Brasil pode representar dois terços das vendas de cannabis medicinal na América Latina
As vendas de produtos medicinais em oito países da América Latina podem alcançar cerca de US$153 milhões em 2024, conforme empresa de dados
Publicada em 26/09/2024

Imagem: vecteezy
"O Brasil representará mais de 50% das nossas vendas nos próximos dois a três anos", afirma Ignacio Bussy, diretor executivo do laboratório de extração GreenMed. Inicialmente focados no envio de flores secas para mercados como Europa e Austrália, produtores de países como Uruguai e Colômbia agora começam a direcionar suas atenções para mercados mais próximos, onde o mercado de cannabis medicinal está em ascensão.
De acordo com a empresa de pesquisa sobre cannabis Prohibition Partners, as vendas de produtos medicinais em oito países da América Latina podem alcançar cerca de US$153 milhões em 2024, com o Brasil representando aproximadamente dois terços desse mercado.
A GreenMed iniciou recentemente a venda de seu primeiro óleo de canabidiol (CBD) prescrito em farmácias uruguaias, e outros quatro produtos estão previstos para lançamento no primeiro semestre de 2025, segundo Bussy. Em junho, a empresa fez seu primeiro embarque comercial de APIs (ingredientes farmacêuticos ativos) para o Brasil.
País pioneiro ficando para trás
Em 2013, o Uruguai se tornou o primeiro país do mundo a legalizar a cannabis para uso recreativo, medicinal e industrial. No entanto, uma década depois, sua indústria, que prometia gerar milhares de empregos e exportações de US$1 bilhão, não atingiu os resultados esperados.
Nos últimos 18 meses, grandes produtores e prestadores de serviços de cannabis no Uruguai, como Pharmin, Global Cannabis Holdings e Boreal, encerraram suas operações. A farmacêutica MedicPlast também abandonou o setor. Além disso, a canadense Aurora Cannabis planeja fechar suas atividades no Uruguai até o final de setembro, de acordo com um porta-voz da empresa.
Frank Roman, diretor executivo da produtora de cannabis Burey, aponta a burocracia e o longo tempo para obter licenças de exportação como os principais entraves. A empresa inaugurou sua estufa no final de 2019, mas só conseguiu entregar seu primeiro óleo de cannabis ao mercado brasileiro no ano passado, após enfrentar um processo demorado de licenciamento.
"Uma empresa de cannabis que começa do zero no Uruguai levará de três a quatro anos para começar a vender, e isso é mortal. As empresas não sobrevivem sem um forte suporte", ressalta Roman.
O Uruguai também prejudicou seus produtores ao exigir produtos de qualidade farmacêutica, enquanto fechou as portas para suplementos nutricionais menos regulados, que seriam mais rápidos e fáceis de produzir, segundo Bussy. As exportações de cannabis medicinal totalizaram menos de US$30 milhões desde 2018.
Sinal de alerta
No início de 2024, a Pharmin, uma empresa de cannabis com sede no Uruguai, encerrou abruptamente suas atividades, deixando cerca de 65 funcionários sem suas indenizações e resultando no leilão de suas instalações e equipamentos por valores extremamente baixos.
Com capacidade de produção de uma tonelada mensal de flores secas e localizada em uma propriedade de 2,3 hectares, a empresa prometia ser um dos pilares da indústria na América Latina. No entanto, seus responsáveis desapareceram, e um leilão judicial vendeu suas estufas, tecnologias e laboratórios por apenas US$335 mil, aproximadamente 3,5% do valor original da empresa, que era estimado em US$9,5 milhões.
Para Germán González, dirigente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais e Agroindustriais do Uruguai (UTRAU), o caso Pharmin é um alerta para o futuro da cannabis no país. "Esse não é um caso isolado. Outras empresas, como a Boreal, também enfrentam dificuldades financeiras e processos de liquidação polêmicos. No entanto, o súbito desaparecimento da Pharmin e a liquidação de seus ativos por valores muito abaixo do mercado são um sinal de alerta para o futuro da indústria no Uruguai", conclui González.
Com informações de Bloomberg