Mister Mxyzptlk e a Crise das Terras Infinitas

Em mais uma coluna para o Sechat, o empresário e ativista canábico Rodolfo Rosato contextualiza de modo criativo e com uma boa concentração de ironia o atual momento da regulamentação da Cannabis no Brasil, fazendo um paralelo com países como os Esta

Publicada em 14/04/2021

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Coluna de Rodolfo Rosato*

Observando mais uma vez nosso impávido colosso tomar a contramão da história me lembrei do mundo bizarro dos quadrinhos do Super-Homem, onde tudo era ao contrário, o bom era ruim, o feio era belo, o certo era errado e eu seria um baita escritor. 

E como em todos os assuntos aqui de Pindorama, o assunto cannabis, claro, não poderia tomar outro rumo

Agora, no mais novo capítulo da “Crise das terras Infinitas” vemos nosso herói Mister Mxyzptlk tentar com todas as forças entregar o mercado de cannabis, de bandeja e laço de fita, nas mãos da indústria farmacêutica, mais conhecida por buscar primordialmente o lucro e não o benefício aos pacientes; e que, em média, investe de 3 a 4 x mais dinheiro em propaganda do que em pesquisas científicas. 

Agora, no mais novo capítulo da “Crise das terras Infinitas” vemos nosso herói Mister Mxyzptlk tentar com todas as forças entregar o mercado de cannabis, de bandeja e laço de fita, nas mãos da indústria farmacêutica, mais conhecida por buscar primordialmente o lucro e não o benefício aos pacientes; e que, em média, investe de 3 a 4 x mais dinheiro em propaganda do que em pesquisas científicas. 

Enquanto no restante do globo civilizado os países logo perceberam o pote de ouro no fim do arco-íris e agarraram com tudo a oportunidade de criar toda uma uma nova indústria do zero - gerando assim, milhares de novos empregos e bilhões em novos impostos (com o bônus de exigir que toda essa nova indústria fosse muito mais comprometida com as questões ambientais, orgânicas e sustentáveis) -, aqui na Ilha de Vera Cruz estamos optando em simplesmente não criar nada. 

I WANT YOU (Tio Sam) 

Vamos analisar o exemplo dos EUA, onde o sempre afável Tio Sam permitiu o plantio de cannabis a grandes e pequenos produtores, permitindo inclusive que produtores antes ilegais se tornassem empresas pagadoras de impostos, e inventou novos negócios como o “dispensary”, que são novos estabelecimentos criados exclusivamente para a dispensação de produtos à base de cannabis com mais de 0,3% de THC. 

Com isso, nosso simpático Tio Sam criou uma nova cadeia produtiva que se inicia na base da agricultura com os agricultores, agrônomos e todas as novas profissões criadas como os bud trimmers, até a dispensação final do produto no “dispensary” com seus balconistas, caixas, gerentes, farmacêuticos e bud tenders. 

Criando out of the blue (do nada) milhares de novos empregos diretos e também indiretos para marceneiros, faxineiros, arquitetos e a toda cadeia de empregos ligada aos setores industrial, comercial, agrícola, logística/distribuição e de serviços. 

Assim nosso pobre Tio Sam, que andava mais liso que muçum ensaboado, gerou milhares de novos empregos e está lucrando bilhões de dólares com novos impostos. Alguns estados estão tendo um excedente de arrecadação tão grande que estão, literalmente, sem saber o que fazer com tanto dinheiro! A cannabis está presente nos setores da saúde, têxtil, construção civil e é hoje a indústria que mais gera empregos nos EUA. 

Deveríamos chamar o Carlos Moreno, aquele da Bombril com suas mil e uma utilidades, para ser o garoto propaganda da Cannabis no Brasil! (Otasor Oflodor) 

Mas voltando a realidade da Terra de Vera Cruz... Um minúsculo e riquíssimo país onde falta mão de obra e sobra dinheiro, não poderíamos seguir esse belo exemplo. Te pergunto, jornalisticamente, deixando a seu critério responder com sinceridade: 

O que nós ganharíamos com isso? 

