Falta de testes confiáveis para motoristas sob efeito de cannabis preocupa especialistas nos EUA

Com legalização crescente, autoridades e pesquisadores pedem métodos científicos para avaliar condutores e garantir a segurança viária

Publicada em 25/07/2025

Falta de testes confiáveis para motoristas sob efeito de cannabis preocupa especialistas nos EUA

Estudos demonstram que não há correlação precisa entre a quantidade de THC no sangue e a capacidade de dirigir, levantando dúvidas sobre os métodos utilizados atualmente. Imagem: Canva Pro

À medida que a cannabis se torna legal em um número crescente de estados dos Estados Unidos, especialistas em segurança pública têm expressado preocupação com a ausência de ferramentas eficazes para identificar motoristas sob efeito de cannabis.

Diferente do álcool, que pode ser detectado por meio de um bafômetro, a cannabis é metabolizada de forma distinta. O tetrahidrocanabinol (THC) permanece no corpo por dias — ou até semanas — mesmo após cessarem os efeitos psicoativos, dificultando a avaliação da deficiência real durante a direção.

Estudos demonstram que não há correlação precisa entre a quantidade de THC no sangue e a capacidade de dirigir, levantando dúvidas sobre os métodos utilizados atualmente.

 

Ciência policial ou ferramenta confiável?


Nos Estados Unidos, policiais contam com especialistas em reconhecimento de drogas, conhecidos como DREs (Drug Recognition Experts), que aplicam protocolos para avaliar motoristas suspeitos de uso de substâncias.

Essa análise envolve testes físicos, como coordenação motora, sinais vitais, tônus muscular e movimentos oculares. A intenção é determinar, com base nesses sinais, se o condutor é um dos motoristas sob efeito de cannabis ou de outra substância.

Entretanto, segundo William J. McNichol, professor de Direito da Universidade Rutgers, o protocolo DRE não é apoiado por evidências científicas robustas.

Em editorial publicado no Journal of Studies on Alcohol and Drugs, McNichol classifica o método como produto da “ciência policial” — técnicas criadas por e para policiais, sem validação empírica clara.

"As chances de acerto dos DREs podem ser tão baixas quanto um jogo de cara ou coroa", afirmou ao Cannabis Health.

 

O modelo se expande para o ambiente de trabalho


Além das ruas, uma versão adaptada da abordagem DRE vem sendo implementada em ambientes corporativos: os WIREs (Workplace Impairment Recognition Experts).

Esses profissionais são treinados para detectar sinais de deficiência causada por drogas no ambiente de trabalho. Embora o objetivo seja a prevenção, McNichol alerta para os riscos de diagnósticos imprecisos também nesse contexto.

A expansão do modelo sem evidências científicas confiáveis aumenta a urgência de métodos realmente eficazes, sobretudo com o crescimento do número de motoristas sob efeito de cannabis nas vias públicas.

 

Pesquisadores defendem colaboração entre ciência e polícia


Um comentário adicional no Journal of Studies on Alcohol and Drugs, assinado por Thomas D. Marcotte, Ph.D., e Robert L. Fitzgerald, Ph.D., da Universidade da Califórnia em San Diego, reforça o apelo por validação científica.

Os especialistas argumentam que é essencial desenvolver tecnologias imparciais e precisas para detectar motoristas sob efeito de cannabis, preservando tanto a segurança pública quanto os direitos individuais.

Entre as propostas estão:

- Desenvolvimento de biomarcadores e sensores de bordo;

- Avaliações psicomotoras padronizadas;

- Transparência nos testes de validação;

- Colaboração entre toxicologistas e forças policiais.

- Os autores também sugerem que o financiamento dessas pesquisas seja proveniente da receita tributária da venda legal de cannabis.

 

Com informações de Cannabis Health