Universidade de Cali quer isentar TCC dos alunos que participarem do curso de Endocanabinologia

A médica Maria Teresa Jalbut Jacob palestrou sobre o tema "Cannabis Medicinal y Manejo del Dolor"

Publicada em 21/08/2024

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Imagem: Arquivo Pessoal: Dra. Maria Teresa Jalbut Jacob

Recentemente, a Dra. Maria Teresa Jalbut Jacob, médica anestesiologista com especialização em dor, e pós-graduada em Endocanabinologia pela Universidade de Rosário, na Argentina, conduziu uma palestra na Universidad Santiago de Cali, Colômbia, abordando o tema "Cannabis Medicinal y Manejo del Dolor". A universidade está com planos para incluir o Sistema Endocanabinoide na grade disciplinar da faculdade de medicina e está isentando a entrega do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) para os alunos que participarem do curso de extensão com duração de 6 meses. Nesta entrevista, ela compartilha sua perspectiva sobre os avanços da medicina canábica e os desafios enfrentados, especialmente na América Latina.

A Dra. Teresa observa um crescimento significativo no uso de produtos médicos à base de cannabis, impulsionado por novos conhecimentos sobre o Sistema Endocanabinoide (SEC). “A medicina canábica tem ganhado cada vez mais espaço, especialmente no tratamento de patologias crônicas refratárias a métodos convencionais. No entanto, ainda enfrentamos preconceitos tanto de profissionais de saúde quanto do público em geral”, reflete.

Para a Dra. Teresa, o estigma da cannabis associada ao narcotráfico na Colômbia e em outros países da América Latina é um desafio persistente, especialmente entre profissionais de saúde. Ela acredita que a chave para combater esse estigma é a educação: “Precisamos educar adequadamente os profissionais de saúde, a população e os órgãos governamentais sobre as diferenças entre o uso recreativo e o uso médico da cannabis. O conhecimento sobre o SEC é crucial para entender o potencial terapêutico da planta”, argumenta.

 

 Dra. Maria Teresa Jalbut Jacob
A médica Maria Teresa Jalbut Jacob fala sobre "Cannabis Medicinal y Manejo del Dolor", na Universidade de Cali na Colômbia | Imagem: Arquvio Pessoal



A Universidade de Cali lançou um curso de capacitação em cannabis medicinal, no qual os alunos de medicina que concluem o curso não precisam apresentar um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Dra. Teresa vê essa iniciativa como um marco na formação dos novos médicos: “Esse curso é pioneiro e extremamente importante. Ele oferece uma formação completa sobre o SEC e capacita cientificamente os alunos para utilizarem os fitocanabinoides de maneira eficaz no tratamento de patologias refratárias”, avalia.

A proposta de incluir o SEC no currículo médico da Universidade de Cali apresenta desafios significativos, segundo a Dra. Teresa. “Alterar uma grade curricular que segue um esquema antigo e superar o estigma associado à cannabis são desafios importantes. No entanto, os benefícios superam em muito esses obstáculos. O conhecimento do SEC como um importante alvo terapêutico para diversas patologias é algo que todos os futuros médicos deveriam ter”, enfatiza.

Ela acrescenta que o SEC é o maior sistema presente no corpo humano, interagindo com todos os outros sistemas, o que o torna crucial para a homeostase e o equilíbrio do organismo. “Incluir o SEC no currículo médico pode revolucionar a maneira como tratamos doenças refratárias, proporcionando uma nova abordagem terapêutica”, comenta.



A cannabis no Brasil 



Ela menciona a evolução no acesso aos produtos de cannabis, que antes eram restritos à importação com processos burocráticos demorados. “Há alguns anos, os pacientes tinham que esperar até 90 dias para obter a autorização da ANVISA e depois mais tempo até que o produto fosse entregue em suas casas. Hoje, a autorização para importação é praticamente imediata, e já é possível adquirir alguns produtos diretamente nas farmácias, o que representa um avanço significativo na acessibilidade”, afirma a Dra. Teresa.

O país tem cerca de 600 mil médicos em atividade, sendo que apenas 8% dos profissionais têm afinidade com o Sistema Endocanabinoide. Com o objetivo de ajudar a promover a educação canábica, Jacob assumiu a coordenação científica de um curso de extensão sobre o SEC e suas aplicações na medicina, que será realizado a partir de segunda-feira (26), online, com uma aula inaugural gratuita, uma iniciativa da ExCanMed e da UNIFECAF. “Essa educação é fundamental para que possamos desconstruir a imagem negativa associada à cannabis e promover seu uso seguro e eficaz na medicina. Convido a todos a participarem para conhecer mais”, explica.

Na próxima sexta-feira (23), com o apoio institucional da FIESP, será realizada a I Masterclass Internacional ExCanMed: Cannabis na Medicina. O principal objetivo da masterclass, que contará com a participação de Key Opinion Leaders (KOLs) brasileiros e a presença especial da Dra. Raquel Peyraube, do Uruguai, é popularizar a cannabismedicinal. “Esses eventos são imprescindíveis para quebrar paradigmas e introduzir o tema de forma científica no meio médico. Eles permitem que médicos e outros profissionais de saúde se familiarizem com o SEC e as aplicações terapêuticas dos fitocanabinoides, o que é essencial para o uso ético e seguro da cannabis na prática clínica”, afirma.

 

Cannabis e dor crônica

 

Dra. Teresa acredita que várias áreas da medicina se beneficiarão significativamente do avanço da cannabis nos próximos anos. “Dor crônica, neurologia, oncologia, ginecologia, entre outras, são áreas onde a cannabis já está mostrando resultados promissores. À medida que o conhecimento sobre o SEC se amplia, acredito que veremos uma integração ainda maior da cannabis medicinal nessas especialidades”, prevê.

Quando questionada sobre as evidências científicas mais promissoras para o uso da cannabis na medicina, Dra. Teresa destaca os avanços no tratamento da dor crônica, distúrbios de comportamento e doenças neurológicas. “As pesquisas mostram que a cannabis tem um impacto significativo nessas áreas, proporcionando alívio para condições que muitas vezes não respondem bem aos tratamentos convencionais. Essas evidências estão ajudando a construir uma base sólida para o uso da cannabis na prática clínica”, ressalta.

Dra. Teresa é otimista quanto ao futuro da medicina canábica no Brasil, embora reconheça os desafios regulatórios e o estigma ainda presente. “Estamos avançando, e já vemos a inclusão da cannabis no Sistema Único de Saúde (SUS) em alguns estados, principalmente para patologias raras. No entanto, é fundamental que todo o processo de regulamentação e uso siga padrões rigorosos de ética e segurança, garantindo que os pacientes tenham acesso a tratamentos eficazes e seguros”, conclui.