Quem iria trabalhar com cannabis, se aqui não tem ninguém desempregado? Quando teremos sol e água suficientes? 

Onde iriamos achar tantas terras férteis? 

Como, pensando em tudo isso, poderíamos sequer cogitar plantar por aqui? E por último, mas não menos importante: 

Por que iríamos querer os bilhões em novos impostos gerados se a nossa saúde, educação e etc já são as melhores do mundo? 

Só se fossemos o pobre Canadá, com suas infinitas terras férteis e seu favorável clima temperado, porque aqui nesse multiverso tropical chamado Brasil já nem sei se mesmo conseguindo que digam em voz alta as palavras “Onrevog”, “Asivna” ou até mesmo “Kltpzyxm”, conseguiremos sair desse mundo bizarro em que vivemos. 

“Eu já vivo entre os civilizados há muitos ciclos, velho amigo. E, no fundo, isso só me fez sentir mais orgulho em ser chamado de Bárbaro.” (Conan, o Bárbaro) 

Entra governo, sai governo e continuamos sem saber todas as regras desse jogo. Não venham com ladainhas políticas de meia pataca “de que o governo atual isso, o governo atual aquilo” pois se desde Cabral já nos habituamos a colocar os piores dos piores no comando, ainda estamos debatendo o PL 399 desde 2015! 

Entra governo, sai governo e continuamos sem saber todas as regras desse jogo. Não venham com ladainhas políticas de meia pataca “de que o governo atual isso, o governo atual aquilo” pois se desde Cabral já nos habituamos a colocar os piores dos piores no comando, ainda estamos debatendo a PL 399 desde 2015! 

Enquanto o resto do mundo já está tomando sal de frutas para digerir tanto bolo, aqui continuamos debatendo como arar o solo para plantar o trigo. E aí cabe justo aquele momento “mea-culpa coletiva” pois quem, dos nobres legentes dessas tortas linhas, pesquisou e votou em alguém que tivesse ideias reais, claras e modernas sobre a legislação com a cannabis? Se chegar a 10% raspo minha cabeleira hippie e fico careca!

Mas, se ergues da justiça a clava forte, 

Verás que um filho teu não foge à luta. (Joaquim Osório Duque Estrada) 

Enquanto nossos vizinhos do norte começam a implantar importantíssimos e justos mecanismos de reparação social devido à perseguição irracional das últimas décadas, aqui nas terras infinitas chegamos nesse último mês ao cúmulo de testemunhar verdadeiros atos de terrorismo psicológico contra pacientes e associações, levando milhares de famílias a sentir medo e angústia por não saberem como será o futuro e se o próprio tratamento ou de seu filho, mãe, avó, irá continuar. 

Enquanto nossos vizinhos do norte começam a implantar importantíssimos e justos mecanismos de reparação social devido à perseguição irracional das últimas décadas, aqui nas terras infinitas chegamos nesse último mês ao cúmulo de testemunhar verdadeiros atos de terrorismo psicológico contra pacientes e associações, levando milhares de famílias a sentir medo e angústia por não saberem como será o futuro e se o próprio tratamento ou de seu filho, mãe, avó, irá continuar. 

Não sei você, amigo(a) leitor(a), mas eu estou com o coração peludo e já cansei desse mundo “civilizado” onde governos e agências reguladoras parecem viver em outra dimensão, com ouvidos moucos e olhos torpes. 

Se esquecem que nós, humanos, somos em média 60% água. A água, mesmo represada, acha seu caminho e flui, evapora, condensa, e volta a correr livre. 

“Eles podem ser um grande povo, Kal-El, eles desejam ser. Eles só não têm a luz para lhes mostrar o caminho. ” Jor-El 

PS: Em tempo, já nos 45 minutos do segundo tempo dessa coluna, golaço do INPI!!

*Rodolfo Rosato é empresário, ativista canábico, fundador e CVO da Terracannabis Medicinal e colunista do Sechat

As opiniões veiculadas nesse artigo são pessoais e não correspondem, necessariamente, à posição do Sechat.

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