Estudo pioneiro investiga a cannabis no tratamento do Alzheimer
A pesquisa, conduzida na FMJ, busca avaliar os efeitos do CBD e THC balanceados na redução da agitação, oferecendo novas perspectivas para a qualidade de vida dos pacientes.
Publicada em 05/04/2025

Primeiro estudo científico do Brasil é da Faculdade de Medicina de Jundiaí (Foto: Divulgação)
Há perguntas que a ciência ainda não respondeu, mas que insistem em ecoar nas vidas de milhares de famílias. O Alzheimer, com seu caminho de esquecimentos e silêncios, impõe desafios que vão além da medicina – ele nos toca na essência do que significa lembrar e ser lembrado.
Mas e se a resposta estiver onde antes havia preconceito? E se a esperança vier da natureza? São vários os questionamentos quando se trata de estudar a cannabis medicinal e romper as barreiras que ainda, sobretudo, existam.
É assim que a Faculdade de Medicina de Jundiaí (FMJ), tem feito, através de um estudo inédito, chamado CANTAD, que busca lançar luz sobre um novo horizonte terapêutico dentro do tratamento do Alzheimer.

Pela primeira vez no Brasil, um ensaio clínico com metodologia rigorosa investiga o impacto do extrato de cannabis balanceado – combinando canabidiol (CBD) e tetrahidrocanabinol (THC), na redução da agitação em pacientes com Alzheimer moderado.
A pesquisa, já aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) e pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP), é conduzida por uma pesquisadora dedicada Tereza Raquel Xavier Viana, sob a orientação do Dr. José Eduardo Martinelli e coorientação do Prof. Dr. Ivan Aprahamian, contando com o suporte da equipe de Geriatria da FMJ.
O potencial terapêutico da cannabis no Alzheimer
A proposta é ambiciosa: oferecer uma alternativa aos tratamentos convencionais e entender se o equilíbrio entre CBD e THC pode trazer benefícios reais para pacientes que enfrentam os desafios do Alzheimer.

A pesquisadora afirma ainda que há estudos que indicam que o uso isolado de CBD pode ser benéfico, mas a presença do THC pode oferecer um efeito mais robusto no tratamento dos sintomas neuropsiquiátricos da doença de Alzheimer. “Existem evidências científicas que apontam para um efeito sinérgico entre esses dois compostos, conhecido como efeito entourage. Enquanto o CBD tem propriedades neuroprotetoras, ansiolíticas e anti-inflamatórias, o THC, em doses controladas, pode potencializar os efeitos terapêuticos, especialmente no alívio da agitação e na melhora do sono”, explica Tereza.
Até o momento, apenas um estudo semelhante foi realizado em Israel, com resultados promissores. Agora, o Brasil se junta a essa busca por novas possibilidades. “A ciência avança quando unimos esforços em busca de respostas. Este ensaio clínico representa mais do que uma pesquisa; é a esperança de melhorar a qualidade de vida de pacientes com Alzheimer”, afirma a pesquisadora.
Cannabis medicinal x regulamentação: uma eterna busca
Quando se trata de estudos científicos da cannabis enquanto medicina, o curso parece, vendo de fora, um tanto quanto mais tranquilo, não é mesmo? Engano nosso. A regulamentação da cannabis medicinal no Brasil ainda é um desafio, especialmente no que se refere a pesquisas clínicas.
De acordo com Tereza, o processo de aprovação exigiu uma análise rigorosa e o acesso à cannabis para pesquisa ainda é burocrático. “Há um estigma social que precisa ser superado para facilitar novos avanços científicos na área”, pontua a especialista que recentemente lançou o livro “Cannabis Medicinal: O Poder Terapêutico”.
Como participar do estudo?
As inscrições para a pré-seleção de pacientes já estão abertas. Basta preencher esse formulário. Se você conhece alguém que possa se beneficiar desse estudo, essa pode ser a oportunidade de trazer mais qualidade de vida a quem enfrenta os desafios dessa doença.
O recrutamento, segundo a pesquisadora, será feito no Ambulatório de Geriatria da FMJ. Entre os critérios de inclusão, estão: o diagnóstico confirmado de Alzheimer moderado, idade acima de 60 anos e a presença de um cuidador responsável.
Caso os resultados do estudos sejam positivos, ela garante que “será necessário diálogo com órgãos regulatórios para facilitar e ampliar o acesso dessa terapia em protocolos clínicos”.
Geriatria e cannabis: um respiro na qualidade de vida
Já sobre o futuro das pesquisas sobre a cannabis medicinal no Brasil, principalmente em tratamentos de doenças neurodegenerativas, a pesquisadora acredita que dentro do campo da Geriatria, a cannabis pode sim representar uma alternativa promissora, principalmente no manejo de sintomas como dores crônicas, insônia, ansiedade, neuroinflamação, proporcionando assim, mais qualidade de vida aos idosos. “O desafio agora é garantir que a ciência continue avançando e que os resultados se traduzam em benefícios concretos para os pacientes”, finaliza.
Afinal, na interseção entre a ciência e a natureza, há sempre um caminho a ser explorado e, quem sabe, uma nova memória a ser preservada.