Padre Ticão ganha mural de 420 m² e CEU com seu nome na Zona Leste de SP
Obra de Rafael Roque eterniza o líder comunitário e defensor da cannabis medicinal em Ermelino Matarazzo, onde ele construiu sua trajetória
Publicada em 13/10/2025

Novo Centro Educacional Unificado (CEU) de Ermelino Matarazzo agora leva o nome do Padre Ticção. Imagem: Natan Carrara
Padre Antônio Luiz Marchioni, carinhosamente conhecido como Padre Ticão, foi homenageado com duas marcas permanentes no coração da Zona Leste de São Paulo. O novo Centro Educacional Unificado (CEU) de Ermelino Matarazzo agora leva o nome do representantes da causa canábica e exibe um mural de 420 m² com seu retrato.

A obra foi assinada pelo artista Rafael Roque, referência nacional na arte urbana ligada à pauta da cannabis medicinal.
O mural, viabilizado com apoio da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, celebra a trajetória de um líder que rompeu barreiras ao se posicionar a favor do uso medicinal da cannabis. A pintura foi inspirada em uma fotografia do repórter Fernando Moraes.
“Padre Ticão foi um farol para muitas famílias que ainda hoje enfrentam preconceito e criminalização. Ele trouxe luz onde havia medo. Fazer essa pintura foi um ato de gratidão e resistência”, afirma Rafael Roque, autor do mural.
Com 20 metros de altura, a obra retrata casas populares, representando sua luta por moradia; uma pomba branca, símbolo de sua espiritualidade; e um pôr do sol, metáfora da esperança que cultivava.
Além do retrato realista, o mural contou com a participação dos artistas Lukin e Gom. O trio usou cerca de 100 litros de tinta.
CEU Padre Ticão: educação e transformação
Localizado no bairro onde Padre Ticão construiu sua trajetória de fé e justiça social, o CEU nasce como um espaço de educação, cultura e memória viva. O centro pode receber até 7 mil pessoas por dia.
A estrutura conta com biblioteca, cineteatro, piscina, quadra, pista de skate, estúdio de gravação e salas de aulas artísticas, além de estar interligado a uma Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF).
A luta de Padre Ticão pela cannabis medicinal

Ainda em vida, Padre Ticão organizou missas, seminários e cursos sobre o tema, acolhendo famílias e dialogando com pesquisadores para romper o silêncio que cercava a saúde alternativa nas periferias.
Em 2019, fundou um curso pioneiro sobre o cultivo e uso terapêutico da cannabis, em parceria com a UNIFESP e o MovReCan. O objetivo era ensinar de forma popular e segura, tornando a população menos dependente da “medicina de mercado”, como ele dizia.
A atuação do padre provocou reações, inclusive dentro da Igreja, mas ele seguiu firme. Hoje, mais de 100 mil pessoas já participaram dos cursos iniciados por ele, e a meta é alcançar mais 20 mil alunos ainda este ano.
O artista Rafael Roque desabafa sobre os limites impostos na obra. “Infelizmente, nesse trabalho eu não pude retratar a cannabis, que fez parte da vida e da luta do Padre Ticão. O silêncio forçado só reforça a urgência de continuarmos falando dela, assim como ele sempre fez”.
Ticão faleceu em 1º de janeiro de 2021, aos 68 anos, mas seu legado segue vivo, agora estampado na fachada de um centro público que leva seu nome e sua história adiante.