A Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), em parceria com a Associação Flor da Vida, localizada em Franca, São Paulo, deu início a um estudo abrangente para investigar os efeitos terapêuticos do óleo de Cannabis sativa no tratamento de diversas condições de saúde. A pesquisa, de natureza qualitativa e quantitativa, abrange pacientes com diagnósticos de insônia, TDAH, Alzheimer, AVC, coma, esclerose múltipla, epilepsia, esclerose lateral amiotrófica, cefaleias, endometriose e autismo.

A pesquisa já foi aprovada pelo Comitê de Ética e será a dissertação

 da mestranda Janniny Figueiredo, que é médica de saúde pública e saúde coletiva pela Unimontes. Janniny é pesquisadora no programa de pós-graduação de biotecnologia da universidade, sob supervisão da professora doutora Vanessa de Andrade Royo. Ela também compõe o primeiro grupo de pesquisa da cannabis do Norte de Minas Gerais, coordenado pelo professor Dario Alves de Oliveira, e é uma das pioneiras no estudo clínico de cannabis no estado.

Objetivos do estudo

O estudo será do tipo clínico, observacional, longitudinal, retrospectivo, quantitativo e qualitativo. O principal objetivo é avaliar os efeitos do uso da Cannabis sativa no tratamento dessas condições, focando em:

• Perfil dos pacientes: Coletar dados demográficos e padrões de uso da cannabis medicinal.
• Efeitos terapêuticos: Analisar os benefícios relatados pelos pacientes em relação aos sintomas específicos de cada condição.
• Qualidade de vida: Avaliar mudanças na qualidade de vida após o início do tratamento com cannabis.
• Efeitos adversos: Identificar possíveis efeitos colaterais durante o uso terapêutico.

Percepção dos pacientes: Explorar as impressões e experiências dos pacientes com o uso da Cannabis sativa.

Metodologia

A pesquisa será conduzida com pacientes já acompanhados pela Associação Flor da Vida. A coleta de dados incluirá entrevistas individuais para obter informações sobre o perfil demográfico e a experiência com o uso da cannabis. Serão aplicados questionários reconhecidos internacionalmente, como o WHOQOL-BREF (avaliação de qualidade de vida), o Índice de Qualidade do Sono de Pittsburgh (PSQI-PT) e a Escala de Percepção Global de Mudança (PGIC).

As entrevistas serão realizadas presencial ou remotamente, conforme a disponibilidade dos participantes. Além disso, prontuários médicos serão consultados para obter informações sobre histórico clínico, evolução e dosagens utilizadas.

Os pesquisadores envolvidos no estudo farão busca ativa dos participantes e visam compreender a relação entre a dose administrada e a resposta clínica de cada paciente, considerando fatores como idade, sexo, peso e gravidade da condição. Isso permitirá traçar padrões de resposta ao tratamento e aprimorar as diretrizes para o uso da cannabis medicinal em diferentes cenários clínicos.

Além disso, será analisada a possível necessidade de ajustes na formulação do óleo de Cannabis sativa, uma vez que diferentes proporções de canabinoides, como THC e CBD, podem ter efeitos distintos dependendo da patologia tratada. Essa abordagem poderá contribuir para a personalização das terapias e para o desenvolvimento de novas formulações mais eficazes.

O estudo também tem um viés educacional e social, pois busca fornecer informações científicas e acessíveis à população, desmistificando conceitos equivocados sobre a cannabis medicinal. Os resultados serão utilizados para fortalecer o debate sobre a regulamentação do uso terapêutico no Brasil e ampliar o acesso seguro aos pacientes que necessitam desse tipo de tratamento.

Relevância da pesquisa

Embora haja evidências dos benefícios terapêuticos dos canabinoides, ainda existem lacunas relacionadas à variabilidade de respostas entre pacientes, potenciais efeitos adversos a longo prazo e a necessidade de ajustes nas dosagens. A análise detalhada das experiências individuais proporcionará uma compreensão mais profunda sobre a eficácia e segurança do uso da Cannabis sativa em contextos clínicos diversos.

Segundo Janniny, a Associação Flor da Vida tem mais de 6 mil pacientes associados, e a intenção é realizar a pesquisa com pelo menos 100 deles. A colaboração dos participantes será fundamental!