Conheça Flora, a cachorrinha que superou convulsões com a ajuda da cannabis

Extrato de cannabis alivia efeitos colaterais do Gardenal e garante qualidade de vida à filhote de beagle

Publicada em 13/03/2025

Conheça Flora, a cachorrinha que superou convulsões com ajuda da cannabis
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Flora interrompendo a bagunça na piscina de bolinha para tirar uma selfie.

Flora é uma cachorra muito fofa, da raça beagle, que vive em Bagé, Rio Grande do Sul. Jovenzinha, tem três anos de idade e sofreu sua primeira convulsão quando tinha apenas um ano. Para Renata, a dedicada tutora, assim como para toda a sua família, foi um momento doloroso e com novos desafios. Felizmente, no futuro próximo, a Ma. Neide Griebeler, médica veterinária prescritora de cannabis, chegaria para mudar o destino das duas.

 

Quatro patas e um coração puro

 

 

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Flora com a cabeça apoiada em Fiona.

Flora é uma criançona. Ela adora nadar, relaxar na piscina de bolinha e brincar com seus amigos caninos. Sua melhor amiga é a inseparável Fiona, outra beagle da casa. E as duas best friends forever (BFFs) têm até Instagram!

Flora é a que tem o focinho rosado e, segundo Renata, “é muito intensa. Ela é uma cachorrinha muito especial, é carinhosa, é dada, é simpática. Na rua, quer brincar com todos os cachorros que passam”. Se deixar, brinca o dia todo, já que “está sempre disposta, é muito feliz”.

Flora, porém, também é muito agitada, ansiosa, e sua euforia é tamanha que ela passa mal, já tendo convulsionado algumas vezes. Essas convulsões são “normalmente despertadas pelo estado emocional dela. Ela não lida bem com as emoções”, explica Renata. “Acho que tem um pouco de ansiedade também, mas o que desperta mesmo é a euforia.”

A tutora conta, por exemplo, que, “se chegava uma visita na minha casa, e ela gostava muito daquela pessoa, ela convulsionava. Se chegava um cachorrinho para brincar com ela, que a deixava muito feliz, ela convulsionava”. Já Fiona, a de focinho preto, é mais calma: “a outra beagle não convulsiona, mas é emocionalmente mais estável, sabe? A Flora, tudo que ela vai fazer é muito intenso!”

 

Vieram as crises convulsivas

 

Com apenas um ano de idade, veio a primeira convulsão. “Ela perdeu o controle do corpo, perdeu o controle das patas. Ficou com a pupila dilatada, ficou babando muito”. Não bastasse esse instante mais agudo, “a cada vez que ela tinha convulsão, até começar esse tratamento com a doutora Neide, ela ficava mais ou menos 24 horas meio fora do ar, e gritava que nem algumas crianças com deficiência”.

 

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Flora sob efeito apenas do Gardenal; "dopada".

Correndo atrás de soluções para essas crises convulsivas, a primeira prescrição recebida por Renata foi o Gardenal. Ele foi eficaz contra as convulsões, mas Flora perdeu a alegria que tinha antes de convulsionar e adquiriu outra personalidade, agora apática, menos brincalhona. Isso era efeito colateral do medicamento. A busca por melhores terapias continuou, e logo Renata se deparou com as propriedades anticonvulsivantes da cannabis.

A vida da tutora e da cachorra, nesse período, “estava superlimitada. Eu não podia enfrentar nenhuma situação em que ela ficasse muito feliz, porque ela ficava muito eufórica e aquilo provocava a convulsão”. Renata confessa que “foi muito difícil até a Flora começar a ser tratada com a Dra Neide. Agora ainda é, mas eu aprendi a conhecer as emoções dela”. “A partir de julho, quando eu conheci a doutora Neide, ela só teve uma convulsão, mas nem perto das outras que ela já tinha tido quando fazia o outro tratamento. Foi muito leve essa última, ela só ficou um pouco mais molinha, mas a pupila não dilatou, ela não cerrou a boca, foi outra coisa. E foi muito rápida, as outras eram mais demoradas.”

Hoje a situação é melhor: ambas vivem mais tranquilas. As crises de Flora cessaram, e ela recuperou a vivacidade, voltando a brincar, trazendo de volta, por consequência, a paz de Renata. Esses dias, durante o Carnaval, Flora foi até mesmo para a praia. “Aproveitando a vida depois do cannabis, porque, quando ela usava só o Gardenal, ela passava sempre como se estivesse dopada”, contou-nos Renata.

 

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Fiona, Renata e Flora na praia.

Levá-la à praia, é claro, fazia parte dos cuidados terapêuticos com a pequena: “ir para a praia melhora muito as emoções dela. Ela descarrega as energias e fica estável emocionalmente. Ela gosta muito de água, tanto piscina como mar”, relatou a tutora, que ainda identificou uma curiosidade no meio dessa tormenta toda: as convulsões só aconteceram no inverno. “No verão, nunca teve”, ela nos revelou.

 

Tratamento com cannabis e interação com o Gardenal

 

Segundo Renata, Flora "começou a usar o Gardenal, mas, quando ela começou a usar o Gardenal, eu vi que mudou muito a personalidade dela, porque ela ficou muito sonolenta, dormia muito, não brincava”. Rapidamente, a família percebeu os efeitos colaterais deletérios que se manifestavam: “era outra cachorra. Não convulsionava, mas era uma outra cachorrinha”.

O uso do Gardenal, sob prescrição de um veterinário, começou na mesma época da segunda convulsão. “Não me recordo bem quando foi, mas, se eu não me engano, a diferença da primeira para a segunda foi de uns dois meses”. Pouco tempo depois, Renata encontrou uma veterinária que trabalhava com cannabis. Essa primeira tentativa, entretanto, não deu muito certo.

