Aurora Cannabis é processada por omitir risco de síndrome grave ligada ao uso de THC
Ação coletiva acusa a Aurora de negligência por não alertar consumidores sobre a Síndrome de Hiperêmese Canabinoide (CHS), associada ao uso regular de cannabis com alto teor de THC.
Publicada em 19/06/2025

Imagem ilustrativa: CanvaPro
Uma ação coletiva nacional foi movida contra a Aurora Cannabis no Canadá, alegando que a empresa negligenciou o dever de alertar consumidores sobre o risco de desenvolver a Síndrome de Hiperêmese Canabinoide (CHS) — condição associada ao uso prolongado de cannabis com alto teor de THC.
Segundo a jornalista Sarah Sinclair, do portal Cannabis Health News, o Tribunal Superior de Justiça de Ontário certificou, em 14 de maio de 2025, uma ação coletiva contra as empresas Aurora Cannabis Inc. e Aurora Cannabis Enterprises Inc.. A acusação sustenta que a fabricante falhou em fornecer avisos sobre o risco de CHS, mesmo com evidências científicas disponíveis desde 2004.
O que é CHS e por que ela preocupa?
A CHS é caracterizada por episódios cíclicos de náuseas, vômitos severos e dores abdominais, que podem durar dias e ocorrer com frequência alarmante — em alguns casos, até uma vez a cada cinco minutos. A única forma eficaz de tratamento relatada até o momento é a interrupção total do uso da cannabis.
Embora ainda pouco diagnosticada, a CHS já foi tema de alerta do Cirurgião-Geral dos EUA em 2021, de acordo com a publicação do Cannabis Health News. Estudos indicam uma prevalência crescente: de 350 mil casos documentados nos EUA até estimativas extrapoladas de 2,75 milhões com base em dados hospitalares de Nova York.
Quem move a ação contra a Aurora
A ação é liderada por VT, veterana das Forças Armadas do Canadá que recebeu prescrição médica para uso de cannabis da Aurora. Após dois episódios graves de náusea e hospitalização, VT foi diagnosticada com CHS. Ao cessar o uso da substância, ficou livre dos sintomas.
A advogada Margaret Waddell, do escritório Sotos Class Actions, afirma, segundo a reportagem, que entre 2014 e 2021, mais de 19 mil pessoas foram hospitalizadas com CHS apenas na província de Ontário. A estimativa total é de que cerca de 35 mil canadenses tenham sido afetados durante o período da ação, sendo 5.250 deles usuários de produtos da Aurora.
Falta de aviso, falha de mercado?
De acordo com os autores da ação, nenhum dos produtos da Aurora informava sobre o risco de CHS — nem em embalagens, bulas, nem no site institucional. Eles alegam que, como o risco já era conhecido na literatura médica, a empresa deveria ter incluído a advertência entre os possíveis efeitos adversos.
“A CHS foi identificada em periódicos científicos desde 2004”, reforça Waddell. “Nossa opinião é que os fabricantes e distribuidores deveriam ter alertado os consumidores, assim como fazem com outros efeitos adversos.”
Especialistas cobram mais educação sobre o tema
O médico Benjamin Caplan, especialista em cannabis medicinal, avalia que falta orientação para médicos e pacientes. “Para usuários diários de produtos com alto teor de THC, especialmente concentrados, a CHS é uma preocupação legítima”, disse.
Caplan defende a criação de guias diagnósticos, programas de educação médica continuada e campanhas informativas: “A disseminação do medo não ajuda — mas o silêncio também não funciona.”
Processo pode gerar precedentes no setor
Essa é considerada a primeira ação coletiva do tipo movida contra uma empresa de cannabis. Para Caplan, o caso pode representar um divisor de águas: “A cannabis está sendo submetida aos mesmos padrões legais e éticos de medicamentos e suplementos. Isso não é ruim.”
Waddell acredita que o processo pode desencadear mudanças legislativas no Canadá, incluindo a obrigatoriedade de advertências mais robustas nos produtos.
A Aurora Cannabis, por sua vez, nega todas as alegações e afirmou, por meio de nota, que não comenta litígios em andamento além das informações públicas disponibilizadas.
O texto original, intitulado "Aurora Cannabis Faces Class Action Over Lack of Warnings About Cannabinoid Hyperemesis Syndrome", foi publicado em 17 de junho de 2025 no site Cannabis Health News, por Sarah Sinclair.