Morre garota símbolo da Cannabis medicinal no mundo

A história de Charlotte Figi foi a responsável por disseminar mundialmente os benefícios da cannabis medicinal

Publicada em 08/04/2020

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Desde os três meses de idade, a pequena Charlotte Figienfrentava crises convulsivas por conta da Síndrome de Dravet, uma doença rara conhecidacomo uma epilepsia genética da infância. O que ninguém imaginava é que a doençade Charlotte seria o ponto de partida da popularização do uso da maconha comomedicamento.

Aos cinco anos, a criança chegou a enfrentar 300 crisesepiléticas em uma semana e seus pais não sabiam mais o que fazer. A garota tomavamedicação alopática em doses altas, mas nada parecia conter convulsões, alémdisso, Charlotte começou a perder a capacidade de andar e falar.

Então, as pesquisas da família começaram. Em meio a buscapor uma alternativa para os problemas enfrentados pela filha, sua mãe, PaigeFigi, soube de um dispensário de cannabis em Denver (EUA). Foi então quedesembolsou 800 dólares em um óleo que diziam ter baixa teor de THC, mas umalto teor de CBD. Figi ministrou uma pequena dose do óleo para filha e os resultadoscomeçaram a aparecer já na primeira hora após a criança tomar o medicamento.

Em entrevista à imprensa, a mãe de Charlotte afirmou que oprimeiro sinal foi as “habituais” três ou quatro crises por hora acabarem, porém,ainda incrédula, decidiu esperar mais um pouco. Mas o resultado primário semanteve. as convulsões pararam por uma semana e depois foram reduzidaspara apenas duas ou três por mês. No processo, Charlotte começou a desmamar dosoutros medicamentos alopáticos.

O ‘nascimento’ da Charlott’s Web

Diante dos resultados positivos, a família Figi decidiu ir além. Se juntou com os Stanley, seis irmãos que cultivavam cannabis no Colorado e estavam trabalhando em uma cepa com alto teor de CBD e baixo teor de THC. Os extratos retirados dessa cepa foram usados para tratar as crises de Charlotte, mas não só mais dela. Outros pacientes convulsivos também passaram a se beneficiar do óleo. E para homenagear a inspiração para a concentração no cultivo dessa cepa, os irmãos decidiram batizar a planta de Charlotte’s Web.

Dessa iniciativa nasceram outras. Os irmãos Stanley criaramuma organização sem fins lucrativos, a Fundação Realm of Caring , quedoa cannabis a adultos e crianças que sofrem de uma variedade de doenças eenfermidades.

Repercussão mundial

O caso de Charlotte ganhou a grande imprensa e passou a ser amplamentedifundido pelos meios de comunicação, colocando o Colorado no mapa de pacientesde todos os Estados Unidos. E mais do que isso. Em 2013, a história de Figiganhou o mundo quando a CNN fez o documentário “Weed”, apresentado pelo médicoSanjay Gupta.

Gupta revelou na época, em um editorial no site da CNN, quehavia mudado sua opinião sobre o uso da cannabis quando teve acesso à históriade Charlotte.

Em um trecho do editorial, o médico afirmou: "Temossido terrivelmente e sistematicamente enganados por quase 70 anos nos EstadosUnidos [sobre o uso da Cannabis], e peço desculpas pelo meu próprio papelnisso".

Uma história que nunca terá fim

Aos 13 anos, uma cepa com seu nome e a cara da esperançapara milhares de pacientes do mundo todo, Charlotte morreu no dia 7 de abril de2020. Num primeiro momento, foi noticiado que a Charlotte teria morrido porcomplicações devido ao Covid-19, mas uma atualização nas redes sociais da mãe dacriança mudou a versão.

Segundo a atualização do post, a família toda de Charlotteestava há um mês doente, porém foi orientada a tratar os sintomas em casa e irao hospital somente se houvesse uma piora no quadro de saúde. Então, no dia 3de abril, a condição de Charlotte piorou e ela foi levada ao hospital, onde foitratada como caso suspeito de Covid-19. Porém, o resultado deu negativo.

No dia 5 de abril, a criança teve alta e voltou para casa. Porém, no dia 7 de abril, Charlotte teve uma convulsão “incomum” para sua doença, que resultou num quadro de insuficiência respiratória e parada cardíaca, e foi levada às pressas novamente para o hospital. Apesar dos resultados negativos dos testes, ela foi tratada como um caso provavelmente de COVID-19, mas, mesmo assim, não suportou a crise e morreu.

Em seu site, os irmãos Stanley escreveram um memorial que diz:Ela cresceu criada por uma comunidade, protegida pelo amor, exigindo que omundo testemunhasse seu sofrimento para que todos pudessem encontrar umasolução. Ela se levantava todos os dias, despertando os outros com suacoragem... Ela era uma luz que iluminava o mundo. Elaera uma garotinha que carregava todos nós em seus pequenos ombros.”

Nas redes sociais, uma parente da família publicou na contada mãe de Charlotte uma foto da garota com a mensagem: “Charlotte já não estásofrendo. Ela está livre de convulsões para sempre. Muito obrigado por todo oseu amor. Por favor, respeite a privacidade deles neste momento.”