Saiba o potencial do canabidiol (CBD) no controle do diabetes
Pesquisas mostram que compostos da cannabis, como o CBD e a THCV, podem ajudar no controle glicêmico, na resistência à insulina e no alívio da dor neuropática em pacientes com diabetes
Publicada em 23/07/2025

Imagem ilustrativa: Canva Pro
O diabetes é uma doença crônica caracterizada por níveis elevados de glicose no sangue. A condição ocorre quando o organismo deixa de produzir ou utilizar corretamente a insulina, hormônio fundamental produzido pelo pâncreas para controlar os níveis de açúcar após a ingestão de alimentos. Sem esse equilíbrio, a glicose em excesso na corrente sanguínea pode ser tóxica.
Entre os tipos mais comuns da doença estão o diabetes tipo 1, tipo 2, gestacional e a pré-diabetes. Com o crescimento das pesquisas sobre terapias alternativas, cientistas vêm investigando o papel de compostos da cannabis, especialmente o canabidiol (CBD), no tratamento de doenças metabólicas.
Um estudo pioneiro de 2006, conduzido por Raphael Mechoulam — referência mundial em pesquisas com cannabis — na Universidade Hebraica de Jerusalém, demonstrou resultados promissores. Publicado em plataformas como ResearchGate e PubMed, o trabalho intitulado “Canabidiol reduz a incidência de diabetes em camundongos diabéticos não obesos” revelou que o CBD reduziu significativamente a incidência da doença: de 86% em camundongos tratados com placebo para apenas 30% naqueles que receberam o canabinoide.
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Outro artigo, publicado pela Revista Mexicana de Medicina Forense em 2019, também aponta que o CBD pode colaborar para o equilíbrio metabólico. Segundo a publicação, o sistema endocanabinoide, junto ao sistema endócrino, atua na regulação da energia corporal. Quando desregulado, pode contribuir para disfunções como dislipidemia, obesidade e diabetes tipo 2. Nesse contexto, o CBD — em doses controladas e prescritas por um profissional — se destaca por suas propriedades anti-inflamatórias, auxiliando no controle da doença.
Estudos indicam que o CBD pode influenciar positivamente o controle glicêmico. Em um ensaio clínico duplo-cego conduzido por Jadoon et al. (2016) com pacientes com diabetes tipo 2, observou-se que o CBD reduziu a resistência à insulina e aumentou os níveis do peptídeo insulinotrópico dependente de glicose. Outro canabinoide, a THCV, demonstrou reduzir significativamente a glicose em jejum e melhorar a função das células beta pancreáticas e a sensibilidade à insulina.
A dor crônica — especialmente a neuropatia periférica diabética — também pode ser beneficiada pela cannabis medicinal. Um estudo com 800 pacientes com dor neuropática refratária mostrou que a combinação THC:CBD trouxe alívio significativo, sobretudo em quadros de dor com sinais neurológicos. Já pacientes com dor nociceptiva apresentaram menor resposta e altas taxas de abandono do tratamento.
Outro experimento com ratos diabéticos demonstrou que o CBD reduziu a alodinia mecânica (sensibilidade exagerada à dor) por meio da ativação do receptor 5-HT1A, ligado à serotonina, e não pelos tradicionais receptores CB1 e CB2 — o que amplia o entendimento sobre o potencial terapêutico do CBD.
O papel do sistema endocanabinoide no metabolismo
O sistema endocanabinoide (SEC) exerce um papel fundamental na regulação do metabolismo energético, comportamento alimentar, secreção de insulina e homeostase glicêmica. Ele é composto pelos receptores CB1 e CB2, moléculas como a anandamida (AEA) e o 2-AG, além de enzimas responsáveis por sua regulação.
A ativação dos receptores CB1, principalmente no sistema nervoso central, estimula o apetite e o armazenamento de gordura. No entanto, sua hiperativação em tecidos periféricos como fígado e tecido adiposo está relacionada ao aumento da lipogênese, resistência insulínica e desenvolvimento de diabetes tipo 2. Estudos mostram que pacientes com distúrbios metabólicos apresentam um SEC desregulado, tornando-o um alvo terapêutico promissor.
No pâncreas, o SEC regula a liberação de insulina pelas células β. Já no tecido adiposo, influencia a sensibilidade à insulina e processos como a adipogênese e a termogênese. No fígado, sua desregulação contribui para acúmulo de gordura e esteatose hepática — condições intimamente ligadas à resistência à insulina.