Bilionário aposta em analgésico de cannabis para substituir opioides
Com o medicamento Ver-01, empresário visa oferecer uma alternativa segura e eficaz para o tratamento da dor crônica, mirando um mercado de US$ 20 bilhões dominado por opioides
Publicada em 16/09/2025

Fischer já investiu mais de US$ 250 milhões de recursos próprios no projeto. Imagem: Canva Pro
O médico e empresário Clemens Fischer, fundador da farmacêutica Vertanical, está investindo no desenvolvimento de um analgésico de cannabis que pretende ser uma alternativa mais segura aos opioides.
A droga experimental, chamada Ver-01, é um extrato de canabinoides em dose baixa. A formulação é suficiente para ser eficaz no alívio da dor crônica, mas não para causar efeitos psicoativos significativos.
Diferente de produtos encontrados em dispensários, o objetivo é que o Ver-01 seja o primeiro analgésico de cannabis prescrito por médicos e coberto por seguros de saúde nos principais mercados.
A crise dos opioides e a oportunidade de mercado
A busca por alternativas se intensificou após a epidemia de dependência causada por drogas como o OxyContin. Só em 2023, foram 125 milhões de prescrições de opioides nos Estados Unidos, movimentando cerca de US$ 20 bilhões por ano.
O cenário é grave: mais de 80 mil pessoas morreram de overdose no país no último ano. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 80% das 600.000 mortes por uso de drogas no mundo em 2019 estavam relacionadas a opioides.
Diante da urgência, o FDA, agência reguladora dos EUA, anunciou planos para acelerar a aprovação de analgésicos não opioides, criando uma janela de oportunidade para novas soluções.
Testes promissores e potencial comercial
Fischer já investiu mais de US$ 250 milhões de recursos próprios no projeto. O Ver-01 concluiu com sucesso a Fase III de testes clínicos na Alemanha, mostrando-se mais eficaz que os opioides e sem apresentar indícios de dependência.
A empresa aguarda a aprovação regulatória na Alemanha e na Áustria até o início de 2026 e planeja começar os testes de Fase III nos EUA no mesmo ano. "Se você tiver um medicamento que demonstre ser mais eficaz e ter menos efeitos colaterais, poderá obter uma fatia significativa desse mercado", afirmou Fischer em entrevista à Forbes.
Evidências científicas e mecanismo de ação
Estudos recentes indicam que a cannabis medicinal pode reduzir o uso de opioides em até 32%, consolidando-se como uma alternativa promissora para o manejo da dor.
Uma revisão de artigos científicos sugere que a cannabis tem eficácia na redução da dor e da alodinia (dor por estímulos não dolorosos). Os estudos também demonstram alta tolerabilidade e efeitos adversos leves ou moderados.
O canabidiol (CBD), um dos principais compostos, atua em diversos receptores do corpo (como CB2, vaniloides e serotoninérgicos), estimulando uma ação analgésica e diminuindo a sensibilização à dor.
O cenário da regulamentação nos EUA
Embora a indústria de cannabis tenha movimentado cerca de US$ 32 bilhões em 2024 nos EUA, o setor ainda enfrenta entraves. Como a maconha continua ilegal em nível federal, operações financeiras e bancárias são dificultadas.
Há uma expectativa de que o governo norte-americano reclassifique a cannabis, hoje na mesma categoria de drogas como heroína e LSD. Essa mudança facilitaria pesquisas e negócios, mas ainda não há um prazo definido para que ocorra.
Com informações de Forbes