Federação das Organizações Internacionais de Cânhamo (FIHO) cobra explicações do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA)
O órgão emitiu um alerta depois que Serviço de Inspeção Sanitária Animal e Vegetal norte-americano aprovou a primeira variedade de cânhamo geneticamente modificado no início deste ano
Publicada em 29/11/2023


A recente decisão do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) de autorizar uma espécie de cânhamo geneticamente modificada levantou preocupações e dúvidas entre os atores do setor. Após consulta e debate, a Federação das Organizações Internacionais de Cânhamo, sigla em inglês FIHO, emitiu um alerta sobre os potenciais riscos inerentes ao cultivo dessa nova variedade da planta, que segundo o órgão, foge do controle e precauções de mercado aceitáveis atualmente.

“Embora reconheçamos os benefícios potenciais que a pesquisa e a ciência podem trazer para agricultura, estamos preocupados com as consequências que a introdução de produtos geneticamente modificados poderia ter no comércio e no desenvolvimento do setor do cânhamo em todo o mundo”, afirma Ted Haney, presidente da FIHO.
Em nota, Haney explicou ao portal Sechat que outros exemplos no passado, como a soja e o milho, tiveram consequências muito negativas no mercado internacional para agricultores e empresas alimentícias.
“O cânhamo ainda é uma indústria emergente, não queremos levar o risco de fragilizá-la,” ressaltou o gestor da entidade.
Prós e contras dos produtos geneticamente modificados

Segundo explica o agrônomo, presidente da Associação Latino-Americana de Cânhamo Industrial (LAIHA) e colunista Sechat, Lorenzo Rolim, o desenvolvimento de organismos vegetais geneticamente modificados (OGM) é uma ferramenta da agricultura moderna para proteção de plantas contra estresses ambientais ou contra pragas e organismos que possam danificar o seu desenvolvimento.
“Apesar do tema ser constantemente polemizado, existem inúmeras vantagens no uso de OGM's na agricultura, como a redução no uso de defensivos agrícolas (inseticidas, fungicidas e herbicidas), o aumento de teores de vitaminas nas plantas, o aumento da produtividade por área e todos os fatores que permitem a produção de grandes quantidades de alimentos de forma saudável”.
Rolim afirma que, olhando por este prisma, é difícil condenar o uso de OGM como estratégia para agricultura moderna.
“O que de fato é um problema e que deveria ser debatido amplamente, é o fato de que estas tecnologias tornaram o DNA vegetal patenteável, o que ocasiona a geração de monopólios sobre certas genéticas e cruzamentos subsequentes, tornando os produtores totalmente dependentes das empresas para aquisição de sementes, o que no final do dia reduz a segurança alimentar de um país ou região”, explicou.
Contudo, o agrônomo destaca ainda que é importante observar a entrada da espécie Cannabis sativa no rol de plantas sujeitas a modificações genéticas, visto que ela é uma das poucas plantas produzidas em escala que ainda não passou por nenhum processo de edição genética.
“Certamente a inclusão de certas características fenotípicas podem ajudar muito na rentabilidade da produção e, no caso específico da cannabis, no compliance com as normas de níveis de THC vigentes em diferentes países, teríamos certeza absoluta de que as plantas respeitariam os limites impostos por Lei e, ambas podem ajudar muito na adoção da cultura e consequentemente na escalabilidade da produção global, com mais qualidade e estabilidade”, conclui Rolim.
