Canabinoides mostram potencial na redução da neuroinflamação pós-AVC isquêmico
Estudo revisa impacto dos canabinoides na recuperação de acidente vascular cerebral e destaca desafios clínicos
Publicada em 06/03/2025

Imagem ilustrativa: Canva.
Um estudo da Arábia Saudita publicado na Revista de Farmacologia Neuroimune em fevereiro deste ano analisou os efeitos dos canabinoides (CBs) na neuroinflamação associada ao acidente vascular cerebral (AVC) isquêmico. A revisão sistemática avaliou pesquisas pré-clínicas e destacou o potencial dos CBs na redução da inflamação e na recuperação neurológica.
O impacto da neuroinflamação no AVC isquêmico
O AVC isquêmico ocorre quando há uma obstrução arterial, interrompendo o fluxo sanguíneo para o cérebro e levando à morte celular. A neuroinflamação subsequente pode intensificar os danos neuronais, mas também desempenha um papel na reparação tecidual.
A revisão destaca que a ativação dos receptores canabinoides, especialmente o CB2, pode modular essa resposta inflamatória, promovendo a neuroproteção.
Evidências pré-clínicas e desafios da tradução clínica
Os pesquisadores analisaram 38 estudos experimentais que investigaram a ação dos CBs em modelos animais de AVC. Os resultados indicam que os canabinoides reduziram a inflamação, minimizaram a morte celular e melhoraram déficits neurológicos. No entanto, a transposição desses achados para ensaios clínicos enfrenta barreiras, como os potenciais efeitos adversos dos CBs, incluindo ansiedade, déficits cognitivos e psicose.
Perspectivas para novos tratamentos
O estudo reforça a necessidade de pesquisas adicionais para definir doses seguras e eficazes de CBs em humanos. A compreensão detalhada da interação entre canabinoides e neuroinflamação pode viabilizar novas abordagens terapêuticas para minimizar danos secundários e melhorar a recuperação pós-AVC.
Com o AVC sendo uma das principais causas de incapacidade no mundo, avanços nesse campo podem representar um impacto significativo na saúde global.
Papel da microglia e astrócitos na resposta inflamatória
A revisão destacou que células do sistema nervoso, como microglia e astrócitos, desempenham um papel central na regulação da neuroinflamação após um AVC. Em resposta à isquemia, a microglia pode assumir um perfil inflamatório (M1), liberando mediadores como interleucina-1 beta (IL-1β), interleucina-6 (IL-6) e fator de necrose tumoral alfa (TNF-α), agravando os danos. No entanto, em fases posteriores, a microglia pode mudar para um perfil anti-inflamatório (M2), promovendo a reparação dos tecidos cerebrais danificados.
Desafios da aplicação clínica dos canabinoides
Apesar das evidências promissoras, a aplicação clínica dos CBs ainda enfrenta desafios. Estudos indicam que a ativação do receptor CB1 pode estar associada a efeitos colaterais, como alterações cognitivas e transtornos psiquiátricos, enquanto o receptor CB2 parece ser um alvo mais seguro para terapias anti-inflamatórias. Além disso, os modelos experimentais de AVC precisam se aproximar mais das condições clínicas humanas, incluindo a consideração de fatores como idade, comorbidades e variações individuais na resposta ao tratamento.
Importância da fisioterapia na recuperação pós-AVC
Outro aspecto enfatizado pelos pesquisadores é a necessidade de integrar intervenções farmacológicas com estratégias de reabilitação, como a fisioterapia. Métodos de recuperação motora e cognitiva são fundamentais para potencializar os efeitos dos CBs e melhorar os resultados clínicos. Estudos futuros devem explorar abordagens combinadas que unam tratamentos neuroprotetores a terapias reabilitadoras, garantindo um suporte mais amplo à recuperação dos pacientes.
Limitações da revisão e direções futuras
A revisão apresentou algumas limitações, incluindo a exclusão de estudos anteriores a 2012 e a grande heterogeneidade dos modelos experimentais analisados. Além disso, a ausência de ensaios clínicos robustos dificulta a generalização dos achados para a prática médica. No entanto, os pesquisadores reforçam que os CBs representam uma área promissora na busca por terapias eficazes para o AVC isquêmico, justificando novos estudos para esclarecer sua eficácia e segurança em humanos.