Mesmo em doses baixas, CBD pode afetar o fígado, aponta estudo americano; entenda
Novo estudo da FDA mostra que até doses baixas de CBD podem causar danos ao fígado em algumas pessoas. Entenda os riscos, sintomas e o que fazer para usar com segurança
Publicada em 05/08/2025

Quando o canabidiol pesa: estudo revela risco hepático | Foto: CanvaPro
Um ensaio clínico da agência reguladora de alimentos e medicamentos dos Estados Unidos - FDA, acendeu uma luz de cautela em que, mesmo em doses consideradas baixas, o CBD pode, sim, provocar alterações no fígado em uma parcela dos usuários, especialmente mulheres.
A descoberta vem de um ensaio clínico rigoroso, randomizado, duplo-cego e controlado por placebo, que acompanhou mais de 200 adultos saudáveis ao longo de quatro semanas. A dose testada, cerca de 350 mg por dia para uma pessoa de 70 kg, está dentro da faixa comumente utilizada por consumidores nos Estados Unidos.
A enzima que não mente
Durante o acompanhamento, 5% dos voluntários apresentaram elevação acentuada da enzima aminotransferase, um marcador de inflamação hepática. Sete pessoas tiveram que sair do estudo por apresentarem sinais clínicos de possível lesão no fígado. Em todos os casos, os níveis voltaram ao normal após a interrupção do uso.
“Mesmo sem a presença de outros medicamentos, o próprio CBD pode representar um risco ao fígado”, explica Amir Englund, pesquisador do King's College London, que não participou do estudo, mas acompanha de perto os avanços da psicofarmacologia canabinoide.
O mais intrigante: apenas um participante com alterações hepáticas apresentou sintomas perceptíveis. O restante seguiu com a rotina, sem desconfiar de que o corpo enviava sinais silenciosos de sobrecarga. “Essa foi uma observação crucial”, afirma Paul Watkins, farmacologista da Universidade da Carolina do Norte. “Muitos médicos não pensam em perguntar se o paciente está usando CBD quando veem exames alterados”, disse.
Entre os sintomas possíveis de lesão hepática estão cansaço inexplicável, icterícia (amarelamento da pele e olhos) e desconforto abdominal. Mas em muitos casos, as enzimas alteradas são o único aviso.
CBD não é vilão, mas exige atenção
O estudo não pretende demonizar o canabidiol, ao contrário, reforça o que muitos especialistas defendem há anos, o uso do CBD deve ser informado, monitorado e, de preferência, acompanhado por profissionais da saúde.
Em ensaios anteriores com medicamentos à base de CBD para epilepsia, por exemplo, já se havia observado esse tipo de efeito. A diferença agora é que o alerta chega também para os produtos vendidos livremente, sem prescrição médica. “O fígado é um órgão que, em geral, se adapta bem a estresses causados por substâncias. Mas nem todos os corpos reagem da mesma forma” pondera Watkins.
Por que uns reagem e outros não?
Ainda não há uma resposta exata. Hipóteses envolvem predisposição genética, estado imunológico e até o uso concomitante de outros medicamentos. No novo estudo, muitos dos que tiveram alterações hepáticas também apresentaram eosinofilia, um tipo de resposta imunológica que pode indicar inflamação.
E mais: o CBD pode inibir enzimas que metabolizam remédios no fígado, o que aumenta o risco de interação medicamentosa.
Autocuidado exige informação
Nos Estados Unidos, as vendas de produtos com CBD dispararam nos últimos anos, saltando de US$ 108 milhões em 2014 para quase US$ 2 bilhões em 2022. Com essa popularização, veio também a automedicação, prática comum, mas nem sempre segura.
O CBD continua sendo uma alternativa terapêutica promissora para condições como dor crônica, ansiedade, insônia e transtornos neurológicos. O que a ciência tem apontado, estudo após estudo, é que ele não deve ser tratado como um suplemento qualquer. É uma substância potente, com efeitos reais, mas também, com possíveis riscos.
Os dados ainda reforçam que casos graves de lesão hepática por CBD são raros. Mas isso não anula a necessidade de vigilância e responsabilidade.“Se você está usando CBD, converse com seu médico. Se vai começar, pesquise e vá com calma. A beleza da medicina está justamente nisso: em encontrar a dose certa, para a pessoa certa, na hora certa”, aconselha o farmacologista.
Com informações de NBC News.
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