Morre garota símbolo da Cannabis medicinal no mundo

Desde os três meses de idade, a pequena Charlotte Figi enfrentava crises convulsivas por conta da Síndrome de Dravet, uma doença rara conhecida como uma epilepsia genética da infância. O que ninguém imaginava é que a doença de Charlotte seria o ponto de partida da popularização do uso da maconha como medicamento.

Aos cinco anos, a criança chegou a enfrentar 300 crises epiléticas em uma semana e seus pais não sabiam mais o que fazer. A garota tomava medicação alopática em doses altas, mas nada parecia conter convulsões, além disso, Charlotte começou a perder a capacidade de andar e falar.

Então, as pesquisas da família começaram. Em meio a busca por uma alternativa para os problemas enfrentados pela filha, sua mãe, Paige Figi, soube de um dispensário de cannabis em Denver (EUA). Foi então que desembolsou 800 dólares em um óleo que diziam ter baixa teor de THC, mas um alto teor de CBD. Figi ministrou uma pequena dose do óleo para filha e os resultados começaram a aparecer já na primeira hora após a criança tomar o medicamento.

Em entrevista à imprensa, a mãe de Charlotte afirmou que o primeiro sinal foi as “habituais” três ou quatro crises por hora acabarem, porém, ainda incrédula, decidiu esperar mais um pouco. Mas o resultado primário se manteve. as convulsões pararam por uma semana e depois foram reduzidas para apenas duas ou três por mês. No processo, Charlotte começou a desmamar dos outros medicamentos alopáticos.

O ‘nascimento’ da Charlott’s Web

Diante dos resultados positivos, a família Figi decidiu ir além. Se juntou com os Stanley, seis irmãos que cultivavam cannabis no Colorado e estavam trabalhando em uma cepa com alto teor de CBD e baixo teor de THC. Os extratos retirados dessa cepa foram usados para tratar as crises de Charlotte, mas não só mais dela. Outros pacientes convulsivos também passaram a se beneficiar do óleo. E para homenagear a inspiração para a concentração no cultivo dessa cepa, os irmãos decidiram batizar a planta de Charlotte’s Web.

Dessa iniciativa nasceram outras. Os irmãos Stanley criaram uma organização sem fins lucrativos, a Fundação Realm of Caring , que doa cannabis a adultos e crianças que sofrem de uma variedade de doenças e enfermidades.

Repercussão mundial

O caso de Charlotte ganhou a grande imprensa e passou a ser amplamente difundido pelos meios de comunicação, colocando o Colorado no mapa de pacientes de todos os Estados Unidos. E mais do que isso. Em 2013, a história de Figi ganhou o mundo quando a CNN fez o documentário “Weed”, apresentado pelo médico Sanjay Gupta.

Gupta revelou na época, em um editorial no site da CNN, que havia mudado sua opinião sobre o uso da cannabis quando teve acesso à história de Charlotte.

Em um trecho do editorial, o médico afirmou: “Temos sido terrivelmente e sistematicamente enganados por quase 70 anos nos Estados Unidos [sobre o uso da Cannabis], e peço desculpas pelo meu próprio papel nisso”.

Uma história que nunca terá fim

Aos 13 anos, uma cepa com seu nome e a cara da esperança para milhares de pacientes do mundo todo, Charlotte morreu no dia 7 de abril de 2020. Num primeiro momento, foi noticiado que a Charlotte teria morrido por complicações devido ao Covid-19, mas uma atualização nas redes sociais da mãe da criança mudou a versão.

Segundo a atualização do post, a família toda de Charlotte estava há um mês doente, porém foi orientada a tratar os sintomas em casa e ir ao hospital somente se houvesse uma piora no quadro de saúde. Então, no dia 3 de abril, a condição de Charlotte piorou e ela foi levada ao hospital, onde foi tratada como caso suspeito de Covid-19. Porém, o resultado deu negativo.

No dia 5 de abril, a criança teve alta e voltou para casa. Porém, no dia 7 de abril, Charlotte teve uma convulsão “incomum” para sua doença, que resultou num quadro de insuficiência respiratória e parada cardíaca, e foi levada às pressas novamente para o hospital. Apesar dos resultados negativos dos testes, ela foi tratada como um caso provavelmente de COVID-19, mas, mesmo assim, não suportou a crise e morreu.

Em seu site, os irmãos Stanley escreveram um memorial que diz: Ela cresceu criada por uma comunidade, protegida pelo amor, exigindo que o mundo testemunhasse seu sofrimento para que todos pudessem encontrar uma solução. Ela se levantava todos os dias, despertando os outros com sua coragem… Ela era uma luz que iluminava o mundo. Ela era uma garotinha que carregava todos nós em seus pequenos ombros.”

Nas redes sociais, uma parente da família publicou na conta da mãe de Charlotte uma foto da garota com a mensagem: “Charlotte já não está sofrendo. Ela está livre de convulsões para sempre. Muito obrigado por todo o seu amor. Por favor, respeite a privacidade deles neste momento.”

Compartilhe:

ASSINE NOSSA NEWSLETTER PARA RECEBER AS NOVIDADES

    Mais lidas