‘Plantas mágicas’ e autismo: como um livro infantil pode quebrar preconceitos
Inspirado em experiências reais e no ativismo social, o livro Lu, conduz o leitor por uma jornada de empatia, descobertas e novas formas de compreender o mundo
Publicada em 26/04/2025

Crianças lendo um livro. Imagem Ilustrativa: Canva Pro
A curiosidade natural das crianças e a leveza da literatura infantil são ferramentas poderosas para questionar normas e desconstruir preconceitos. Com esse propósito, em 2020, o escritor argentino Cristian Bernachea e o ilustrador Mario Sánchez lançaram Lu, um livro que aborda temas ainda cercados por tabus: o Transtorno do Espectro Autista (TEA) e o uso medicinal da cannabis.
No enredo, Cris, a narradora, acaba de ingressar em um jardim de infância e logo percebe que a colega Lu se comporta de forma diferente. Seus gestos, o silêncio e os interesses diferentes despertam a atenção e a curiosidade de Cris.
À medida que a amizade entre as duas floresce, a avó de Cris oferece acolhimento, e a família de Lu revela "plantas mágicas e escondidas" — uma metáfora delicada para o uso medicinal da cannabis — que ampliam a imaginação e a percepção da realidade.

Dividido em pequenos capítulos, o livro conduz o leitor por uma jornada de empatia, descobertas e novas formas de compreender o mundo.
Luta das mães como base
Cristian Bernachea conta que a ideia do livro surgiu em meio ao cenário político e social da Argentina em 2019, quando a regulamentação da cannabis medicinal ainda era incipiente.
“A luta das mães cultivadoras, que formavam ONGs, aparecia esporadicamente na TV. Isso me influenciou muito, especialmente porque eu estava estudando a literatura infantil proibida durante a ditadura dos anos 1970. Tudo isso, mais um post no Facebook de uma mãe, fizeram com que o conto Lu aparecesse magicamente”, relata o autor.
A profundidade do tema se baseia em simplificar
Equilibrar a profundidade dos temas com uma linguagem sensível e apropriada para crianças foi um dos grandes desafios enfrentados por Bernachea. “No começo, a escrita fluiu naturalmente. Depois, com as revisões, percebemos o que poderia ser aprimorado — principalmente após o contato com as primeiras ONGs canábicas, que ajudaram muito a aperfeiçoar o livro”, explica.
Segundo ele, a chave está na simplicidade: “A profundidade do tema se baseia em simplificar. Não é necessário explicar tudo. Escreve-se como se vive a realidade. E é no que se mostra — e no que se omite — que reside o equilíbrio”.
Reconhecimento nas escolas e nos corações
Mario Sánchez, que além de ilustrador é também professor, destaca a receptividade calorosa que Lu recebeu. Segundo ele, na Argentina o livro é utilizado como material de estudo em escolas de arte e em cursos de formação de professores.
"Internacionalmente, foi apresentado na Universidade de São Paulo e, no México, fui convidado a trabalhar com alunos de lá”, comemora.
Entre os muitos retornos emocionantes, Sánchez lembra de um em especial: “Uma vez, uma mãe se aproximou e me disse que o filho fazia exatamente o que acontece no livro. Também já ouvi crianças dizerem que é o livro favorito delas — isso é maravilhoso. É muito bonito receber tanto carinho”.