Brasil: um mercado estratégico e em crescimento no setor de cannabis medicinal

O Brasil desponta como um dos mercados mais promissores para a cannabis medicinal, atraindo investidores globais e impulsionando a inovação no setor

Publicada em 27/12/2024

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Imagem: Canva Pro

O Brasil está se consolidando como um ponto estratégico no mercado global de cannabis medicinal, atraindo o interesse de investidores e empresas ao redor do mundo. Fatores como uma grande população, demanda crescente, regulação em desenvolvimento e posição geopolítica colocam o país no radar de especialistas e empreendedores. Além disso, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) faz com que o país se destaque no cenário mundial com uma das regulamentações mais avançadas no uso medicinal da cannabis. 

Com mais de 200 milhões de habitantes, o Brasil é um dos maiores mercados potenciais do mundo. Em 2024, o setor movimentou R$ 853 milhões e alcançou 672 mil pacientes, cobrindo mais de 80% dos municípios brasileiros, conforme o 3º Anuário da Cannabis Medicinal no Brasil.

O aumento da conscientização sobre os benefícios terapêuticos da cannabis, aliado ao crescimento das prescrições, reforça essa tendência. "O Brasil tornou-se um mercado estratégico pela liberdade médico-paciente ser respeitada", explica Joaquim Castro, economista e CEO da Clínica Gravital.

Segundo Joaquim, o Estado concede autonomia para que médicos e pacientes escolham o produto mais indicado. Ele prevê que o mercado poderá triplicar nos próximos cinco anos, mesmo com barreiras como o tempo de espera e alto custo de produtos e restrições à importação de flores de cannabis.

O aumento no número de prescritores é outro bom indicativo para o mercado. Em 2024, segundo a Close-Up, foram 288 mil prescrições realizadas, com cerca de 48 mil médicos prescrevendo cannabis — um aumento de 54% em relação ao ano anterior.

 

Regulamentação e desafios

 

Um dos grandes avanços em termos de política de acesso à terapia canabinoide é a RDC 660 da Anvisa que permite a importação e comercialização de produtos à base de cannabis. Conforme dados da Agencia Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), 601 empresas comercializam 601 diferentes produtos por meio desta via de acesso.  

No entanto, o tempo de espera, que já foi uma barreira significativa, vem sendo reduzido graças aos avanços logísticos. Antes, os pacientes chegavam a aguardar mais de 30 dias para receber seus produtos, hoje, esse prazo caiu para cerca de 15 dias, dependendo da empresa. 

Joaquim Castro destaca que o Brasil ainda não possui um mercado regulado para produtos de bem-estar à base de cannabis, limitando o real potencial de crescimento. A proibição da importação de flores de cannabis, desde 2023, é outro obstáculo destacado por ele.

 

O Papel do mercado farmacêutico

 

O Brasil é o sexto maior mercado farmacêutico do mundo, e a cannabis medicinal é inserida como uma solução inovadora para o tratamento de diversas condições, como epilepsia, dor crônica e transtornos de ansiedade. Em 2024, as vendas de produtos à base de cannabis, incluindo canabidiol (CBD) e tetrahidrocanabinol (THC), atingiram R$ 244 milhões, conforme a Close-Up International.

Segundo a médica Mariane Ventura, “os produtos de espectro completo, que contêm uma pequena quantidade de THC, apresentam melhor resposta clínica em casos como dor crônica, demências e cuidados paliativos”. As farmácias possuem mais de 40 diferentes produtos de cannabis com baixo teor de THC, de 23 diferentes empresas, conforme a Anvisa.


Democratização do acesso

 

A mais de 10 anos atrás, as associações de paciente são uma alternativa de aquisição dos óleos de cannabis. De acordo com o Anuário da Cannabis, o Brasil possui mais de 250 associações, que distribuem óleo para 147 mil pacientes. As vias de importação, com 313 mil pacientes, e as farmácias, com 212 mil, representam as maiores fatias do mercado.

Mesmo assim, as associações possuem o óleo de cannabis com os custos mais baixos do mercado brasileiro. Em comparação com as farmácias, o preço médio é 53% menor, e em relação aos produtos importados, a diferença chega a quase 40%. Mariane Ventura ressalta ainda a importância de políticas de acesso à cannabis por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), o que seria crucial para democratizar o uso da cannabis medicinal no Brasil.

 

Interesse Internacional e investimentos

 

Empresas de países como Canadá, Israel e Estados Unidos estão de olho no Brasil como um mercado estratégico para expandir suas operações na América Latina. No entanto, o setor de cannabis ainda enfrenta desafios para atrair grandes investimentos estrangeiros. Joaquim Castro aponta que “os investimentos são irrisórios devido ao risco regulatório”.

Heitor Bittencourt, cofundador da empresa Último Plano, complementa que o Brasil tem um grande potencial para o cultivo de cannabis devido ao clima favorável e à vasta extensão de terras agricultáveis. “Com o rearranjo da legislação, haverá um aumento significativo nas pesquisas e nos investimentos no setor”.

 

Um futuro de inovação

 

Bárbara Arranz, cofundadora da Hemp Vegan, ressalta que o mercado brasileiro, apesar dos desafios, oferece grandes oportunidades. “O Brasil reflete uma fase de construção e transformação em 2024. Apesar da burocracia, vemos uma criatividade e resiliência únicas entre empreendedores e consumidores”, destaca.

A biodiversidade brasileira também é vista como um trunfo, com o potencial de posicionar o país como líder global em inovação com cannabis e cânhamo. “A verdadeira revolução da cannabis está em conectar ciência, sustentabilidade e propósito, algo que o Brasil possui”, conclui Bárbara.