O que a medicina clássica ainda desconhece sobre a cannabis?

Em entrevista exclusiva ao Sechat, Maria Klien fala sobre sobre saúde mental e responsabilidade na medicina endocanabinoide

Publicada em 07/03/2024

Capa do artigo
A63A0142.JPG
Maria Klien é psicóloga e empresária | Foto: divulgação

O que a medicina clássica ainda não sabe sobre a cannabis? Esse foi o principal ponto que conduziu a conversa com a psicóloga e empresária Maria Klien em uma conversa esclarecedora, com o Sechat, sobre saúde mental e responsabilidade na medicina endocanabinoide.

Segundo Klien, é notável que boa parte dos médicos brasileiros ainda tem a postura de que possui um conhecimento estático. “Profissionais que não estão dispostos a entender as novas possibilidades da terapia canabinoide”, disse. Apesar da crítica, ela teve o cuidado de não generalizar e ressaltou que muitos profissionais da saúde acreditam no uso medicinal da cannabis e por isso a terapia canabinoide é um setor com grande potencial de expansão.

Ao longo de sua atuação como psicóloga com foco em saúde mental, a vivência clínica mostrou para ela a ineficiência dos medicamentos alopáticos em uma parcela considerável dos casos. "Apenas 30% dos pacientes respondem ao tratamento com medicamentos antidepressivos. Cerca de 45% desses pacientes começam a responder a partir da 4ª tentativa de tratamento, aproximadamente. Isso mostra que a medicação de saúde mental mudou muito pouco nas duas últimas décadas."

Na opinião da psicóloga, isso mostra que os remédios alopáticos para tratar a saúde mental mudaram muito pouco nas últimas duas décadas. "A gente está falando de um mesmo mecanismo de ação com um novo nome e uma nova marca, mas o que as experiências mostram é que os pacientes estão executando muito bem a lição de casa fazendo exercício, terapia, se alimentando bem, mas não estão respondendo à medicação da medicina clássica."

Modelo Capa do site (13).jpg
A Cannabis sativa é uma planta com propriedades medicinais de uso milenar. As substâncias mais conhecidas e responsáveis por seus atributos medicinais são o Δ9-tetrahidrocanabinol (Δ9-THC) e o canabidiol (CBD). Mas a planta diversas outras substâncias que podem ser associadas ao tratamento de inúmeras patologias. 

Ao refletir sobre a eficácia da planta para o tratamento de patologias, transtornos e síndromes, ela ousou dizer que antes da descoberta da terapia canabinoide, muitos pacientes estavam sentenciados. "Hoje nós temos uma medicina em que o diagnóstico não é a sentença; hoje podemos falar em esperança para o paciente da saúde mental que não responde mais aos medicamentos tradicionais. E também para aqueles pacientes com dores refratárias que na dor não respondem mais aos opióides."

Inegavelmente, ainda temos muitos pacientes e médicos que estão presos em tabus. "Nós somos de uma cultura que ainda sugere tratamentos que não são efetivos."

A carioca Maria Klein também atua como empresária canábica, sendo sócia da CBFarma e sócia fundadora do Instituto Gaia, onde realiza projetos em parceria com o poder público.

Na entrevista ao Sechat, Klien disse esperar que a Indústria de Cannabis não transforme em a “Big Farma” para que o paciente não seja medicado sem necessidade focando apenas, exclusivamente, em resultados e negligenciando a importância de avaliar individualmente cada paciente. “Não podemos esquecer o propósito da medicina canábica, que é trazer a cura natural, regular o paciente e torná-lo mais apto para enfrentar os desafios da vida. Não medique a todo custo. Essa é uma visão que devemos manter em alerta”.  

A63A0107 (1).JPG
"Manter um preço justo e não perder a qualidade é, na minha visão, um dos pontos mais importantes", Maria Klien | Foto: divulgação

Ao ser questionada sobre o que uma empresa deve fazer para se consolidar nesse mercado em expansão, ela disse que o empresário deve estabelecer uma política de valores que não englobe apenas o retorno financeiro. Klein comentou sobre uma ação de fiscalização do FDA (Food and Drug Administration) que constatou que 50% dos produtos de cannabis nos Estados Unidos não tinham a mesma qualidade indicada pelos rótulos. "Esse é um desafio. Não é simplesmente baixar a qualidade por preço para ganhar mais".

Segundo a empresária, a empresa precisa ter qualidade e preço para sobreviver. "Manter um preço justo e não perder a qualidade é, na minha visão, um dos pontos mais importantes, assim como o atendimento humanizado para preservar a saúde mental dos pacientes. São esses os propósitos que nos fazem acordar todos os dias e nos reunir para levar esses valores aos nossos pacientes e à sociedade em geral".

Ao finalizar, ela disse que quanto mais empresas estiverem fazendo um bom trabalho, melhor será para o crescimento e fortalecimento da medicina endocanabinoide. "O problema é quando as pessoas começam a fazer besteira. Isso queima o mercado. É importante que todos levem com seriedade. Eu torço pelo setor. Fico muito feliz quando leio uma notícia de um concorrente que teve uma vitória. Eu fico feliz mesmo porque acredito que este possa vir a ser um grande mercado unido", concluiu