Tratamento com psicodélicos pode combater vício em álcool, tabaco e opioides, aponta revisão

Estudo analisa eficácia de psicodélicos no tratamento de transtornos por uso de substâncias como álcool, tabaco e opioides.

Publicada em 11/03/2025

Tratamento com psicodélicos pode combater vício em álcool, tabaco e opioides, aponta revisão

Uma revisão sistemática de estudos sobre tratamentos assistidos por psicodélicos, feita por ingleses e publicada este ano no periódico Addiction, apresenta avanços promissores para o tratamento de transtornos por uso de substâncias (TUS), incluindo transtornos relacionados ao álcool, tabaco e outras drogas. A pesquisa analisa diversos psicodélicos, como psilocibina, cetamina e LSD, destacando a eficácia do tratamento assistido para ajudar na redução de sintomas como desejo por substâncias, recaídas e aumento da remissão.

 

Análise dos Resultados

 

A revisão, que incluiu 37 estudos e 2.035 participantes, envolveu substâncias como psilocibina, cetamina e LSD, mostrando a eficácia do tratamento psicodélico em fases iniciais para transtornos de uso de álcool e tabaco. Embora a maioria dos estudos tenha sido de fase 2, com um número limitado de participantes, a psilocibina se destacou como a substância com maior evidência de eficácia, especialmente para transtornos relacionados ao álcool. A cetamina também mostrou resultados positivos, principalmente em pacientes com transtornos por uso de substâncias como cannabis, cocaína e opioides. Além disso, o LSD, embora tenha sido utilizado em 14 estudos, teve resultados mais variados, sugerindo a necessidade de mais investigações para determinar sua real eficácia.

Outro dado relevante foi a análise de diferentes tipos de psicodélicos. A pesquisa incluiu tanto os clássicos — como LSD, mescalina, psilocibina e ayahuasca — quanto os não clássicos, como cetamina, ibogaína e MDMA. Cada um desses psicodélicos apresentou efeitos distintos no tratamento dos transtornos, mas a psilocibina e a cetamina se mostraram mais eficazes em reduzir os sintomas do transtorno por uso de substâncias. A psilocibina, por exemplo, obteve resultados significativos em um ensaio clínico de fase 2 focado no transtorno por uso de álcool, enquanto a cetamina demonstrou boa eficácia no tratamento de transtornos como os relacionados ao uso de cannabis e cocaína.

 

Riscos e Limitações

 

Os estudos analisados não relataram eventos adversos graves, o que sugere que os tratamentos assistidos por psicodélicos podem ser relativamente seguros quando conduzidos de maneira controlada. No entanto, a revisão aponta a necessidade de mais pesquisas sobre a segurança desses tratamentos, incluindo a monitoração de possíveis efeitos colaterais a longo prazo e a análise de grupos específicos de pacientes que possam não responder bem a esses tratamentos. Além disso, destaca a importância de rastrear características individuais que possam contraindicar o uso de psicodélicos, como histórico médico ou predisposições genéticas, a fim de oferecer tratamentos mais personalizados.

A pesquisa também enfatiza a necessidade de aprimorar os desenhos dos estudos para garantir resultados mais confiáveis. Muitos dos estudos revisados foram realizados com uma amostra pequena de participantes, o que pode afetar a generalização dos resultados. A revisão sugere que futuros ensaios clínicos randomizados (RCTs) sejam conduzidos em maior escala, com grupos de controle mais robustos, para validar os achados iniciais. Além disso, é recomendado que se busque mitigar o viés nos estudos, especialmente nos que envolvem cegamento dos participantes e dos pesquisadores, para que os resultados sejam o mais imparciais possível.

 

Conclusões e Recomendações

 

A pesquisa conclui que tratamentos assistidos por psilocibina e cetamina apresentam as melhores perspectivas para o tratamento de TUS, mas enfatiza a necessidade de mais estudos para confirmar esses achados. Os pesquisadores alertam que o uso de psicodélicos deve ser monitorado de perto, especialmente em pacientes com transtornos psiquiátricos ou outros problemas de saúde que possam ser agravados pelo uso dessas substâncias. Além disso, a revisão recomenda que, para garantir a consistência e a qualidade das evidências, futuras pesquisas adotem metodologias mais padronizadas e construam um "Core Outcome Set" — um conjunto de resultados principais — para facilitar comparações entre os diferentes estudos sobre tratamentos psicodélicos.

A revisão também destaca a importância de focar na segurança dos tratamentos, com a inclusão de relatórios completos sobre qualquer evento adverso. É fundamental que os pesquisadores e profissionais de saúde estejam atentos a sinais de efeitos colaterais, mesmo que leves, para ajustar o tratamento quando necessário. Pesquisas futuras devem ser ainda mais rigorosas na coleta de dados sobre os efeitos a longo prazo do uso de psicodélicos, especialmente em populações com histórico de uso prolongado de substâncias.

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