nenhuma reação adversa grave foi registrada. O que representa uma grande notícia em um cenário em que muitas crianças acabam sendo medicadas com drogas que têm efeitos colaterais mais pesados.
Mas a ciência também pede cautela. Os pesquisadores reconhecem que é cedo para afirmar que o CBD é uma solução universal. “Mais pesquisas são necessárias”, afirmam. O próximo passo seria repetir o estudo com um número maior de crianças, incluir meninas, utilizar medidas mais objetivas e controlar com mais precisão a interação com outros medicamentos.
Enquanto isso, famílias e profissionais ganham um novo fôlego. Um alento para quem, muitas vezes, caminha no escuro. A pesquisa não fecha uma porta, ao contrário: abre uma janela para o possível, para o cuidado e para a escuta da complexidade que é ser neurodivergente em um mundo que ainda aprende a acolher.
E, como dizem os próprios autores, o estudo reforça um princípio fundamental: é preciso olhar com mais seriedade para os potenciais terapêuticos da cannabis, com ética, ciência e, sobretudo, humanidade.
Com informações de Cannabis Health.
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