Mulheres respondem melhor ao tratamento do Parkinson com cannabis, aponta estudo brasileiro

Fatores hormonais e biológicos podem ser a resposta para os resultados encontrado por pesquisadores da UFSC

Publicada em 25/04/2025

Mulheres respondem melhor ao tratamento do Parkinson com cannabis, aponta estudo brasileiro

Produtos de cannabis utilizados em estudo da UFSC sobre Parkinson. Imagem: Arquivo pessoal

Um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) trouxe novas evidências sobre os benefícios da cannabis medicinal no tratamento da Doença de Parkinson.

Com metodologia rigorosa e análise aprofundada, a pesquisa demonstrou que a combinação de canabidiol (CBD) e tetrahidrocanabinol (THC) pode melhorar complicações motoras, flexibilidade, mobilidade, controle da dor, qualidade do sono e interações sociais.

 

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Ana Carolina Ruver Martins, doutora em Farmacologia e pós-doutoranda na UFSC, Imagem: Arquivo pessoal

De forma surpreendente, o estudo identificou que mulheres responderam melhor ao tratamento com cannabis do que os homens. Segundo a farmacêutica Ana Carolina Ruver Martins, doutora em Farmacologia e pós-doutoranda na UFSC, fatores hormonais e biológicos podem explicar essa diferença.

“O THC atua como agonista parcial dos receptores canabinoides tipo 1 (CB1), modulando neurotransmissores relacionados ao tônus muscular. Esse efeito pode ser potencializado pela presença do estrogênio, hormônio que aumenta a elasticidade dos tecidos conjuntivos”, afirma.

Já o CBD contribui com efeitos anti-inflamatórios e analgésicos, promovendo movimentos mais amplos e confortáveis. Além disso, há evidências de que os canabinoides interagem com o eixo hipotálamo-hipófise-gonadal, o que pode influenciar a resposta terapêutica entre os sexos.

 

Terapias personalizadas ganham força com novas descobertas

 

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Paciente idosa com Parkinson faz teste de sangue. Imagem: Arquivo pessoal

A pesquisa sugere a importância do desenvolvimento de terapias personalizadas no tratamento com cannabis para Parkinson. “O sistema endocanabinoide sofre um declínio fisiológico com o envelhecimento, o que pode afetar a eficácia dos canabinoides em pacientes idosos”, explica Ana Carolina.

Outro ponto importante é a curva dose-resposta em U invertido observada no estudo. “Tanto doses muito baixas quanto muito altas podem ser menos eficazes. Isso reforça a necessidade de considerar idade, sexo e sensibilidade individual na definição da dose ideal”.

 

Ensaio clínico controlado reforça credibilidade dos resultados

 

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Óleos usados na pesquisa e computador com planilha de analise. Imagem: Arquivo pessoal

 

O estudo foi conduzido no Laboratório Experimental de Doenças Neurodegenerativas (LEXDON), sob orientação do professor Rui Prediger, e é considerado o maior já realizado no Brasil sobre o tema. O ensaio clínico foi do tipo duplo-cego, randomizado e controlado por placebo, com duração de 180 dias.

Foram incluídos 68 pacientes com diagnóstico de Parkinson em estágio moderado, que não faziam uso prévio de cannabis nem apresentavam histórico familiar de esquizofrenia. Destes, 38 receberam solução oral com 50 mg de CBD e 5 mg de THC por dia, enquanto 30 integraram o grupo placebo.

Durante o estudo, os participantes foram avaliados quanto a sintomas motores e não motores, qualidade de vida e níveis séricos de BDNF (fator neurotrófico derivado do cérebro).

Um dos achados relevantes foi a identificação de um efeito placebo significativo, o que reforça o impacto psicológico positivo do envolvimento em pesquisas clínicas. “Muitas vezes, apenas a expectativa de estar recebendo um tratamento já gera melhora em sintomas”, explica Rui Prediger.

 

Estudos reforçam os achados da UFSC

 

Uma pesquisa recente publicada na revista Frontiers apontou que microdoses de cannabis podem aliviar sintomas não motores da Doença de Parkinson, como distúrbios do sono e alterações cognitivas.

Além disso, levantamento do Journal of Parkinson’s Disease revelou que mais de um terço dos pacientes recorrem a terapias naturais — como cannabis, café e açafrão — para aliviar os sintomas da doença.

 

Futuro da cannabis no tratamento do Parkinson

 

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Paciente do estudo realizada teste de movimentação. Imagem: Arquivo pessoal

Com base nos resultados, os pesquisadores planejam novos estudos com recortes mais específicos, levando em conta sexo, idade e estágio da doença, além da busca por biomarcadores de responsividade ao tratamento.

No momento, o estudo está na fase de farmacovigilância, acompanhando pacientes que optaram por continuar o tratamento em regime aberto com CBD e THC por mais dois anos.

“Queremos observar os efeitos a longo prazo, possíveis efeitos adversos e a manutenção dos benefícios. Isso também permitirá ajustes individualizados de dose, colaborando para terapias mais seguras e eficazes”, finaliza Ana Carolina Ruver Martins.