Fumar cannabis em casa expõe crianças a substâncias tóxicas, revela novo estudo

Pesquisa identifica canabinoides na urina de 27,3% das crianças em lares com consumo de cannabis

Publicada em 13/02/2025

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Imagem ilustrativa: Canva.

Um estudo transversal californiano publicado este ano na JAMA Network Open revelou que crianças expostas ao fumo de cannabis dentro de casa apresentam níveis elevados de canabinoides na urina. A pesquisa analisou 275 crianças, com idade média de 3,6 anos, e encontrou substâncias relacionadas à cannabis em 27,3% dos participantes.

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Dr. André Andrade, pediatra, atuante no transtorno do neurodesenvolvimento e especialista em prescrição de cannabis medicinal.

Conversamos com o Dr. André Andrade, pediatra, atuante no transtorno do neurodesenvolvimento e especialista em prescrição de cannabis medicinal, e ele destacou que 

“A Sociedade Brasileira de Pediatria alerta para os riscos do tabagismo passivo em crianças e bebês. A exposição à fumaça do cigarro pode causar problemas respiratórios, imunológicos e cardiovasculares. Os efeitos do fumo passivo em crianças podem ser imediatos ou a longo prazo.”

A respeito do método desse estudo, André comentou que “os dados analisados são de um estudo anterior, de 2012 a 2016, que buscou reduzir partículas finas no ar de residências em San Diego, na Califórnia, nos Estados Unidos. Foram incluídas famílias com pelo menos uma criança menor de 14 anos e um adulto fumante de tabaco. Amostras de urina das crianças foram coletadas e analisadas em 2022”.

O Dr. ainda observou que “o estudo investiga a relação entre o fumo de cannabis em casa e a presença de biomarcadores de cannabis na urina dessas crianças residentes nesses lares. Foram avaliadas três formas de medir a exposição de fumaça de cannabis em casa: relato de pais sobre o fumo de cannabis dentro de casa, contagem de partículas no ar para identificar eventos de fumo e ajuste estatístico para diferenciar o fumo de cannabis do tabaco e outras fontes de poluição do ar”.

“Como as crianças passam a maior parte do tempo em casa, reduzir esse tipo de exposição pode minimizar os riscos associados a substâncias tóxicas e carcinogênicas presentes na fumaça da cannabis”, ele avisa.

 

A relação entre o consumo de cannabis e a exposição infantil

 

Os resultados do estudo apontam que as chances de detecção de equivalentes de THC na urina das crianças foram cinco vezes maiores em residências onde houve relato de fumo de cannabis nos últimos sete dias. Além disso, a frequência do consumo diário aumentou significativamente a probabilidade de detecção desses biomarcadores.

Pesquisadores alertam que, assim como a exposição passiva ao tabaco, o contato com a fumaça da cannabis pode representar riscos à saúde infantil. Compostos químicos tóxicos e cancerígenos presentes na fumaça podem impactar o desenvolvimento respiratório e neurológico das crianças.

Dr. André detalhou que “dentro dos efeitos imediatos, estão a irritação dos olhos, nariz, boca, tosse, coriza, dor de cabeça e, dentro dos efeitos a longo prazo, o surgimento de rinites, alergias, otites, laringites, amidalites, bronquites, pneumonia, doenças cardíacas, e o tabagismo passivo também pode afetar o desenvolvimento cognitivo das crianças”.

 

Recomendações para reduzir a exposição

 

Especialistas sugerem que limitar o uso de cannabis em ambientes fechados pode reduzir consideravelmente a exposição infantil a essas substâncias nocivas. Medidas como o consumo em áreas externas e a ventilação adequada dos espaços são recomendadas para minimizar os impactos.

“Intensifico aqui a importância de nós, pediatras, abordarmos verbalmente o tema em nossas consultas de rotina e, sempre que possível, executar ações mais efetivas, sugerindo tratamento para cessação ou encaminhamento do fumante para serviços especializados”, recomendou André.