 

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Neide Griebeler é médica veterinária, prescritora de cannabis e mestra em Ciências.

Foi tentado um desmame do Gardenal, mas as crises convulsivas continuavam acontecendo. Segundo a dra Neide, a atual veterinária do caso, quando Flora chegou a ela, “tomava dois extratos de cannabis: um de CBD [canabidiol] e um high THC [tetraidrocanabinol]”. Na época das enchentes históricas que abalaram o Rio Grande do Sul, Renata conta que esses extratos de cannabis de então ficaram em falta, e a situação piorou: “não tinha como chegar, e daí ela começou a ter uma convulsão em seguida da outra.”

Foi em julho de 2024 que Renata conheceu a doutora Neide, por intermédio de um primo veterinário conterrâneo da médica veterinária. “Desde então, a Flora tem outra qualidade de vida. Ela brinca, está ainda em desmame do Gardenal, sim, mas brinca, aproveita a vida. É uma cachorrinha normal, o que ela não era mais”.

Atualmente, a adorável beagle de focinho rosa toma, por dia, três doses de extrato de cannabis, do tipo full spectrum, ou seja, o extrato que contém “todo o espectro” de canabinoides presentes na planta. Como a cannabis tem fortes propriedades anticonvulsivantes, o desmame do Gardenal ainda está em processo, “porque às vezes acontecem coisas fora do planejado, fora da rotina, que desestabilizam ela, e precisamos segurar um pouco a dose do Gardenal”, expõe Renata. Veja o vídeo da Dra Neide comentando o caso:

 

 

“Mas o cannabis é que é o grande diferencial no tratamento dela, porque hoje ela tem a mesma personalidade que tinha antes de convulsionar”, enfatiza. Indo além, a tutora expressa que a cachorra “não podia ficar praticamente sem viver. Quando usava o Gardenal, ela aproveitava menos a vida, passando todo o dia como se estivesse dopada”. E ainda acrescenta: “outra coisa muito importante, o cannabis ajuda ela a ter melhor qualidade de sono à noite. Ela dormia pouco, e eu também”.

 

Renata, exemplo de tutora

 

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Flora e Renata na piscina.

Não é só a vida do animal que se transforma com a doença, a vida da tutora se transforma junto. O sono de Renata, por exemplo, ficou comprometido, assim como viagens, mudanças de rotina e recebimento de visitas. “Se ela está mais instável, eu não posso sair de casa nem deixar com outra pessoa, porque nem todo mundo anima ficar com ela, né, por causa das crises. Agora ela não tem mais, mas, antes, como ela tinha, eu tinha dificuldade de achar quem quisesse ficar com ela para eu poder sair. Até hoje, sozinha eu não a deixo. Nem ela, nem a outra, sozinhas não”, relatou.

Atenta e proativa, porém, Renata assume a responsabilidade e toma diversas atitudes que costuram uma rede de cuidados terapêuticos em torno de sua mascote. Uma dessas atitudes foi impedir, provisoriamente, que Flora brincasse com outros cachorros, como com duas cachorras vizinhas. “Por um tempo, tive que cortar as brincadeiras, para não agitá-la. Isso era muito triste, porque eu tinha que retirar uma coisa de que ela gostava, só para ela não chegar na euforia”, desabafou a leal tutora.

Ela toma tal postura por entender que é melhor não se limitar aos medicamentos: “o cannabis, eu acho, é uma terapia fantástica! Mas a pessoa tem que entender, né?! A pessoa tem que entender para prescrever, e o tutor do animal, no caso, tem que ter domínio do animal também, tem que conhecer o animal, porque não é uma terapia que tu só dá e pronto, dá aquela dose ali e deu. Tu tem que ir conhecendo o animal, tem que ir manejando. Eu tenho que controlar ainda um pouco as emoções dela”, ponderou.

“Quando eu sei que vai vir visita, eu mudo um pouquinho a dose. Quando eu sei que eu vou viajar, eu mudo um pouquinho a dose”, exemplificou, justificando que a Flora “é uma cachorrinha diferente, a pelagem dela já é de um beagle diferente. Então, por exemplo, agora, nesse feriado de Carnaval em que a gente foi para a praia, todas as pessoas paravam para vê-la, falando ‘como ela é diferente, como ela é bonitinha’, e ela vai com todo mundo. Só que isso, de certa maneira, estressa ela”.

Por esse motivo, é preciso, além de ajustar a dose, cuidar do ambiente, para não a estressar. “Uma terapia sozinha não faz, não tem todo esse poder, porque tudo isso depende do emocional dela”, considerou. “Eu não vou a aglomerações com ela”, adiciona. Como já visto, por outro lado, ir à praia fez bem, e Flora voltou muito melhor: “ela aproveita muito! Ela pula, mergulha, pega onda, faz de tudo!”

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Flora usando bandana.

“Como a doutora Neide mesmo diz, tudo dá certo porque a terapia é fantástica, porque a Flora responde bem e porque eu tenho uma responsabilidade sobre isso, né?!”, reconhece. E reforça: “o horário de dar remédio é o horário de dar remédio. Se não dá para ir para algum lugar viajar, porque ela vai se agitar muito, eu não vou. Eu acompanho a qualidade de vida dela porque nossa qualidade de vida é igual. Se ela está indo bem, eu consigo viver melhor também.”

“Hoje eu consigo receber visitas em casa sem me preocupar com a emoção dela. Consigo mudar a rotina, consigo viajar”, celebra Renata. Antes, “tudo que para a Flora era novo, tudo que saía da rotina a desestabilizava muito emocionalmente”.